Vivemos a base de imagens criadas pela mente
autoconhecimento

Vivemos a base de imagens criadas pela mente


PERGUNTA: Para que termine a formação de imagens, também deve cessar o pensamento? Um não implica necessariamente o outro? O final da formação das imagens é realmente a base sobre a qual se pode descobrir o que são o amor e a verdade? Ou esse final é a essência mesma da verdade e do amor?

KRISHNAMURTI: Vivemos a base de imagens criadas pela mente, pelo pensamento. Continuamente ajuntamos e eliminamos imagens. Você tem sua própria imagem a respeito de si mesmo; se você é um escritor, tem uma imagem de si mesmo como escritor, se é marido ou esposa, cada qual tem criado uma imagem de si mesmo ou de si mesma. Isto começa desde a infância, por causa da comparação, da sugestão, quando lhe dizem que você não é tão bom como o outro menino, ou que deve fazer tal coisa, ou que não deve fazê-la; assim, gradualmente, este processo se acumula. E, em nossas relações, pessoais ou de outro tipo, sempre há uma imagem. E esta imagem impede completamente que haja uma relação verdadeira com o outro.

Bem, agora, o interlocutor

PERGUNTA: Isto pode terminar alguma vez, ou é algo com o que temos que viver perpetuamente? E também pergunta: No termino mesmo dessa imagem, chega ao seu fim o pensamento? Ambas as coisas estão, a imagem e o pensamento, relacionadas entre si? Quando cessa o mecanismo pelo qual se forma a imagem, é isso a essência mesma do amor e da verdade?

Alguma vez terminaram de verdade com uma imagem, fazendo-o espontaneamente, facilmente, sem nenhuma compulsão, sem nenhum motivo? Não dizendo: “Devo terminar com a imagem que tenho de mim mesmo, assim não serei lastimado”. Tome uma imagem e examine-a; ao examiná-la descobre todo o movimento da formação de imagens. Nessa imagem começa a descobrir que existe temor, ansiedade, uma sensação de isolamento; e se sente temor, diz: “É muito melhor ficar com algo que conheço e não em algo que não conheço”. Porém, se a examina a fundo e com total seriedade, investiga quem é o fazedor da imagem, não de uma imagem, em particular, senão, de toda formação de imagens. É ele o pensamento? É essa a resposta, a reação natural para proteger-se a si mesmo física e psicologicamente? Pode-se entender que haja uma resposta natural para a proteção física: como ter alimento, roupas, um lugar onde viver, como evitar ser atropelado por um ônibus, etc. Essa é uma resposta natural, sadia, inteligente. Nela não há imagem; porém, psicologicamente, internamente temos criado esta imagem que é a conseqüência de uma série de incidentes, acidentes, ofensas, injúrias.

É esta formação psicológica de imagens o movimento do pensar? Sabemos que o pensamento não intervem, quem sabe para nada, na reação física auto-protetora. Porém, a formação psicológica das imagens é o resultado da constante falta de atenção, falta que é a essência mesma do pensamento. O pensamento é, em si mesmo, desatento. A atenção não tem um centro, não tem um ponto a partir do qual ir a outro ponto, como ocorre na concentração. Quando há atenção completa, não há movimento do pensar. Somente na mente que não está atenta surge o pensamento.

O pensamento é matéria; o pensamento é o resultado da memória; a memória é o resultado da experiência, a qual deve ser sempre limitada, parcial. A memória, o conhecimento, nunca podem ser completos, sempre parciais; portanto, neles não há atenção.

Assim pois, quando há atenção não há a formação de imagens, não há conflito; isso é um fato, veja-o. Se quando você me insulta ou me bajula, estou completamente atento, então, o insulto ou essa bajulação nada significam. Porém, no instante em que não presto atenção, o pensamento, que em si mesmo é desatento, toma a direção e cria a imagem.

O interlocutor também PERGUNTA: o final da formação de imagens, é a essência da verdade e do amor? De nenhum modo. O amor é desejo? O amor é prazer? Quase toda nossa vida tende ao prazer em diferentes formas, e quando tem lugar esse movimento de prazer, de sexo, etc., a isso chamamos amor. Pode haver amor quando há conflito, quando a mente está debilitada por problemas, o problema de Deus, o problema da meditação, dos problemas entre o homem e a mulher? Quando a mente vive submergida em problemas, como o está a maioria de nossas mentes, pode haver amor?

Pode haver amor quando há um grande sofrimento, seja fisiológico ou psicológico? É a verdade uma questão de conclusões, de opiniões, um assunto de filósofos, de teólogos, dessas pessoas que crêem tão profundamente em dogmas e rituais, que são toda criação do homem? Pode uma mente tão condicionada saber o que é a verdade? A verdade pode manifestar-se tão somente quando a mente está completamente livre de toda esta mistura. Os filósofos e outros nunca olham suas próprias vidas, se perdem em algum mundo metafísico ou psicológico a respeito do qual se colocar a escrever e publicar, e chegam a ser famosos. A verdade é algo que exige uma extraordinária claridade da mente, requer uma mente absolutamente livre de problemas físicos ou psicológicos, uma mente que não conheça o conflito. Ainda assim a recordação do conflito tem que terminar. Com a carga das recordações não podemos dar com a verdade. É impossível. A verdade somente pode manifestar-se para uma mente livre, assombrosamente livre de tudo o que tenha sido feito pelo homem.

Para mim, essas não são palavras, compreende? Se não fosse algo real, não falaria disso porque seria desonesto para comigo mesmo. Se não se tratasse de um fato, eu seria então um terrível hipócrita. Isto requer uma integridade tremenda.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Ojai, Califórnia, 13 de maio de 1980




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