Para encontrar ordem tem que buscar dentro de si mesmo. O mundo aparece só quando você nasce em um corpo. Sem corpo não há mundo. Primeiro investigue se você é o corpo. A compreensão do mundo chegará depois.
P: O que você diz soa convincente, mas para que serve à pessoa em particular, para quem sabe que está no mundo e é do mundo?
N.Maharaj: Milhões de pessoas comem pão, mas poucos conhecem tudo sobre o trigo. E só aqueles que sabem podem melhorar o pão. De modo similar, só aqueles que conhecem o Ser, que viram além do mundo, podem melhorar o mundo. O valor que eles têm para as pessoas é imenso, já que são sua única esperança de salvação. O que está no mundo não pode salvar o mundo; se realmente se interessa em ajudar o mundo, deve sair dele.
P: Mas pode alguém sair do mundo?
N.Maharaj: Quem nasceu primeiro, você ou o mundo? Enquanto der prioridade ao mundo, estará limitado por ele; uma vez que compreenda, sem o menor traço de dúvida, que o mundo está em você e não você no mundo, você está fora dele. Certamente, seu corpo permanece no mundo e do mundo, mas você não é enganado por ele. Todas as escrituras dizem que, antes que o mundo fosse, o criador era. Quem conhece o criador? Só o que existia antes do criador, seu próprio ser real, a origem de todos os mundos com seus criadores.
P: Tudo o que você diz é mantido pela sua compreensão de que o mundo é sua própria projeção. Você admite que se refere a seu próprio mundo pessoal, subjetivo, o mundo dado a você através de sua mente e seus sentidos. Nesse sentido cada um de nós vive em um mundo de sua própria projeção. Estes mundos privados dificilmente se tocam uns com os outros e surgem, e se dissolvem, no "eu sou" em seu centro. Mas, com toda certeza, por trás destes mundos privados, há de existir um mundo objetivo, comum, do qual os mundos privados são meras sombras. Nega você a existência de tal mundo objetivo, comum a todos?
N.Maharaj: A realidade não é nem objetiva nem subjetiva, nem matéria nem mente, nem tempo nem espaço. Estas divisões necessitam de alguém a quem acontecer, um centro consciente separado. Mas a realidade é tudo e nada, a totalidade e a exclusão, a plenitude e o vazio, totalmente consistente, absolutamente paradoxal. Você não pode falar sobre ela, pode apenas perder seu ser nela. Quando você nega realidade a tudo, chega a um resíduo que não pode ser negado. Toda conversa é um sinal de ignorância. É a mente que imagina que não sabe e então vem a saber. A realidade não conhece nada destas contorções. Mesmo a ideia de Deus como criador é falsa. Devo meu ser a qualquer outro ser? Por que eu sou, tudo é.
P: Como é possível? Uma criança nasce dentro do mundo, não o mundo na criança. O mundo é velho e a criança, nova.
N.Maharaj: A criança nasce dentro de seu mundo. Agora, você nasceu dentro do mundo, ou o mundo apareceu a você? Nascer significa criar um mundo ao redor de você como o centro. Mas você criou a você mesmo? Ou alguém criou você? Todos criam um mundo para si mesmo e vem nele, aprisionados pela própria ignorância. Tudo o que temos que fazer é negar realidade a nossa prisão.
P: Justamente como o estado de vigília existe no sonho em forma de semente, assim o mundo que a criança cria ao nascer existia antes de seu nascimento. Com quem repousa a semente?
N.Maharaj: Com aquele que é testemunha do nascimento e da morte, mas nem nasce nem morre. Só ele é a semente da criação assim como seu resíduo. Não peça à mente que confirme o que está além dela. A experiência direta é a única confirmação válida."