Não estamos em comunhão com coisa alguma
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Não estamos em comunhão com coisa alguma


Pergunta: Você disse que a verdade só pode surgir quando uma pessoa é capaz de estar só e amar o sofrimento. Isso não está claro. Tenha a bondade de explicar o que entende por "estar só" e "amar o sofrimento".

Krishnamurti: A maioria de nós não está em comunhão com coisa alguma. Não estamos diretamente em comunhão com nossos amigos, com nossas esposas, nossos filhos. Não estamos diretamente em comunhão com coisa alguma. Existem sempre barreiras — barreiras mentais, imaginárias e reais. E essa separação é, sem dúvida, a causa do sofrimento. Não digam "sim, já lemos isso, o sabemos verbalmente". Mas, se forem capazes de experimentar diretamente, verão que o sofrimento não pode terminar por meio de nenhum processo mental. Vocês podem achar explicações para o sofrimento, o que é um processo mental; mas o sofrimento continua existindo, embora vocês o encubram.

Assim, para compreender o sofrimento, vocês precisam, por certo, amá-lo, não é verdade? isto é, precisam estar em comunhão direta com ele. Se desejam compreender alguma coisa — seu vizinho, sua esposa, ou qualquer relação — se desejam compreender qualquer coisa de maneira completa, precisam estar perto dela. Precisam se chegar a ela sem objeção alguma, sem preconceito, condenação ou repulsa; precisam amá-la, não é verdade? Se desejo lhes compreender, não devo ter preconceitos a respeito de vocês, preciso ser capaz de olhá-los, não através de barreiras, não através de cortinas formadas pelos meus preconceitos e meus condicionamentos. Preciso estar em comunhão com vocês, o que significa que preciso amá-los. De modo idêntico, se desejo compreender o sofrimento, preciso amá-lo, preciso estar em comunhão com ele. Isso me é impossível, porque estou fugindo dele, por meio de explicações, por meio de teorias, de experiências, de adiamentos, constituindo tudo isso o processo de verbalização. Por conseguinte, as palavras me impedem a comunhão com o sofrimento. As palavras — palavras explicativas, racionalizações, que são sempre palavras, que representam o processo mental — as palavras me impedem de estar em direta comunhão com o sofrimento. É só quando me acho em comunhão com o sofrimento, que o compreendo.

O segundo passo é este: Eu, que sou o observador do sofrimento, sou diferente do sofrimento? Eu, que sou o "pensador", o "experimentador", sou diferente do sofrimento? Exteriorizo-o, a fim de fazer alguma coisa com relação a ele, a fim de evitá-lo, dominá-lo, repeli-lo. Sou diferente daquilo a que chamo sofrimento? Não sou. Portanto, eu sou o sofrimento; não é verdade que existe o sofrimento e eu sou diferente dele. Eu é que sou o "sofrimento".

Enquanto sou o observador do sofrimento, não há o término do sofrimento. Mas assim que se dá o percebimento de que o sofrimento sou eu, de que o próprio observador é o sofrimento — o que é muitíssimo difícil de experimentar, de perceber, porque há séculos que dividimos essa coisa — quando a mente percebe que ela mesma é sofrimento — não quando está sentindo o sofrimento — que ela própria é a criadora do sofrimento, ela própria é a entidade que sente o sofrimento, que ela é o próprio sofrimento, ocorre então o término do sofrimento. Isso não requer nem tradição nem pensar. mas sim um percebimento muito atento, muito vigilante e inteligente. Esse estado inteligente, esse estado "integrado", é que é "estar só". Quando o observador é a coisa observada, ele é então o estado "integrado". E nesse "estar só", nesse estado de se achar completamente só, completo, em que a mente não está em busca de coisa alguma, nem visando recompensa, nem fugindo à punição, em que a mente está de fato tranquila, não está procurando, não está tateando, só então vem à existência aquilo que não é mensurável pela mente.

Krishnamurti em, Quando o Pensamento Cessa




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