Não sabemos o que significa amar
autoconhecimento

Não sabemos o que significa amar


O pensamento nunca é livre. O pensamento é mera reação ao conhecimento acumulado, como memória, como experiência; por conseguinte, nunca poderá libertar o homem. Entretanto, tudo o que fazemos — toda ação, todo motivo, todo impulso — está baseado no pensamento. Devemos, pois, ver, por nós mesmos, o significado do pensamento, onde ele é necessário, e onde é veneno.

A mutação só é possível quando a mente está totalmente vazia de pensamento — assim como o ventre materno; uma criança só é concebida quando o ventre está vazio, e, daí, vem à luz um novo ser. A mente deve estar vazia da mesma maneira; só no vazio pode verificar-se uma coisa nova — algo novo, e não uma coisa que vem existindo continuamente há milênios.

A questão, pois é: Como esvaziar a mente? Não se trata de nenhum sistema. Dizendo “Como” não quero dizer: “Fazei tais e tais coisas e esvaziareis a vossa mente”. Não há sistema, nem fórmula nenhuma. Deveis perceber a realidade deste fato: que a mutação é absolutamente necessária para a salvação do homem, para vós e para mim, para nossa salvação, nossa liberdade, nossa completa libertação do sofrimento, das agonias da vida.

Necessitais de mutação, de uma mente completamente nova, que não seja produto do ambiente, da sociedade, de reação do conhecimento, da experiência; nada disso traz a inocência, a liberdade; nada disso cria aquele vasto espaço de que a mente necessita. Só nesse espaço pode verificar-se o movimento da mutação. E só essa mutação pode salvar o homem, porque é ela que faz nascer o indivíduo.

Nós não somos indivíduos. Temos nomes separados. Vós tendes um corpo separado; se tendes boa sorte, mantendes talvez uma conta no banco; mas, interiormente, psicologicamente, não sois um indivíduo. Pertenceis à raça, à comunidade, à tradição, ao passado, e por conseguinte deixastes de ser criador. Deixastes de estar cônscio da imensidade, da amplitude, da profundeza e da beleza da vida.

Porque não somos indivíduos, não sabemos o que significa amar. Só compreendemos o amor que contém ciúme, ódio, inveja, e todos os tormentos que o pensamento é capaz de produzir. Observai, se vos apraz, vossa própria afeição — como a chamais; observai a vós mesmo e a afeição que tendes a vossa esposa e filhos. Não há a mais simples centelha de amor; trata-se de uma mera união onde há corrupção, apego, dor, ciúme, ambição, domínio. Gerais filhos; mas isso não é amor — é prazer. E onde existe o prazer, existe a dor. E o homem que deseja compreender essa coisa chamada “amor”, deve, antes de tudo, compreender o que significa “ser livre”.

(...) Consideremos agora a questão do sexo, que constitui no mundo um sério problema. Uns podem estar livres dele, devido à idade, ou porque forçaram a si próprios. Outros não têm vida sexual porque desejam encontrar Deus. Não acho que possam encontrar Deus. Deus quer um homem livre, um homem que viveu, que sofreu, que é livre. Cumpre, pois, compreender a questão do sexo.

(...)Como dizíamos, existe a questão do sexo, que se tornou sumamente importante. Porquê? Observai a vossa vida. Porquê? Em primeiro lugar, o sexo é o único prazer que podeis fruir livremente. Estais coagido intelectualmente; repetis o que os outros dizem, continuamente, do nascer ao morrer. Vossos exames, vossa educação, vossos conhecimentos técnicos, tudo é repetição, só repetição. Estais coagidos intelectualmente. Não ousais pensar independentemente. Não ousais negar. Só sabeis dizer “Sim”. Sois seguidores e adoradores da autoridade. Por conseguinte, estais coagidos intelectualmente, e, assim, só uma cosia existe em que podeis ser originais: o sexo.

E, também, emocionalmente, não sois livre para expressar-vos. Aí também sois coarctado, impedido, contido. Nunca vos deleitais com o pôr-do-sol; jamais contemplais uma árvore, e tampouco entrais em comunhão com ela, na plena fruição daquela árvore e de sua beleza.

Assim, pois, emocionalmente, intelectualmente, estais faminto e vos vedes interceptado; e para vós a beleza nada significa — nada! (...) Assim, emocional e esteticamente, e no fundo de vosso ser, vos vedes completamente embargados. Portanto, só uma coisa vos resta, de vosso, de original: o sexo.

E quando o sexo se torna a “única coisa”, é de efeitos devastadores em nossa vida. E, também ele, se torna exigente de repetição, conduzindo há várias formas de dominação, de compulsão e tornando-se uma agonia, na vida de relação. Também ele conduz à brutalidade, ao embotamento da mente — esse prazer que se repete e torna a repetir-se. Assim, não existe amor, não existe beleza em nossa vida, não existe liberdade emocional. Só nos fica essa coisa que se chama “sexo”.

E não há, assim, para vós, o descobrimento da Realidade.

Krishnamurti — Bombaim, 1 de março de 1964




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