Que função tem o fazer-se uma pergunta e receber-se uma resposta?
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Que função tem o fazer-se uma pergunta e receber-se uma resposta?


Tenho aqui muitas perguntas. Que função tem o fazer-se uma pergunta e receber-se uma resposta? Resolve-se algum problema, fazendo-se uma pergunta? Que é um problema? Tende a bondade de seguir o que estou dizendo, pensando junto comigo. Que é um problema? Só pode nascer um problema quando a mente está ocupada com alguma coisa, não é verdade? Se tenho um problema, que significa isso? Suponhamos que minha mente está ocupada, da manhã à noite, com a inveja, o ciúme, o sexo, o que quer que seja. A ocupação da mente com um objeto é que cria o problema. A inveja pode ser um fato, mas é a ocupação da mente com o fato, que cria o problema, o conflito. Não é exato isso?

Suponhamos que eu sou invejoso ou tenho paixão violenta, desta ou daquela natureza. A minha inveja se torna manifesta, e a mente fica então ocupada com o conflito por ela gerado. Como libertar-me dela, como dissolve-la, que fazer com relação a ela? É a ocupação da mente com a inveja que cria o problema, e não a própria inveja; examinaremos mais adiante esse ponto, quando apreciarmos o verdadeiro significado da inveja. Nosso problema, por conseguinte, não é o fato, mas ocupação com o fato. E pode a mente libertar-se dessa ocupação? É ela capaz de atender ao fato, sem dele se ocupar? Examinaremos essa questão relativa à ocupação, no curso destas palestras. É com efeito interessantíssimo observar a própria mente em operação. 

Assim, no estudo destas perguntas vamos tentar libertar a mente da ocupação, isso significa considerar cada fato sem se ficar ocupado com ele. Isto é, se sou atuado por determinada compulsão, posso dar atenção a essa compulsão, sem dela me ocupar? Por favor, observai o vosso caso peculiar, vossa irritabilidade ou o que quer que seja. Podeis observar essa compulsão sem que a vossa mente fique ocupada com ela? A ocupação implica que estais fazendo esforço para resolver a compulsão, não é exato? Estais a condena-la, a compara-la com outra coisa, desejando altera-la, domina-la. Por outras palavras, tentar fazer alguma coisa com relação à compulsão, é uma ocupação, pois não? Mas podeis dar atenção ao fato de que estais sob determinada compulsão, uma paixão, um desejo, dar-lhe atenção, sem comparar, sem julgar e, por conseguinte, sem colocardes a funcionar o processo da ocupação? 

Psicologicamente, é muito interessante observar como a mente é incapaz de dar atenção a um fato, tal seja a inveja, sem colocar em jogo todo o vasto complexo de opiniões, juízos, avaliações, com que a mente está ocupada; desse modo, nunca resolvemos o fato, e só multiplicamos os problemas. Espero que esteja me fazendo claro. E acho importante compreender o processo da ocupação, porque atrás dele está em ação um fator muito profundo; o medo de não se estar ocupado. Se a mente está ocupada com Deus, com a verdade, ou se está ocupada com o sexo ou com o vício de beber, sua qualidade é essencialmente a mesma. O homem que medita sobre Deus e se torna eremita poderá socialmente ter mais importância, ser de mais valor para a sociedade do que o beberrão; mas os dois se acham ocupados, e a mente que está ocupada nunca será livre para descobrir o que é a Verdade.

Por favor, não aceitei nem rejeiteis o que estou dizendo; prestai-lhe atenção, investigai. Se cada um de nós puder realmente dar atenção a essa simples coisa, prestar toda atenção ao processo de ocupação da mente a respeito de qualquer problema, sem procurar livrar a mente dessa ocupação, o que não passa de outra maneira de se estar ocupado — se pudermos compreender esse processo completamente, totalmente, acho que então o próprio problema se tornará sem importância. Quando a mente se vê livre da ocupação com um problema, livre para observa-lo, está cônscia de todas as suas particularidades, o problema pode então ser resolvido com relativa facilidade. 

Krishnamurti — Realização sem esforço — pgs. 12 à 14 — 06 de Agosto 1955, Ojai, California, USA




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