Nosso sistema de pensamento e de ação gera exploração
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Nosso sistema de pensamento e de ação gera exploração


Pergunta: Afirma-se aqui que só uma ou duas pessoas no mundo podem ter esperança em compreender a importância da sua mensagem. Por isso o ensinamento secundário da Teosofia moderna é necessário como substituto para a salvação do mundo. O que tem a dizer?

Krishnamurti: Senhor, em primeiro lugar tem que descobrir o que tenho a dizer antes de dizer que é impossível. É isto o que quero dizer. Todo o nosso sistema de pensamento e de ação e de vida está baseado no engrandecimento e no crescimento individuais à custa de outros. Isso é um fato, não é? E enquanto esse fato existir no mundo tem que haver sofrimento, tem que haver exploração, tem que haver divisão de classes; e nenhuma forma de religião pode ocasionar a paz, porque elas são a própria criação das ânsias humanas, são meios de exploração. Essa realidade viva, que eu afirmo que existe – chamem-lhe Deus, verdade, ou qualquer outro nome que quiserem – essa inteligência suprema que eu afirmo que existe, que eu afirmo ter compreendido, só pode ser encontrada através da ausência dos obstáculos que criaram através da procura de segurança e conforto, a seguranças das religiões e essa segurança artificial da possessividade.

Certamente, compreender o que estou a dizer não é muito difícil. A dificuldade reside em pôr em ação o que digo. Agora, pôr em ação o que digo não precisa de coragem, mas antes de compreensão. A maior parte de nós está à espera que o mundo mude, mais do que a começar a mudarmo-nos a nós próprios. Estamos à espera que o sistema mundial altere esta atitude em relação à possessividade, e não estamos a tentar descobrir se podemos, como indivíduos, estar realmente livres da possessividade. Para compreender isto, esta ausência de possessividade, temos que descobrir inteligentemente quais são as nossas necessidades. Sabem, quando tiverem descoberto quais são as vossas necessidades, então não serão possessivos. Cada homem conhecerá as suas necessidades, muito claramente, muito simplesmente, se abordar a questão inteligentemente; mas não pode haver a descoberta de quais são as suas necessidades enquanto a mente estiver presa na possessividade, na ganância e na exploração. Portanto, quando descobrem quais são as vossas necessidades, não se estão a comprometer com as vossas necessidades e com as condições do mundo que se baseiam na possessividade. Espero estar a esclarecer isto.

O que quero dizer é que não pode haver relações humanas, vitais, nem viver com alegria na plenitude da vida no presente – que para mim é a única eternidade – enquanto a mente e o coração estiverem estropiados através do medo; e para dominar esse medo criamos inúmeros obstáculos, tais como as religiões, as crenças, a possessividade, as seguranças. Por esse motivo, como indivíduos, estamos continuamente a conferir sofrimento, continuamente a aumentar a luta, o caos do mundo. É certamente muito simples, se vierem a pensar nisso.

Se realmente quiserem descobrir o que estou a dizer, por favor examinem uma das ideias que exponho e ponham-na em ação; então verão que ela se torna prática, não vaga, teórica, impossível de compreender. Então não quererão nenhum ensinamento secundário.

Sabem, esta ideia de que as pessoas não compreendem, e por isso têm que lhes dar algo que compreendam, é realmente uma maneira habilidosa de exploração. É a atitude da classe capitalista. É a atitude do homem que tem muitas posses. Isto é, ele quer nutrir o mundo, guiar o mundo, guiar os outros homens; ao passo que eu desejo despertar o outro homem para que ele aja por si. Se eu os puder despertar para a vossa própria força, para a vossa própria compreensão, para a vossa própria responsabilidade, para a vossa própria ação, então destruirei a diferença de classes. Então não os mantenho na creche para serem explorados como uma criança por alguém que se supõe saber mais. É essa a atitude integral das religiões, que nunca possam descobrir o que é a verdade – só uma ou duas pessoas descobrem – por isso deixem-me, como mediador, ajudá-los; por consequência torno-me um explorador. É esse todo o processo da religião. É um meio hábil de explorar, sendo implacável em manter as pessoas sob domínio, tal como a classe capitalista o faz exatamente da mesma maneira – uma classe por meios espirituais, a outra por meios mundanos. Mas se examinarem isso, ambas são explorações implacáveis. (Ouçam! Ouçam!) Senhores, por favor não se incomodem em dizer “ouçam, ouçam.” O que é importante é agir, não concordar comigo intelectualmente. Isso não tem valor. A concordância só pode ter lugar na ação. Quando dizem “ouçam, ouçam”, isso significa que têm que resistir contra a sociedade, contra os vossos vizinhos, contra a vossa família, contra tudo o que essa sociedade edificou durante gerações. Isso requer grande percepção, não coragem, não esta atitude heroica perante a vida, mas percepção, elevada e direta, do que é a verdade.

Ora, para mim, a vida não é para ser uma escola. A vida não é algo de que aprendem, é para ser vivida – para ser vivida supremamente, inteligentemente e divinamente. Ao passo que, se fizerem dela um constante campo da batalha, de luta, de esforço contínuo, então a vida torna-se hedionda; e fizeram-na assim porque todo o vosso pensamento é auto-crescimento, auto-expansão, auto-engrandecimento, e enquanto isso existir, a vida torna-se numa luta hedionda.

Portanto isso é o que eu quero dizer. Certamente que isso é muito facilmente compreendido. Facilmente compreendido em certo sentido. Não se pode alcançar todo o seu significado de imediato. Pode-se ver em que direção reside, e para mudar a própria atitude tem que haver grande aflição, não contentamento, um grande conflito ardente que os force a descobrir; e Deus sabe que temos conflitos durante todo o dia, mas treinamos a nossa mente para ser astuta, e portanto para passar ao de leve por estes conflitos, fugir-lhes. Por isso podemos ter conflito após conflito, problema atrás de problema. A nossa mente aprendeu a ser engenhosa, e por isso a evadir-se.

Jiddu Krishnmaurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.




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