O que é a Ação Correta?
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O que é a Ação Correta?


Amigos, penso que a maior parte de nós acha que o mundo seria maravilhoso se não houvesse verdadeira exploração, e que seria um mundo esplêndido se cada ser humano tivesse a capacidade de viver naturalmente, plenamente e humanamente. Mas há muito poucos que querem fazer alguma coisa por isso. Como ideais, como uma Utopia, como uma coisa de sonho, todos os acarinham, mas muito poucos desejam ação. Não podem provocar uma Utopia nem pode haver a cessação da exploração sem ação.

Ora, só pode haver ação, ação coletiva, se houver em primeiro lugar cuidadosa consideração individual desse problema. Cada ser humano, em momentos sensatos, sente o horror da verdadeira exploração, seja pelo sacerdote, pelo homem de negócios, pelo médico, pelo político, ou por qualquer pessoa. Todos nós sentimos realmente, nos nossos corações, a crueldade aterradora da exploração, se já tivermos pensado nisso um só instante. E contudo cada um de nós é apanhado nesta roda, neste sistema de exploração, e esperamos e temos esperança que por algum milagre nasça um novo sistema. E assim, individualmente, sentimos que apenas temos que esperar, deixar que as coisas tomem o seu rumo natural, e que por algum meio extraordinário nasça um novo mundo. Sem dúvida que, para criar uma coisa nova, um novo mundo, uma nova concepção de organização, os indivíduos têm que começar. Isto é, os homens de negócios, ou alguém em particular, tem que começar a descobrir se a sua ação está realmente baseada na exploração.

Agora, conforme disse, há a exploração do sacerdote baseada no medo, há a exploração do homem de negócios baseada no seu próprio engrandecimento, acumulação de riqueza, avidez, formas sutis de egoísmo e segurança; e como se supõe que todos vocês aqui sejam homens de negócios, certamente que não podem deixar de lado cada problema humano e preocuparem-se integralmente com os negócios. Afinal, os homens de negócios são seres humanos, e os seres humanos, enquanto forem explorados, têm que ter em si, continuamente, este espírito rebelde. É somente quando atingem um determinado nível em que estão razoavelmente seguros que esquecem tudo sobre esta situação, sobre mudar o mundo, ou ocasionar uma determinada atitude de ação espontânea perante a vida. Porque atingimos um determinado estado de segurança, esquecemos, e sentimos que tudo está bem; mas por trás de tudo isso pode sentir-se que não pode haver felicidade, felicidade humana, enquanto existir realmente exploração.

Ora, para mim, a exploração nasce quando os indivíduos procuram mais que as suas necessidades essenciais; e descobrir as vossas necessidades essenciais requer muita inteligência, e não podem ser inteligentes enquanto as vossas necessidades forem o resultado da procura de segurança, de conforto. Naturalmente, tem que se ter comida, teto, roupa, e tudo isso; mas para que isto seja possível para todos, os indivíduos têm que começar a compreender as suas próprias necessidades, as necessidades que são humanas, e organizar todo o sistema de pensamento e ação em consequência disso, e só então poderá haver verdadeira felicidade criativa no mundo.

Mas atualmente o que está a acontecer? Lutamos uns contra os outros durante todo o tempo, excluimo-nos uns aos outros, há competição contínua em que cada um se sente inseguro, e todavia continuamos à deriva, sem tomar providências definidas. Isto é, em vez de esperarmos que aconteça um milagre para alterar este sistema, é necessária uma mudança completa e revolucionária, que cada um reconheça.

Embora possamos ter um ligeiro medo da palavra revolução, todos reconhecemos a imensa necessidade de uma mudança. E contudo, individualmente, somos incapazes de a provocar porque, individualmente, não tomamos em consideração, individualmente não tentamos descobrir porque deveria haver este contínuo processo de exploração. Quando os indivíduos forem realmente inteligentes, criarão então uma organização que providenciará as necessidades essenciais da humanidade, não baseada na exploração. Individualmente não podemos viver separados da sociedade. A sociedade é o indivíduo e enquanto os indivíduos estiverem apenas a procurar continuamente a sua própria auto-segurança, para eles próprios ou para a sua família, tem que existir um sistema de exploração.

E não pode haver felicidade no mundo se os indivíduos, como vocês, tratarem dos assuntos do mundo, dos assuntos humanos, separados do negócio. Isto é, vocês não podem, se me permitem dizê-lo, estar nacionalistamente inclinados, e contudo falar da liberdade do comércio. Não podem considerar a Nova Zelândia como o país mais importante, e rejeitar depois todos os outros países, porque sentem, individualmente, a necessidade essencial da vossa própria segurança. Isto é, senhores, se é que posso pôr as coisas desta maneira, só pode haver verdadeira liberdade de comércio, desenvolvimento das indústrias, etc., quando não houver nacionalidades no mundo. Penso que isso é óbvio. Enquanto houver barreiras alfandegárias protegendo cada país tem que haver guerras, confusão e caos; mas se formos capazes de tratar todo o mundo, não como dividido em nacionalidades, em classes, mas como uma entidade humana, não dividido por seitas religiosas, pela classe capitalista e pela classe trabalhadora, só nessa altura haverá a possibilidade de verdadeira liberdade no comércio, na cooperação. Para originar isto não podem apenas pregar ou assistir a reuniões. Não pode haver apenas o prazer intelectual destas ideias, tem que haver ação; e para originar a ação temos que começar individualmente, muito embora possamos sofrer por isso. Temos que começar a criar uma opinião inteligente e desse modo teremos um mundo onde a individualidade não é esmagada, derrotada por um determinado padrão, mas que se torna um meio de expressão da vida; não a forma duramente tratada e condicionada a que chamamos seres humanos. A maior parte das pessoas quer e compreende que tem que haver uma mudança completa. Não vejo qualquer outra maneira que não seja começando como indivíduos, e então essa opinião individual tornar-se-á a realização da humanidade.

Jiddu Krishnamurti, Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.




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