O filme Lucy e o processo da morte positiva do ego
autoconhecimento

O filme Lucy e o processo da morte positiva do ego


As emoções ou sensações associadas às áreas divinas internas são comumente o oposto daquelas que uma pessoa pode encontrar nas regiões escuras. Em vez de dor ou alienação, pode-se descobrir uma sensação abrangente de unidade e interconexão com toda a criação. Em vez de medo, a pessoa pode ser possuída por êxtase, paz e profunda sensação de apoio pelo processo cósmico. Em vez de vivenciar a "loucura" e a "confusão", encontra um sentimento de lucidez mental e de serenidade. E, em vez de uma preocupação permanente com a morte, pode entrar em contato com um estado em que se sinta eterna, compreendendo que alguém é, de repente, o corpo e tudo o mais que existe. Devido, em parte, à sua natureza inefável e ilimitada, os domínios divinos são mais difíceis de descrever do que as regiões escuras, embora poetas e místicos de todas as épocas tenham criado metáforas para torná-los próximos. Durante alguns estados espirituais, pode-se entender o meio ambiente comum como uma criação gloriosa da energia divina, cheia de mistério; tudo dentro disso parece fazer parte de uma bela trama interligada.
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Muitas pessoas que vivenciaram essas dimensões interiores, reconhecem-nas como partes da essência ilimitada e efusiva de cada ser humano, que é comumente obscurecida pelos problemas e preocupações da vida diária. Por causa da sua lucidez e vivacidade, os estados transcendentais em geral dão a sensação de que são mais reais do que a realidade "comum"; as pessoas sempre comparam a descoberta desses campos ao despertar de um sonho, ao remover os véus obscuros ou à abertura das portas da percepção. Algumas vezes fazem novas descobertas e adquirem conhecimentos complexos sobre o processo da vida de fontes dentro de si e que geralmente não lhe são acessíveis.
Assim como alguém pode penetrar no domínio desolador da morte do ego durante a noite escura da alma, também pode encontrar um tipo de morte positiva do ego nos domínios transcendentais. Ali, as fronteiras pessoais se dissolvem temporariamente e a pessoa pode se sentir incorporada ao mundo externo ou ao cosmos. Um dos tipos mais comuns de desagregação é aquele em que as pessoas se sentem como se estivessem se perdendo no divino imanente, que é encontrado no seu ambiente. É comum sentirem que suas identidades individuais podem se debilitar quando se fundem ao mundo conhecido dos humanos, das árvores, dos animais ou da natureza inorgânica. Durante uma outra forma de dessa experiência, frequentemente se sentem incorporadas aos domínios divinos que transcendem a realidade diária.

Alfred Lord Tennyson escreve sobre esse estado:

Mais de uma vez quando
Me sentei sozinho, refletindo sobre mim mesmo
A palavra que é o símbolo de mim mesmo,
O limite mortal do Eu foi liberado,
E transferido ao anonimato, como uma nuvem
Que se dissolve no céu.

Esta experiência, em geral, toma a forma de uma perda benigna do ego, uma dissolução das suas estruturas, que é necessária para se alcançar uma ampla definição do eu. O santo e filósofo indiano Sri Ramana Maharishi comparou esse processo àquele da boneca de açúcar que vai em busca de um banho de mar e se dissolve no oceano da consciência. Uma forma mais impressionante de morte positiva do ego é um confronto repentino com a luz, comparado pelos místicos à mariposa que voa para a chama sagrada e é consumida instantaneamente.

Os encontros com as regiões divinas durante o processo de emergência espiritual são extremamente terapêuticos. Atingindo-as, a pessoa sente, em geral, emoções positivas, tais como êxtase, alegria, gratidão, amor e satisfação, que podem aliviar ou dissipar rapidamente os estados negativos, tais como a depressão e a raiva. Sentir-se parte de uma rede cósmica abrangente em geral garante à pessoa que tem problemas com o amor-próprio o desenvolvimento de uma nova auto-imagem.

As pessoas envolvidas no processo e que passam logo por essas experiências se sentem afortunadas; desenvolvem uma compreensão filosófica que as acompanhará através das futuras mudanças. Sentem mesmo que, emboras as coisas possam se tornar duras, ao menos têm uma ideia de para onde estão indo. É como dar uma olhada no topo da montanha, e então, mesmo que precisem voltar à base para escalá-la, têm a perspectiva de que há uma recompensa à sua espera no final da jornada. Isso é bem preferível à situação em que a pessoa gasta meses cavando um túnel através das sensações e emoções difíceis, sem nenhuma ideia de qual seja o propósito.


Christina Grof - A Tempestuosa Busca do Ser
Fotos do filme Lucy (2014)




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