Observando a verdadeira raiz do medo
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Observando a verdadeira raiz do medo


O indivíduo é o foco do universo.

No indivíduo consistem o começo e o fim. Nele reside a totalidade de toda a experiência, de todo o pensamento, de toda a emoção. Nele está toda a potencialidade.

O propósito último da existência individual é realizar o ser puro, em que não há separação, que é a realização do todo. O preenchimento do destino do homem é ser a totalidade. Não se rata de vocês se perderem no absoluto, mas de, pelo desenvolvimento, pelo esforço contínuo, pelo ajustamento se tornarem a totalidade.

A individualidade, porém, é imperfeição, não constitui um fim em si mesma.

Evolução no sentido de expansão da própria individualidade, através do tempo, é uma ilusão.

O que é imperfeito, o que é individualidade, ainda que multiplicado e aumentado, permanecerá sempre imperfeito.

Consciência, para mim, é eu-consciência, é individualidade, na qual ainda existe egoísmo, por mínima que seja a proporção.

A individualidade é apenas um fragmento da totalidade, e é por que ela se sente apenas uma parte que está sempre procurando preencher-se, realizar-se na totalidade.

A individualidade é intensificada, mediante o conflito da ignorância e pela limitação do pensamento e da emoção.

Por meio da experiência, a ignorância se dissipa sendo a ignorância a mescla do essencial e não essencial. Deste último nasce a ilusão. Para descobrir o que é essencial, importa considerar o desejo. O desejo procura continuamente libertar-se da ilusão. Assim, o desejo atravessa várias fases da experiência em busca deste equilíbrio, podendo transformar-se numa gaiola ou numa porta aberta, em um cárcere ou em um caminho franco para a libertação.

Existe a vida e existe a ilusão do eu-consciência. Quando tiverem atravessado a ilusão acharão o modo de viver esta vida.

Nesse viver não mais existe esforço contínuo, intuito de progresso.

É a ânsia pelo poder, pela segurança, pelo consolo, que é o desejo de conformar-se, que cria o conflito da ilusão.

Haverá anseio, enquanto a mente e o coração estiverem cativos pela limitação dos falsos valores, que surge do apego e do conflito dos opostos.

Onde houver esforço ocasionado pela ânsia, tem de haver ilusão; porém, com a cessação da ânsia, vem o discernimento dos verdadeiros valores e, portanto, o reto viver.

Para verdadeiramente se libertarem do medo, vocês necessitam perder todo o sentimento de egoísmo; e é isto coisa muito difícil de executar.

O egoísmo é tão sutil, expressa-se de tantas formas, que quase somos inconscientes dele. Expressa-se pela busca de segurança, seja neste mundo ou em outro, que é denominado o além. Ele anseia por estar seguro, agora e de futuro, e, por essa forma, embaraça a inteligência e a plenitude.

Enquanto existir esse desejo de segurança tem de haver medo.

A mente que busca a imortalidade da sua própria consciência limitada tem de criar o medo, a ignorância e a ilusão. Se a mente puder libertar-se do desejo de segurança, então o medo cessa; e para descobrir se a mente procura a segurança, tem ela de tornar-se apercebida, plenamente consciente.

Cada indivíduo, seja rude ou sutilmente, está, de contínuo, buscando a segurança. Onde há busca objetiva de segurança, tem de haver medo. Em virtude do medo, é que o indivíduo desenvolveu, objetivamente, uma espécie de sistema; e foi também por medo, que, subjetivamente, se submeteu a outrem. Compreendamos, portanto, a significação desses sistemas por eles criados.

Para haver verdadeira plenitude, não pode coexistir o sentimento de posse ou de aquisição, nem os valores morais baseados na segurança defensiva e egoísta, nem ainda as religiões com suas promessas de imortalidade, as quais nada mais são do que uma forma diferente de egoísmo e de temor.

Não estou pregando mera teoria. Falo com plenitude de entendimento. O não pertencer a religião alguma, certamente não indica que se esteja livre do medo. O medo é tão sutil, tão ligeiro, tão astuto, que se esconde em muitos lugares e, para seguir o rastro do temor, ao longo da trilha que conduz ao seu retiro tem de haver intenso e ardente desejo de descobrir o medo, o que significa que vocês devem estar dispostos a abrir mão, por completo, de todo o interesse pessoal.

Vocês, porém, querem estar seguros; aqui e no além.

Portanto, desejando a segurança, vocês cultivam o temor; e estando amedrontados, tentam fugir, por meio da ilusão da religião, dos ideais, da sensação e da atividade.

Enquanto houver o medo, que nasce dos desejos para se protegerem a si mesmos, a mente estará colhida na rede de suas múltiplas ilusões. O homem que realmente deseja descobrir a raiz do medo para, desse modo, dele se libertar, tem de tornar-se apercebido do motivo e do propósito da sua ação.

Se for intenso este percebimento, destruirá a causa do medo.

O homem que tem algo a guardar, algo a proteger, está sempre em temor e, por isso, atua por forma extremamente cruel e irrefletida; porém, o homem que realmente nada tem a perder, por nada haver acumulado, esse não tem medo; vive completamente, em verdadeira plenitude.

"O temor é condicionante?" O temor não pode existir por si mesmo, mas somente em relação com alguma coisa. Ora, quando vocês dizem que estão conscientes do medo, é ele causado por algo exterior a vocês ou está dentro de vocês? Teme-se um acidente, ou o próximo, ou alguma relação imediata, ou alguma relação psicológica, assim por diante.

Em certos casos, são as coisas externas da vida que nos fazem ter medo, e, se delas nos libertarmos, julgamos que não teremos mais medo. Vocês podem se livrar de seu próximo? Podem ser capazes de fugir de um próximo particular; mas, onde quer que estejam, estarão sempre em relação com alguém.

Vocês podem criar uma ilusão em que se abriguem ou construir um muro entre vocês e o próximo e, assim, se protegerem. Podem se separar, por meio da divisão social, das virtudes das crenças, das aquisições, e, desse modo, se livrarem de seu próximo. Mas, isso não é libertação.

Há ainda o medo das doenças contagiosas, dos acidentes, etc., contra os quais se toma precauções naturais, sem exagerá-las indevidamente.

A vontade de sobreviver, a verdade de estar satisfeito, a vontade de continuar — esta é a verdadeira raiz do medo.

Sabem se isso é assim? Se sabem, então, o que querem dizer por "saber"?

Sabem isto apenas intelectualmente, como uma imagem verbal, ou estão apercebidos disso integral, emocionalmente?

Vocês conhecem o medo como reação, quando a resistência de vocês está enfraquecida; quando os seus muros protegidos por si mesmos são derrubados, então ficam conscientes do medo, e a reação imediata de vocês é novamente restaurar esses muros, fortalecê-los, a fim de permanecerem seguros.

Krishnamurti — O medo — 1946 — ICK






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