Observando o "eu", o observador
autoconhecimento

Observando o "eu", o observador


Ora, que é o observador? Observemo-lo. O observador é constituído por essa entidade "acumulada", condicionada como cristão, nacionalista, comunista, socialista; o católico romano, a experiência, a memória temporal; tudo isso sou eu, com toda a memória acumulada, racial, hereditária, toda a memória temporal. Sou tudo isso. É ESSA ENTIDADE que está observando e, portanto, nenhuma possibilidade tem de compreender. Porque essa entidade se baseia no passado, mas o medo é uma coisa ativa, e o observador, com tudo o que foi acumulado no passado, diz: "Vou olhar". Está claro isso, podemos continuar? Não verbalmente, mas passo a passo? Ora, só há a "ação de observar", o observador; não há "eu" observando o medo, porém a "ação de observar" o observador. Não sei se você percebe a diferença.

Então, pelo observar, você aprende a respeito do observador e aprende que o observador é meramente uma série de ideias e de memórias, sem nenhuma validade, nenhuma substancia, a não ser como ideia, como feixe de memórias. Mas o medo é uma realidade; por conseguinte, você está procurando compreender o fato como uma abstração — e naturalmente não o consegue.

Consequentemente, quando há essa ação de observar o observador, só então há OBSERVAR, e não há "observador e coisa observada". Não sei se você percebe a diferença entre as duas coisas: "observar o medo" e "observador observando o medo". Se o observador observa o medo, há espaço entre o observador e a coisa observada. Nesse espaço, que é um intervalo de tempo,  faz-se um esforço para se ficar livre do medo; necessita-se de tempo para conseguir essa libertação. "Tenho de fazer alguma coisa em relação ao medo", "Tenho de dominá-lo", "Tenho de condená-lo". Quando há espaço entre observador e coisa observada, digo: "Preciso fugir do medo", "Preciso achar uma saída, uma pessoa que me ajude a libertar-me deste temor".

Mas, havendo a "ação de observar" o observador, há a percepção de que o observador é meramente um feixe de memórias acumuladas, condicionadas; então o observador É a coisa observada. Por conseguinte, a "ação de observar" é de máxima importância — e não o "observador e a coisa observada". E quando observamos de maneira tão completa e com tanta atenção, existe medo? Não teoricamente, porém realmente? Pode-se observar os temores externos, isto é, o medo consciente; nos níveis superficiais da consciência, podemos observar várias formas do medo. Nos níveis profundos, no nível inconsciente, existe alguma possibilidade de observar o medo? Porque, nesse nível, há temores ocultos, dos quais estou inteiramente inconsciente. Apresenta-se, assim, um problema: Como observar uma coisa oculta, uma coisa que não tenho possibilidade de sondar por meio do esforço consciente? Dessarte, fico na dependência dos sonhos e na respectiva interpretação — na dependência do analista. E nunca indago porque sonho! Mas nunca nos interrogamos se realmente é necessário sonhar.

(...) estamos perguntando como podemos estar cônscios, como exumar, desarraigar, trazer à luz o inconsciente com todos os seus temores  e motivos. No momento só nos interessa o medo; e existe medo, profundamente arraigado, naquele campo que a mente consciente nenhuma possibilidade tem de penetrar. A mente consciente — as camadas superficiais da mente — só podem examinar a si própria; não pode examinar uma coisa que desconhece. O inconsciente "projeta" em sonhos quando estamos dormindo. É um processo muito complexo, mas pode-se, durante o sonho, compreender o que se está sonhando, sem despertar para interpretá-lo. Mas, por que temos de sonhar? Esta é uma pergunta muito importante. Não é questão de sonhar, para depois procurar as interpretações do sonho, o que vem a ser um enorme desperdício de tempo; porém a questão é, antes, de saber porque temos de sonhar. Porque os sonhos e suas atividades, durante o sono, constituem uma dissipação de energia. Pois, durante o sono, a mente revigora-se, mas se estamos ativos, a sonhar, a agitar-nos, a preocupar-nos, a mente não pode revigorar-se. Portanto, cumpre descobrir porque sonhamos e se é possível não sonhar.

É possível não sonhar, mas só quando, durante o dia, estamos despertos, atentos a cada movimento do pensamento, de sentimento, de reação. Começamos então a desenterrar o inconsciente; e isso é impossível à mente consciente. Assim, ainda que estejamos viajando num ônibus — se estamos realmente vigilantes e não engolfados na leitura de alguma revista ou jornal — começa-se a descobrir, a perceber certos sinais, certos avisos desse medo, e podemos examiná-lo ao mesmo tempo que o estamos observando. Pode-se pois, revelar  conteúdo do inconsciente pela vigilância e o percebimento.

Aqui também é necessário observar, manter-se desperto, vigilante. E, se assim o fizer — não, esporadicamente quando você não tem o que fazer — se assim o fizer seriamente, descobrirá pessoalmente que é possível, no sentido psicológico, ficar-se inteiramente livre do medo. Sabe o que isso significa? Não há sombras, no interior, nem exteriormente. Pode-se ver claramente as coisas tais como são.

Eis o que é a clareza da mente: ver as coisas exatamente como são, tanto exteriormente, objetivamente, como interiormente. Olhando-se claramente, não há problema algum. Como quase todos nós andamos cheios de problemas — compreender um problema é compreender o processo total, e não unicamente um dado problema. Porque cada problema se relaciona com outros mais, e quando trato de compreender um problema completamente, de examiná-lo até o fim, compreendo então todos os problemas.

Jiddu Krishnamurti — A essência da maturidade





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