Por que estamos sempre em busca de ocupação?
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Por que estamos sempre em busca de ocupação?


[...]Suas mentes estão sempre ocupadas, não é verdade? E o que aconteceria, se a mente não estivesse ocupada? O que aconteceria a uma dona de casa, se não estivesse ocupada com as coisas da cozinha, ou ao homem que não estivesse ocupado com os seus negócios? O que lhes aconteceria, se a mente de vocês não estivesse ocupada? A reação imediata é a de responder que estaríamos ocupados com isto ou aquilo, se não estivéssemos ocupados com o que ora estamos fazendo — o que indica a necessidade que temos, de ocupação. A mente que se vê desocupada, sente-se perdida e, por isso, está sempre em busca de ocupação. Sua ocupação é invariavelmente contraditória, gerando, portanto, malefícios. E depois de criarmos o malefício, nos preocupamos sobre como afastá-lo, e nunca damos atenção à ocupação da mente. Mas se pudermos compreender a ocupação da mente, em diferentes níveis, descobriremos a ação que surge quando a mente já não está ocupada, a ação que não gera malefícios. 

Vocês já procuraram averiguar porque a mente está ocupada? Tente-no agora, senhores, pelo menos para se distraírem. Mas, antes de tudo, precisam estar conscientes de que a mente de vocês está ocupada, como é bem óbvio. Vocês estão ocupados com os negócios, com o progresso ou fracasso, as brigas com a esposa, etc. E há a ocupação do sanyasi, do homem dito religioso, que está sempre lendo, murmurando palavras, cantando hinos, celebrando intermináveis rituais, disciplinando-se, adaptando-se ao padrão de um ideal. Tudo isso é ocupação. 

Todos vivemos ocupados, não é verdade? É o natural da mente, estar sempre ocupada? Se é esse o seu estado natural — estar ocupada, com coisas elevadas ou com coisas vulgares (o que é muito relativo) — a mente então nunca descobrirá a verdadeira ação. A mente não pode observar, prestar atenção, descobrir, quando está constantemente ocupada e, sim, apenas, quando é capaz de não estar ocupada. Enquanto a mente estiver ocupada, toda a ação nascida dessa ocupação há de ser restritiva, limitada, causadora de confusão. Experimente para ver como é sutil e difícil ter uma mente que não esteja sempre cheia; entretanto, se há um impulso ardoroso, para descobrir a ação correta, neste mundo louco, confuso e sofredor, vocês precisam chegar a esse ponto. 

Nosso problema, por conseguinte, é: De que fonte, de que centro deve emanar a ação, para que não seja contraditória e causadora de confusão? O reformador social nunca faz esta pergunta, porque ele quer agir, reformar; e no próprio processo de reformação está criando malefícios. Todos os políticos e guias religiosos estão procedendo desse modo. Nem as mais extensas leituras de Escrituras, nem os maiores esforços de adaptação, ajustamento à sociedade, jamais deram solução aos nossos problemas. Ao contrário, eles estão se multiplicando. Percebendo bem isso, cabe-nos compreender por que razão surgiu esse estado de confusão e aflições. Ele surgiu, porque todos queremos ação imediata; e a ação imediata só se pode achar nas camadas superficiais de nossa consciência, procede da ocupação, da chamada mente educada. 

Ora, existe ação que não seja resultado de esforço, que não seja da vontade? A ação da vontade é a ação do desejo; e o desejo, educado ou não, refreado ou livre, está circunscrito às camadas superficiais da consciência. Já não notaram, senhores, que quando desejam fazer alguma coisa, surge imediatamente uma contradição, sob a forma de temores coibitivos, exigências, exemplos, um senso de disciplina, que lhes diz: "Não faça isto"? E assim, vocês se veem, envolvidos em conflito. Em toda a duração de nossa vida, estamos presos nestas redes, da infância à morte, existe este perene estado de contradição e ajustamento. Em vista disso, pode a mente descobrir uma ação que não seja contraditória, que não seja mero ajustamento, que não seja produto de influências? Penso ser esta a questão fundamental, a questão certa. E aquela ação só pode ser achada quando estamos conscientes da total ocupação da mente, e a compreendemos. 

Sabem com o que está ocupada a mente de vocês? Percorram-na, camada por camada, e nela não encontrarão espaço algum não ocupado. E quando investigam o inconsciente, para descobrir a sua ocupação, mesmo assim a mente superficial, que está examinando o inconsciente, tem a sua ocupação própria. Que se deve então fazer? Queremos descobrir a total ocupação da mente, porque percebemos que, se dela nos tornamos conhecedores, toda ação criará necessariamente contradição e, portanto, maiores sofrimentos. 

Com o que está ocupada a mente, a mente de vocês? E, se não estivesse ocupada, o que aconteceria? Não se assustariam se descobrissem que a mente de vocês não estava ocupada com coisa alguma? Surgiria imediatamente o impulso para se ocuparem com alguma coisa. "Experimentem", e verão que não há um só momento de desocupação da mente. E se experimentarem um raro momento em que ela não esteja ocupada — e esse é um estado indescritível — então, o "como retornar a esse estado" ou como retê-lo, se tornará a ocupação de vocês. 

Estou, pois, alvitrando que só se tornará possível a verdadeira ação quando a mente compreender a totalidade de sua ocupação, tanto consciente como inconsciente, e conhecer o momento em que cessou a ocupação. Verão, então, que a ação resultante desses momentos de desocupação, é a única "ação integrada". Quando não está ocupada, a mente não está contaminada pela sociedade, não é produto de inumeráveis influências, não é hinduísta, nem cristã, nem comunista, nem capitalista. Por conseguinte, ela própria é uma totalidade de ação, com o que não terão que se ocupar e em que não precisarão pensar. 

Agora, se tiveram a bondade de escutar até aqui com atenção, se não estiveram dormindo, porém escutando com atenção completa, terão experimentado, diretamente, o estado de não ocupação. Quando falamos ou escutamos, estamos conscientes dos vários níveis de ocupação e de como eles são contraditórios. E conscientes da natureza totalmente contraditória, descobre a mente um estado em que não há ocupação. Isto traz um senso de ação completamente diferente. Vocês não tem então de fazer nada, porque a própria mente atuará.

Krishnamurti em, Da solidão à plenitude humana




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