Por que estamos sempre na "correria"?
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Por que estamos sempre na "correria"?


Como estamos ligados ao passado! Mas não estamos ligados ao passado: nós somos o passado. E que coisa complicada é o passado, camada sobre camada de memórias não digeridas, tanto as queridas como as tristes. Ele nos persegue dia e noite e de vez em quando há uma brecha em que uma luz clara se revela. O passado é como uma sombra, tornando as coisas embotadas e aborrecidas; nessa sombra o presente perde sua clareza, seu frescor, e o amanhã é a continuação da sombra. O passado, o presente e o futuro estão amarrados juntos pelo longo fio da memória; o feixe inteiro é a memória, com pouca fragrância. O pensamento se move pelo presente em direção ao futuro, e retorna; como um animal inquieto amarrado a um poste, ele se move em seu próprio raio de ação, pequeno ou amplo, mas jamais está livre de sua própria sombra. Esse movimento é a ocupação da mente com o passado, o presente e o futuro. A mente é a ocupação. Se a mente não estiver ocupada, ela cessa de existir; sua própria ocupação é a sua existência. A ocupação com insultos e elogios, com Deus e bebidas, com virtude e paixão, com trabalho e expressão, com acumulação e doação, é tudo igual; ainda é ocupação, preocupação, inquietação. Estar ocupado com algo, quer seja a mobília ou Deus, é um estado de pequenez, de superficialidade. 

A ocupação dá à mente o sentimento de atividade, de estar viva. É por isso que a mente armazena ou renuncia; ela se sustenta com ocupações. A mente deve estar ocupada com alguma coisa. Aquilo com o que se ocupa é de pouca importância; o importante é que esteja ocupada, e as melhores ocupações têm importância social. Estar ocupada com algo é da natureza da mente, e sua atividade provém disso. Estar ocupada com Deus, com o Estado, com o conhecimento, é a atividade de uma mente mesquinha. Ocupação com alguma coisa sugere limitação, e o Deus da mente é um deus mesquinho, por mais alto que ela possa colocá-lo. Sem ocupação, a mente não existe; e o medo de não ser torna a mente inquieta e ativa. Essa atividade inquieta tem a aparência de vida, mas não é vida; isso leva sempre à morte — uma morte que é a mesma atividade em outra forma. 

O sonho é outra ocupação da mente, um símbolo de sua inquietação. Sonhar é a continuação do estado consciente, a extensão do que não está ativo durante as horas acordadas. A atividade de ambas as mentes, a superficial e a profunda, é ocupacional. Essa mente só pode perceber um fim como um início continuado; ela jamais pode perceber o fim, mas somente o resultado, e este é sempre contínuo. A busca por um resultado é a busca por continuidade. A mente, a ocupação, não tem fim; e somente  para aquilo que tem fim pode haver o novo, somente para aquilo que morre pode haver vida. A morte da ocupação, da mente, é o início do silêncio, do silêncio total. Não relacionamento entre esse silêncio imponderável e a atividade da mente. Para haver relacionamento, deve haver contato, comunhão; mas não há contato entre silêncio e a mente. A mente não pode comungar com o silêncio; ela pode ter contato apenas com o próprio estado projetado que chama de silêncio. Mas esse silêncio não é silêncio, é meramente outra forma de ocupação. A ocupação não é silêncio. Só existe silêncio com a morte da ocupação da mente com o silêncio. 

O silêncio está além do sonho, além da ocupação da mente mais profunda. Essa mente é um resíduo, o resíduo do passado, aberto ou oculto. Esse passado residual não pode experienciar o silêncio; pode sonhar com ele, como geralmente o faz, mas o sonho não é o real. O sonho é geralmente tomado pelo real, mas sonho e sonhador são ocupações da mente. A mente é um processo total, não há uma parte exclusiva. O processo total da atividade, residual ou adquirida, não pode comungar com aquele silêncio que é inexaurível.

Krishnamurti em, Comentários sobre o viver




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