Somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar
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Somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar


Pergunta: Acha que os sistemas sociais do mundo evolucionarão para um estado de fraternidade internacional, ou ela será ocasionada através de instituições parlamentares, ou pela educação?

Krishnamurti: Tal como a sociedade está organizada, não conseguem ter fraternidade internacional. Não podem continuam a ser Novo Zelandeses, e eu um Hindu, e falar sobre fraternidade. Como pode haver realmente fraternidade, se estão restringidos por situações econômicas, por este patriotismo que é uma coisa tão falsa? Isto é, como pode haver fraternidade se vocês continuam a ser Novo Zelandeses, agarrando-se aos vossos preconceitos específicos, às vossas barreiras alfandegárias, patriotismo, e todo o resto; e eu um Hindu a viver na Índia, com os meus preconceitos? Podemos falar de tolerância, deixar-nos em paz uns aos outros, ou eu mandar-lhes missionários e vocês mandarem-me missionários, mas não pode haver fraternidade. Como pode haver fraternidade quando vocês são Cristãos e eu sou Hindu, quando vocês são dominados pelos sacerdotes e eu sou também dominado pelos sacerdotes de um modo diferente, quando vocês têm uma forma de adoração e eu tenho outra? – o que não significa que vocês tenham que chegar à minha forma de adoração ou que eu tenha que chegar à vossa.

Portanto, tal como estão as coisas, elas não resultarão em fraternidade. Pelo contrário, há o nacionalismo, mais governos soberanos, que não são senão os instrumentos da guerra. Portanto, tal como existem, as instituições sociais não podem evolucionar para uma coisa magnífica, porque as suas próprias bases, a sua fundação está errada; e os vossos parlamentos, a vossa educação baseada nestas ideias, não ocasionará a fraternidade. Olhem para todas as nossas nações. O que são elas? Nada senão instrumentos de guerra. Cada país é melhor que o outro, cada país a bater o outro, inflamando esta falsa coisa chamada patriotismo. Por favor, vocês gostam de determinados países, determinados países são mais bonitos que outros, e vocês apreciam-nos. Desfrutam da beleza tal como desfrutam de um pôr-do-sol, seja aqui, na Europa ou na América. Nada há de nacionalista, nem de sentimento patriótico por trás disso – vocês desfrutam-na. O patriotismo só chega quando as pessoas começam a usar o vosso prazer para um objetivo. E como pode haver verdadeira fraternidade, através do patriotismo, quando todas as formas de governo se baseiam na distinção de classes, quando uma classe que tem tudo governa a outra que nada tem, ou envia representantes que nada têm para o parlamento? Sem dúvida que esta abordagem ao estado humano, à unidade humana é impossível. É tão óbvio, que nem necessita de discussão.

Enquanto houver distinções de classe desenvolvendo-se em nacionalidades, baseadas na exploração pela classe possessiva, ou pela classe que tem os meios de produção nas mãos, tem que haver guerras; e através das guerras não vão obter fraternidade. Isso é óbvio. Podem ver isso na Europa desde a Guerra: maior sentimento nacional, mais patriotismo fanático, barreiras alfandegárias mais fortes. Isso, por certo, não vai gerar fraternidade. Pode gerar fraternidade no sentido de que haverá uma grande catástrofe e as pessoas despertarão e dirão, “Por amor de Deus, despertemos e sejamos sensatos.” Isso eventualmente poderá gerar fraternidade; mas as nacionalidades não gerarão fraternidade, não mais que as distinções religiosas, que estão realmente, se chegarem a refletir sobre isso, baseadas em refinado egoísmo. Todos queremos estar seguros no céu – seja lá o que for esse lugar – protegidos, seguros, certos, e portanto criamos instituições, organizações, para produzir a certeza, e chamamos-lhes religiões, aumentando assim a exploração. Ao passo que, se realmente virmos a falsidade de todas estas coisas, não só percebendo-as intelectualmente mas realmente sentindo-as completamente com a nossa mente e coração, então há uma possibilidade de fraternidade. Se o percebermos, então há um ato voluntário, verdadeiro, moral. Quando percebemos uma coisa completamente e agimos, chamo a isso um verdadeiro acto moral, e não quando somos forçados pela circunstâncias, ou quando se provoca uma fraternidade forçada pela completa e brutal necessidade da vida. Isto é, quando as pessoas de negócios, o capitalista, os financeiros, começarem a ver que esta distinção não compensa, que não podem fazer mais dinheiro, que não podem estar na mesma posição, então produzirão um meio forçando o indivíduo a tornar-se fraterno; tal como agora somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar, assim serão também forçados a cooperar. Por certo que isso não é fraternidade; é apenas uma ação provocada pela conveniência, sem inteligência e compreensão humanas.

Assim, para realmente trazer a inteligência humana à ação, os indivíduos têm que agir moralmente e voluntariamente e então criarão uma organização na qual serão verdadeiros lutadores contra a exploração. Mas isso requer muita percepção, muita ação inteligente, e só podem começar por vocês mesmos; só podem cuidar do vosso próprio jardim, não podem olhar pelo do vosso vizinho.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.




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