autoconhecimento
A Corrente Viva...
"Há uma parábola.
Certo dia, Buda chegou diante de uma multidão com uma flor nas mãos. Ele ia fazer uma palestra, mas permaneceu em silêncio.
Aqueles que tinham ido para ouvi-lo começaram a se perguntar o que ele estava fazendo. O tempo foi passando. Isso nunca acontecera antes. O que ele estava fazendo?
Eles começaram a pensar consigo mesmos se ele iria falar ou não. Então, alguém perguntou: “O que você está fazendo? Você se esqueceu de que nós viemos para ouvi-lo?"
Buda disse: “Eu comuniquei algo. Comuniquei algo que não pode ser comunicado por palavras. Você ouviu ou não?"
Ninguém havia ouvido. Mas um discípulo — um discípulo totalmente desconhecido, mencionado naquele momento pela primeira vez —, um bhikkhu chamado Mahakashyap riu, riu entusiasticamente.
Buda disse: “Mahakashyap, venha aqui. Eu lhe dou esta flor. Tudo o que podia ser dado por palavras, eu dei a todos, mas o que é realmente significativo — o que não pode ser dado por palavras — dou a Mahakashyap”.
A tradição zen tem questionado repetidamente: “O que foi comunicado a Mahakashyap? o que foi transmitido a Mahakashyap?” — uma transmissão sem palavras. “O que Buda disse e Mahakashyap ouviu?” Sempre que aparece que aparece alguém que sabe, ri também. As questões são apenas um truque.
Quando alguém compreende, também ri, mas onde há pessoas eruditas — que conhecem muito e ao mesmo não conhecem nada — a história é debatida. E então, decidem o que foi ouvido. Mas aquele que sabe, ri!
Bankei, um grande mestre zen, disse: “Buda näo disse nada. Mahakashyap não ouviu nada”.
Alguém perguntou a ele: “Buda não disse nada?”
“Não”, respondeu Bankei. “‘Nada’ foi dito; ‘nada’ foi ouvido. Foi dito e foi ouvido. Sou testemunha.”
Entäo, alguém disse: “Você não estava lá”.
Bankeì disse: “Eu não precisava estar lá. Quando ‘nada’ foi comunicado, ninguém era necessário como testemunha. Eu não estava lá e mesmo assim sou uma testemunha”. Alguém riu. Bankei disse: “Ele também foi uma testemunha!”
A corrente viva não pode ser comunicada. Ela está sempre presente; você apenas tem de chegar a ela. Ela está próxima, bem à vista.
Ela está em você; você é a corrente viva. Mas você nunca olhou para dentro; sua atenção sempre esteve no lado de fora.
Você tem sido orientado para o lado de fora e tornou-se fixado lá. Seu foco tem estado tão no exterior que no pode conceber qual o significado de estar dentro. Até mesmo quando tenta estar dentro, fecha os olhos e continua do lado de fora.
Estar dentro significa estar num estado da mente onde não há fora nem dentro. Estar dentro significa que não existe nenhuma barreira entre você e a totalidade. Quando não há nada fora, apenas então você chega à corrente interna.
Quando você tem um vislumbre, é transformado. Você sabe... conhece algo incompreensível. Sabe algo que o intelecto não pode compreender; sabe algo que o intelecto não pode comunicar. Ainda assim, alguém tem de comunicar mesmo com uma flor, mesmo com uma risada.
Como você comunica não interessa. São apenas gestos. Faz alguma diferença se eu uso meus lábios para falar ou se uso minhas mãos para presenteá-lo com uma flor? Mas se o gesto é novo, ele o perturba.
Quando Buda deu a flor a Mahakashyap, foi um gesto, assim como quando eu falo também é um gesto.
Eu produzo um som: é um gesto. Eu permaneço em silêncio: é um gesto. Mas quando o gesto é novo, desconhecido, você pensa que alguma coisa diferente está acontecendo. Nada é diferente.
A corrente viva não pode ser comunicada, mas mesmo assim tem de ser comunicada. De algum modo ela tem de ser indicada, de algum modo tem de ser mostrada."
Osho em Eu Sou a Porta
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