O hábito da reação - Osho
autoconhecimento

O hábito da reação - Osho




"A reação pertence ao passado, a resposta ao presente. Você reage com base em antigos padrões. Alguém insulta você; de repente o antigo mecanismo começa a funcionar; No passado, as pessoas insultaram você e você se comportou de determinada maneira; você se comporta da mesma maneira de novo. Você não está respondendo a esse insulto e a essa pessoa; você está simplesmente repetindo um velho hábito. Você  não se atentou para essa pessoa e para esse novo insulto - ele tem um sabor diferente - você está funcionando apenas como um robô. Você tem um determinado mecanismo dentro de si; aperta o botão e diz: Este homem me insultou, e então reage. A reação não é em face da situação verdadeira; é algo projetado. Você viu o passado nesse homem.

Aconteceu: Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e lhe deu um tapa no rosto; Buda esfregou o local do tapa e perguntou ao homem:
- E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: E agora? Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas, elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes e fracas, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era nem uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: E agora? Não houve reação da sua parte. 
Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda disse:
 - Isso foi demais; não podemos tolerar. Buda guarde os seus ensinamentos como senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então, todo mundo vai começar a fazer essas coisas.

Fique quieto - interveio Buda. - Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma ideia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa ideia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que 'aquele homem é uma ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário.' Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma ideia. Ele bateu nessa ideia.

Se vocês refletirem profundamente, seguiu Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem algo a dizer, porque essa é a maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração. Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam, abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo este homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso perguntei: E agora?

O homem ficou ainda mais confuso! E Buda disse aos seus discípulos.
-Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo a e ainda reagem.

Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite, ele não conseguiu dormir; É difícil, quando você vê um Buda, é difícil dormir de novo da maneira como costumava dormir; é impossível. Uma  vez após outra ele era assombrado pela experiência. Ele não conseguia explicar a si mesmo o que havia acontecido. Seu corpo todo tremia e transpirava copiosamente. Ele nunca cruzara com um homem daqueles; ele despedaçara toda a sua mente, tudo em que acreditava, todo o seu passado.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda; De novo, Buda lhe perguntou:
- E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Ao vir tocar os meus pés, você está dizendo algo que não pode ser dito comumente, pois no caso as palavras são insuficientes, não podem conter essas ideias. - Voltando-se aos discípulos, Buda chamou: - Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.

O homem olhou para Buda e disse:
- Perdoe-me pelo que fiz ontem.
- Perdoar? - exclamou Buda. - Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui; eu apenas me pareço com ele, mas não sou o mesmo; aconteceu muita coisa nessas vinte e quatro horas! O rio correu bastante; Portanto, não posso perdoar você, porque não tenho rancor contra você.
-E você é outro, continuou Buda. - Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado! Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem. Portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em que ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar".

Isso é resposta.

A reação pertence ao passado. Se você reagir de acordo com os antigos hábitos, sem pensar, então não estará respondendo. Ser compreensivo é ser totalmente vivo neste momento, aqui e agora. A resposta é um fenômeno bonito, é a vida. A reação está morta; é feia, podre, é um cadáver. Noventa e nove por cento do tempo, você reage e chama a isso de resposta. Raramente acontece na vida, de você realmente responder; mas sempre que isso acontece você tem um vislumbre. Sempre que isso acontece, a porta do desconhecido se abre. (...)

A cada momento você nasce de novo. A cada momento você morre e a cada momento você nasce. (...) Mudanças enormes acontecem diariamente; trata-se de um fluxo. Tudo continua fluindo, nada está parado. Mas a mente é uma coisa morta, é um fenômeno imobilizado. Agindo com a mente imóvel, você vive uma vida morta. Se não vive realmente, você já está morto e enterrado.

Livre-se das reações. E tenha cada vez mais respostas. Ser compreensivo é ter a capacidade de responder. Ser compreensivo, estar sempre respondendo, é ser sensível. Mas sensível ao aqui e agora."
Osho em Intimidade




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