Amar seus deuses, repetir certas palavras, adornar seu guru com guirlandas, entrar em transe em sua presença, derramar lágrimas — você pode fazer tudo isso pelos próximos mil anos, mas jamais descobrirá a verdadeira realidade. Perceber, sentir, amar uma nuvem, uma árvore, um ser humano, demanda uma enorme atenção e como você pode se dedicar a isso se sua mente está distraída com a aquisição de conhecimentos? O conhecimento é útil tecnologicamente — e nada mais. Se um médico não sabe operar, é melhor ficar longe dele. O conhecimento é necessário até um dado nível, em uma certa direção, mas não é a resposta definitiva para a nossa miséria. A solução definitiva para a nossa miséria está nesse sentimento, nessa paixão que nasce da ausência de si mesmo, quando você esquece tudo que você é. Esse tipo de paixão é imprescindível para sentir, entender, amar.
A realidade não é intelectual; mas desde a infância, através da educação, através de todas as assim chamadas formas de aprendizado, desenvolvemos uma mente sutil, competitiva, sobrecarregada de informações — como acontece com advogados, políticos, técnicos, especialistas. Nossas mentes foram trabalhadas, buriladas, o que se transformou no objetivo mais importante a alcançar e, com isso, todo o nosso sentimento murchou. Você não tem pena do homem pobre em sua amargura, não se sente jamais feliz ao ver um ricaçõ guiando seu belo carro; não fica encantado ao ver um lindo rosto; não sente emoção diante do arco-íris, ou do esplendor de uma gramado verdinho. Estamos tão absorvidos em nosso trabalho, em nossas misérias, que não temos um momento de lazer para sentir o que é amar, para ser bom, generoso. E, no entanto, desprovidos de tudo isso, queremos saber o que é Deus!... Que coisa incrivelmente estúpida e infantil! De forma que se torna muito mais importante para o indivíduo viver — não reviver; você não pode reviver sentimentos mortos, a glória que passou. Mas não podemos acaso viver intensamente, plenamente, prodigamente mesmo que só por um dia? Pois tal dia abrangeria um milênio. Não se trata de fantasia poética. Você compreenderá isso quando tiver vivido um dia pleno, no qual não existe tempo, nem futuro, nem passado — você conhecerá então a plenitude conferida por esse estado extraordinário. Esse modo de viver não tem nada a ver com o conhecimento.
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