Como funcionava a mente de Krishnamurti (por ele mesmo)
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Como funcionava a mente de Krishnamurti (por ele mesmo)


O interrogante deseja saber como a minha mente funciona. Se posso estender-me um pouco a esse respeito, eu o mostrarei. Não há um centro de onde ela opera, não há memória de onde ela reage. Há a lembrança do caminho que acabo de tomar, do caminho no qual vivo, há o reconhecimento de pessoas, incidentes; mas não há processo de acumulação, não há processo mecânico de gradual acumulação do qual procede a reação. Se eu desconhecesse o uso do inglês ou de outra língua qualquer, não estaria em condições de falar. A comunicação no nível verbal é necessária, para que possamos entender-nos; mas o que se diz, como é dito, e de onde é dito, isso é que tem importância. Ora, quando se faz uma pergunta, se a resposta parte de uma mente que acumulou experiências e lembranças, essa resposta é então mera reação e não é, portanto, raciocínio; mas quando não existe acumulação, o que significa que não existe reação, não há frustração, nem esforço, nem luta. O “processo” de acumulação, o centro acumulador, assemelha-se a uma árvore de raízes profundas, dentro de um curso d’água, a juntar dejetos em redor de si; e o pensamento, sentado no alto dessa árvore, imagina que está pensando, vivendo. A mente assim só está acumulando; e a mente que acumula, sejam conhecimentos, seja dinheiro ou experiência, não está vivendo, evidentemente. Só quando a mente se move, quando fluí, há o viver. O interrogante deseja saber como se chega à sabedoria e como ela se cultiva. Não se pode chegar à sabedoria; pode-se cultivar o saber, o cabedal intelectual, mas a sabedoria não é cultivável, porque não é coisa que se possa acumular. No momento em que começamos a acumular, o que temos é mera informação, mero conhecimento, que não é sabedoria. A entidade que cultiva sabedoria faz ainda parte do pensamento, e o pensamento é uma mera reação de estímulos. O pensamento, por conseguinte, é, tão só, a acumulação de memória, de experiência, de conhecimento, e, nessas condições, o pensamento não pode encontrar a sabedoria. Só na cessação do pensar há sabedoria; e a cessação do pensar só ocorre ao terminar o processo de acumulação, o que significa reconhecimento do “eu” e do “meu”. Enquanto a mente funciona na esfera do “eu” e do “meu”, que é apenas reação, não haverá sabedoria. Enquanto falo, estou consciente das palavras que pronuncio, mas não estou reagindo à pergunta de um centro. Para se descobrir a verdade de uma questão, de um problema, o processo do pensar, que é mecânico, e que conhecemos, tem de parar. Significa isso, por conseguinte, que há necessidade de completo silêncio interior, e só então conhecerão aquela ação criadora que não é mecânica, que não é mera reação. O silêncio, pois, é o começo da sabedoria. Veja, senhor, isto é bastante simples. Quando você tem um problema, sua primeira reação é pensar a respeito e resistir-lhe, aceita-lo ou livrar-se dele por meio de explicações — não é assim? Observe a si mesmo, e verá. Tome qualquer problema que surgir, e verá que a reação imediata é resistir-lhe ou aceita-lo; ou, se não faz nenhuma destas duas coisas, você o justifica ou o afasta com explicações. Assim, quando se faz uma pergunta, sua mente é logo colocada em movimento, como uma máquina; reage prontamente. Mas se quiser resolver o problema, sua reação imediata será o silêncio e não o pensar. Quando esta pergunta foi feita, minha reação foi o silêncio; e, estando em silêncio, vi logo que onde há acumulação não pode haver sabedoria. Sabedoria é espontaneidade, e não pode haver espontaneidade ou liberdade, enquanto há acumulação de saber, de memória. Assim, o homem de experiência não pode ser sábio nem um homem simples; mas o homem que está livre do processo de acumulação é sábio, sabe o que é silêncio; e tudo o que procede desse silêncio é verdadeiro. Esse silêncio não é coisa cultivável; não há nenhum meio, nenhum caminho que a ele conduza, não há “como”. O perguntar “como?” implica cultivo, não passa de uma reação do desejo de acumular silêncio. Mas ao compreender todo o processo de acumulação, que é o processo do pensar você conhecerá então aquele silêncio de onde brota a ação que não é reação; e pode-se viver nesse silêncio a todas as horas, pois não é um dom, uma capacidade — nada tem que ver com capacidade. Ele só vem a existência quando observamos com atenção cada reação, cada pensamento, cada sentimento, quando estamos conscientes do fato, sem explicação, sem resistência, sem aceitação ou justificação; e ao perceber o fato com toda a clareza, sem o obstáculo de barreiras e cortinas, então a própria percepção do fato dissolve o fato, e a mente fica tranquila. Só quando a mente está tranquila, sem fazer esforço algum para estar tranquila, só então ela é livre. Senhor, só a mente livre é sábia, e para ser livre, a mente tem de ser silenciosa.


Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando? 




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