autoconhecimento
Como lidar com a "atual" delinquência juvenil?
Pergunta: A delinquência juvenil está aumentando. Por que razão, e qual o remédio?
Krishnamurti: As raízes deste problema não estão profundamente cravadas na estrutura da moderna sociedade? E a sociedade não é o produto de nós mesmos? Vivemos em guerra uns com os outros — não é verdade? — porque desejamos ser importantes nesta sociedade; estamos todos lutando para alcançar sucesso, chegar a certa parte, adquirir virtude, tornar-se algo. Política, econômica, social e religiosamente, queremos atingir um objetivo, ter do melhor ou ser o melhor de todos, e nesse processo existe temor, inveja, avidez, ambição, crueldade. Toda a nossa sociedade está assentada nesse processo. E queremos forçar nossos filhos a adaptar-se à sociedade, a ser iguais a nós, a ajustar-se ao padrão da chamada cultura. Mas dentro desse padrão existe a revolta, tanto entre os pequenos como entre os adultos.
O problema se torna mais complexo ainda, se consideramos atentamente o nosso sistema de educação. Cumpre-nos averiguar o que se entende por educação. Qual a finalidade da educação. Obrigar-nos a nos submetermos, a nos ajustarmos à sociedade? É isso justamente o que agora estamos fazendo aos nossos filhos. Ou consiste a educação em ajudar o jovem, o estudante, a tornar-se cônscio de todas as influências condicionadoras — nacionalistas, religiosas, etc. — para delas libertar-se? Se temos verdadeiro empenho a esse respeito — e deveríamos tê-lo — nesse caso cumpre-nos estudar a criança realmente, não achais? Não a sujeitaremos a nenhuma influência ou autoridade, para moldá-la de acordo com um padrão, mas, sim, ajudá-la a se torna cônscia de todas as influências, para que cresça em liberdade. Observá-la constantemente, atentamente — notando os livros que lê, os heróis que cultua, observá-lo quando trabalha, quando brinca, quando repousa, e ajudá-la a ser não condicionada, livre.
Ajudar o homem a se tronar cônscio de todas as tendências nacionalistas, dos preconceitos, das crenças religiosas que condicionam a mente — isso significa, realmente, que devemos, em primeiro lugar, tornar-nos cônscios de nossas próprias maneiras de pensar, não achais? Afinal de contas, nós, os adultos, não sabemos viver juntos; vivemos numa eterna batalha uns com os outros e dentro de nós mesmos. Esta batalha, esta luta se projeta na sociedade; e a tal sociedade queremos ajustar o nosso filho. Não se pode alterar a sociedade; só o indivíduo pode alterar-se. Mas nós não somos indivíduos, somos? Estamos engolfados na massa, na sociedade; e se não compreendermos a nós mesmos, se não libertarmos a mente das limitações que a si mesma impôs, como poderemos ajudar a criança.
Pergunta: Pode-se viver no mundo sem ambição? O não ter ambição não nos leva ao isolamento?
Krishnamurti: Esta me parece uma questão fundamental. Podem-se ver no mundo os efeitos da ambição. Todos querem ser algo. O artista aspira a ser famoso, o colegial a ser presidente, o padre a ser bispo, etc. Cada um, neste mundo inteiro, está tentando, está lutando, está se esforçando, para se tornar importante. Mesmo em nosso sistema de educação, o aluno não inteligente é comparado com o aluno inteligente — e isso é uma coisa sumamente estúpida. E vemos o resultado dessa ambição projetado no mundo. Cada nação quer manter a todo custo a própria soberania.
Pois bem: o interrogante deseja saber se podemos libertar-nos dessa ambição e, se o pudermos, se não ficaremos isolados da sociedade. Porque esse medo de estar libertado da ambição, porque esse medo de estar sozinho? Podem coexistir a ambição e o amor? A mente que a todos os momentos está lutando para ser algo, para se tornar notável, essa mente, por certo, não sabe o que é o amor. Enquanto estivermos cultivando a ambição, estaremos isolados. Nós já estamos isolados, não achais? Mas, como sabeis, admitimos a ambição. Se um homem vive numa pequena e distante aldeia ou se vive numa cidade populosa, desde que possa intitular-se alguma coisa — sueco, hindu, dinamarquês, isto ou aquilo — sente ele, então, que é alguém. Ser respeitável, ser notável, ter poder, posição, dinheiro, virtude — todas essas coisas nos dão um sentimento de importância. Por isso, é muito difícil não ser ambicioso.
O homem que é como se nada fosse, esse homem é sem medo, sem ambição; está só, mas não está isolado. O libertar-se da ambição exige muita penetração, inteligência e amor; mas o homem que se acha num tal estado, que é mesmo que nada, não está isolado.
Krishnamurti — 14 de maio de 1956 — Verdade Libertadora — ICK
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