"Em um anoitecer, quando as pessoas pareciam tristes e aflitas, Maharaj começou a falar sobre a vida e a morte.
Se pudessem apenas aperceber-se da situação como ela realmente é – disse ele –, vocês também, como eu, não estariam preocupados com a vida e com a morte.
De fato, não há diferença alguma entre as duas.
Não estavam ‘mortos’ antes de nascer?
O que é a escuridão senão a ausência de luz?
O que é a ‘morte’ senão a ausência de ‘vida’?
E, mais significativamente, a ‘vida’ não é simplesmente a ausência da ‘morte’?
A ‘vida’ começa com uma imagem na consciência e, quando a imagem cessa de existir, nós a chamamos ‘morte’.
O medo da morte é realmente um produto do desejo de viver, do desejo de perpetuar a própria identidade com a entidade ilusória de um ‘eu’ como algo separado de ‘você’.
Aqueles que conhecem a realidade também conhecem a falsidade de ‘vida’ e ‘morte’.
A causa básica da confusão é a crença errônea de que há uma entidade, uma entidade objetiva e autônoma, para experimentar os acontecimentos – chamados ‘nascimento’ e ‘morte’, e a duração entre os dois chamada ‘vida’.
Na realidade, todos estes são meras imagens conceituais na consciência, as quais têm tanta substância como as imagens da televisão ou de um sonho.
Tente entender, continuou, o que é o fenômeno – todo fenômeno.
Eles são apenas aparições na consciência.
Quem os percebe? A própria consciência, através do mecanismo do conceito duplo de espaço e tempo, sem o qual as aparições não teriam uma forma perceptível e não poderiam ser conhecidas.
E a própria cognição acontece através da divisão da mente (sendo esta o conteúdo da consciência) em sujeito e objeto, e através do processo de raciocínio e seleção baseado na dualidade dos opostos interdependentes – amor e ódio, felicidade e infelicidade, pecado e mérito, etc.
Uma vez que este processo seja observado corretamente, pode ser facilmente entendido que não pode existir nenhum indivíduo real que nasça, viva e morra.
Há uma manifestação, uma aparição na consciência, geralmente conhecida como ‘nascer’ – uma ilusão no espaço.
Quando esta aparição manifestada atravessa seu intervalo de tempo de vida e chega a seu fim, ocorre uma outra ilusão na temporalidade, a qual é conhecida como ‘morrer’.
Este processo simples não pode ser percebido como tal enquanto se persistir na noção de alguém que ‘vive’ uma vida e ‘morre’ uma morte.
Maharaj, então, concluiu: Esse ‘material’, ou ‘químico’, o qual foi concebido no útero da mãe e se desenvolveu espontaneamente em um corpo de bebê, continua crescendo por si mesmo até seu limite máximo e, então, começa a decair, e, finalmente, acaba fundindo-se no ‘material’ original.
A respiração deixa o corpo e se mistura com o ar externo; a consciência interior funde-se com a Consciência Impessoal, e o processo desse ‘acontecimento’ particular termina.
O que-nós-somos não ‘nasce’, não ‘vive’, nem ‘morre’."
Sinais do Absoluto por Ramesh Balsekar
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