Descobrindo o extraordinário significado da vida
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Descobrindo o extraordinário significado da vida


Pergunta: Os dias se sucedem nesta fútil jornada da existência. Que significa tudo isso? Tem a vida algum significado?

KRISHNAMURTI: Quase todo mundo faz esta pergunta, não é verdade? Quase todos nos achamos confusos; e quando perguntamos se a vida tem alguma finalidade, significação, queremos que nos garantam que tem, ou que nos digam qual é o alvo, a finalidade da vida. 

Ora, a vida tem algum algo, alguma finalidade? Qual é o estado da mente que faz esta pergunta? Certamente é muito importante  averiguar isto do que descobrir se a vida tem alguma finalidade. Afinal, que é a vida? Ela pode ser compreendida pela mente? A vida são tristezas e alegrias, sorrisos e lágrimas, e lutas infindáveis; é a insondável profundeza e a beleza de todas as coisas e de nenhuma coisa. A vida é imensa e não pode ser compreendida por uma mente pequena. E a mente pequena é que faz tal pergunta. Porque a mente pequena se acha confusa — e este é o caso da maioria de nós — ela deseja saber qual é a finalidade da vida. Confusos, que estamos, politicamente, economicamente e, também, espiritualmente, interiormente, queremos uma diretiva, queremos que nos digam o que fazer. E quando o perguntamos, a resposta que recebemos é invariavelmente confusa, porque a mente confusa "projeta" e traduz a resposta. 

A questão, por conseguinte, não é saber qual é a finalidade da vida — porque não podemos prender o vento em nossa mão nem fechar dentro de uma moldura a vastidão da vida, para adorá-la. Mas o que se pode fazer, é ver o estado de confusão em que vos achais e descobrir como a ele atender. Uma vez tenhamos compreendido a nossa confusão, nunca mais perguntaremos qual é a finalidade da vida, porque então estaremos vivendo, não mais estaremos agrilhoados ao tirânico padrão de uma dada sociedade, comunista ou capitalista. E esse próprio viver encontrará a resposta apropriada. 

A mente confusa que busca claridade, só encontrará mais confusão. Não é exato isso? Se estou confuso e busco um caminho, uma diretriz, tanto o caminho como a diretriz hão de ser também confusos. Só a mente esclarecida pode achar o caminho, se caminho existe — e não a mente confusa. Ora, isto é muito simples e óbvio. 

Pois bem. Se compreendo que é inútil buscar uma diretriz enquanto estou confuso, continuarei a procurá-la? Ou desistirei de recorrer a qualquer pessoa, pedindo-lhe uma diretriz, percebendo que minha escolha de um guru, um político, um livro, ou de determinados valores, há também de ser confusa? Penso, pois, essencial compreendermos a totalidade de nossa confusão, não teoricamente, mas como experiência real.

O fato é que estais confusos, mas tendes medo de reconhece-lo. Andais nervosos, apreensivos, porque se admitirdes que estais confusos, não sabereis o que deveis fazer. E, assim, vos lançais no torvelinho da ação imediata. Mas se vos tornais cônscios da totalidade de vossa confusão, que acontece? Ao saberdes que qualquer movimento da mente confusa só pode acarretar mais confusão, não vos detendes imediatamente? Cessa então toda a busca; e quando a mente confusa detém a sua busca, desaparece também a confusão e há um novo começo. Isto é muito simples; o difícil é reconhecermos para nós mesmo que estamos confusos. 

Assim, pois, estais experimentando, realmente e não apenas verbalmente, este estado de confusão em que vos achais? Se estais, então não perguntareis a mais ninguém qual é o significado da vida. Se percebeis realmente a vossa confusão, se realmente a experimentais, como um fato, uma realidade, deixareis com toda a certeza de fazer perguntas, exigências, buscas, e esse próprio ato, essa própria cessação, é o começo de uma investigação de qualidade inteiramente nova. Descobrirá então a mente o extraordinário significado da vida, sem que ninguém o diga.

Atualmente, queremos ser tirados de nossa confusão por outra pessoa; mas ninguém nos pode guiar para fora de nossa confusão. Enquanto existir escolha, tem de haver confusão. Escolha indica confusão. No entanto, temos um orgulho imenso dessa faculdade de escolher, a que chamamos "livre arbítrio". E só a mente que não escolhe, mas percebe diretamente, sem interpretação, sem ser influenciada, é só esta mente que não está confusa e, portanto, se acha capacitada para descobrir o incognoscível. 

Krishnamurti — Da solidão à plenitude humana 





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