autoconhecimento
Diferenças entre filosofia e darshan - Osho
"A filosofia não é Darshan. Darshan é um termo oriental. Darshan significa percepção; filosofia significa pensar. (...)
Filosofia significa pensar, e darshan significa ver. Os dois são basicamente
diferentes; não só diferentes, mas também diametralmente opostos, porque quando está pensando, não pode ver. Está tão cheio de pensamentos que a percepção se turva, a percepção se nubla. Quando deixa de pensar, volta-te capaz de ver. Então tem os olhos abertos; limpam-se.
A percepção só acontece quando cessa o pensamento.
Para o Sócrates, Platão e Aristóteles, e toda a tradição ocidental, pensar é a base.
Para o Kanad, Kapil, Patanjali, Buda e toda a tradição oriental, ver é a base.
De modo que Buda não é um filósofo, absolutamente; nem tampouco Patanjali, nem Kapil ou Kanad. Não são filósofos: viram a verdade; não pensaram sobre ela.
Recorda bem que só pensa quando não pode ver. Se pode ver, não há razão para pensar.
Pensar se faz sempre na ignorância. Pensar não é conhecimento, porque quando sabe, não há necessidade de pensar. Quando não sabe, enche esse oco pensando. Pensar é mover-se às cegas. De modo que as filosofias orientais não são filosofias.
Usar a palavra filosofia para o darshan oriental é absolutamente errôneo.
Darshan significa ver, conseguir a visão, dar-se conta, saber... imediatamente, diretamente, sem a mediação de pensar e o pensamento. Pensar nunca pode levar ao desconhecido.
Como vai levar? É impossível. Terá que compreender o processo mesmo de pensar.
Quando pensa, o que faz realmente? Segue repetindo velhos pensamentos, lembranças.
Se te fizer uma pergunta -existe Deus?-, pode pensar sobre ela. Repetirá tudo o que ouviste, tudo o que tem lido, tudo o que acumulaste a respeito de Deus. Inclusive se chegar a uma conclusão nova, sua novidade será só aparente, não real. Será simplesmente uma combinação de velhos pensamentos. Pode combinar muitos pensamentos velhos e criar uma nova estrutura, mas essa estrutura será aparentemente nova, não nova.
Pensar nunca pode levar a nenhuma verdade original.
Pensar nunca é original; não pode sê-lo. Sempre é do passado, do velho, do conhecido. Pensar não pode tocar o desconhecido; move-se repetitivamente no círculo do conhecido.
Não conhece a verdade, não conhece deus. O que pode fazer? Pode pensar sobre isso.
Moverá-te em círculos, dando mais e mais voltas. Nunca pode chegar a nenhuma experiência disso.
De modo que a ênfase não está em pensar, a não ser em ver. Não pode pensar a respeito de Deus, mas pode ver. Não pode chegar a nenhuma conclusão a respeito de Deus, mas pode cair na conta. pode-se voltar uma experiência. Não pode chegar a isso mediante a informação, mediante os conhecimentos, mediante as Escrituras, mediante teorias e filosofias; não, não pode chegar a isso. Só pode chegar a isso se descartar todos os conhecimentos. Tudo o que ouviste e lido e aprovisionado, todo o pó que recolheu sua mente, todo o passado, deve ser posto de lado. Então seus olhos são novos, então sua consciencia está livre de nuvens, e então pode vê-lo.
Está aqui e agora; você é o que está nublado. Não tem que ir a nenhuma outra parte para encontrar o divino ou a verdade: está aqui. Está aqui mesmo, onde está. E sempre foi assim, só que você está cheio de nuvens, seus olhos estão fechados. De modo que não é questão de pensar mais; a questão é como alcançar uma consciencia não pensante.
Por isso digo que a meditação e a filosofia são contrárias. A filosofia pensa, a meditação alcança uma consciencia não pensante. E as filosofias orientais não são realmente filosofias. No Ocidente, existe a filosofia; no Oriente, só as realizações religiosas.
É obvio, quando acontece um Buda, quando acontece um Kanad ou um Patanjali, quando alguém chega a realizar o absoluto, fala disso. As enunciações que faz são diferentes das enunciações aristotélicas, das conclusões filosóficas ocidentais.
A diferença é esta: um Kanad, um Buda, primeiro chega à realização -a realização é o primeiro- e logo faz enunciações sobre ela. A experiência é o primário, e logo a expressa. Aristóteles, Hegel e Kant pensam, e então, mediante o pensamento e a argumentação e a dialética lógicas, chegam a conclusões específicas. Essas conclusões se alcançam mediante o pensamento, mediante a mente, não mediante alguma prática de meditação. Então fazem asseverações, fazem enunciações. A fonte é diferente.
Para um Buda, suas enunciações são só um veículo para comunicar. Ele nunca diz que mediante sua comunicação alcançará a verdade. Se pode entender a Buda, isso não significa que tenha alcançado a verdade; significa simplesmente que aprovisionaste conhecimentos.
Terá que passar por meditações, êxtase profundos, atoleiros profundos
da mente, e só então chegará à verdade.
De modo que a verdade se alcança mediante uma certa experiência existencial. É existencial, não é mental. Deve trocar para conhecê-la e para sê-la. Se segue sendo o mesmo e segue aprovisionando informação, voltará-te um grande erudito, um filósofo, mas não será um iluminado. Seguirá sendo o mesmo homem; não terá havido nenhuma mutação.
Por isso, a filosofia é uma dimensão, em que a meditação é justo o contrário: a oposta, a dimensão diametralmente oposta. Assim não pense sobre a vida; mas bem, vive-a a fundo. E não pense a respeito de problemas supremos; mas bem, entra neste mesmo momento no supremo. E o supremo não está no futuro: está sempre aqui, intemporalmente aqui.
Outra pessoa tem feito também uma pergunta similar. perguntou:
podem resolver problemas pensando?
Sim, certos problemas se podem resolver pensando, só os problemas que são criados pelo pensamento podem ser resolvidos por ele. Mas nenhum problema real pode ser resolvido com ele; nenhum problema existencial e vívido pode ser resolvido com ele. (...)
Pergunta: Há dito que a ciência experimenta com o objetivo, e a religião com o subjetivo. Mas agora há uma nova ciência crescente: a psicologia, ou mais exatamente, a psicologia profunda, que é tão subjetiva como objetiva. De modo que a ciência e a religião se encontram na psicologia profunda?
Osho: Não podem encontrar-se. A psicologia profunda, ou o estudo dos fenômenos psíquicos, também é objetiva. E, o método da psicologia profunda é o método da ciência objetiva.
Tenta ver a distinção. Por exemplo, pode estudar meditação de maneira científica.
Pode observar a alguém que esteja meditando, mas então, isto se tornou objetivo para ti.
Você medita e eu observo. Posso trazer todos os instrumentos científicos para observar o que te está acontecendo, o que está acontecendo dentro de ti, mas o estudo segue sendo objetivo. Eu estou fora. Eu não estou meditando. Você está meditando; é um objeto para mim.
Então eu trato de compreender o que te está acontecendo. Inclusive mediante
instrumentos se podem saber muitas coisas sobre ti, mas isso seguirá sendo objetivo e cientista. De modo que, em realidade, o que estou estudando não é o que te está acontecendo realmente, a não ser os efeitos que seu corpo está registrando.
Não pode penetrar em um buda, no que lhe está acontecendo, porque, em realidade, não está acontecendo nada. O centro mais profundo de um iluminado é um nada. Não está acontecendo nada ali. E se não estar acontecendo nada, como vais poder estudá-lo? Pode estudar algo. Pode estudar as ondas alfa; o que lhe está acontecendo à mente, ao corpo, à química, pode-o compreender. Mas, em realidade, quando alguém se ilumina, não está acontecendo nada no mais fundo. Todo acontecimento cessou.
Isto é o que quer dizer: o mundo cessou. Já não há sansara, nenhum acontecimento. É como se não fora.
Por isso diz Buda: "Agora me tornei um no-forma, não-ser. Não há ninguém dentro de mim. Sou só um vazio. Chama-a desapareceu, e a casa está desocupada". Não está acontecendo nada. O que pode registrar respeito a isso? E como muito pode registrar que não está acontecendo nada. Se acontecer algo, pode ser registrado objetivamente.
O método da ciência segue sendo objetivo, e a ciência tem muito medo ao subjetivo, por muitas razões. A ciência e a mente científica não podem acreditar no subjetivo, porque, em primeiro lugar, é privado e individual e ninguém pode entrar nisso. Não pode fazer-se público e coletivo, e a não ser que algo seja público e coletivo, não se pode dizer nada sobre isso."
Osho em O Livro dos Segredos IV
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