Pontos de vista, são apenas pontos; não traduzem, portanto, a expressão máxima da realidade. Não me atenho e não combato a possibilidade deste filme ter sido encomendado como uma das "engenharias" utilizadas pelos "dominadores do sistema" para a perpetuação de seus condicionamentos de superioridade patriótica. Prefiro compartilhar com o autor e leitores da critica exposta no blog cinegnose, a percepção que tive diante desta obra, que, para mim, traduz com maestria aquilo que traduz o espírito contido no nome deste blog: a gnose no cinema; ou seja, a capacidade de perceber o significado do não-manifesto apesar da limitação dos símbolos utilizados e a capacidade de leitura por parte daquele que se depara com tais símbolos.
O filme “Argo”, para mim, apresenta uma grande metáfora referente ao processo separatista, dualista, fragmentador, cuja natureza exata, encontra-se no domínio do poder hipnótico e profundamente letárgico criado pela “rede do pensamento psicológico condicionado por sistemas de crenças e relativos valores temporais transgeracionais” (cuja grande parte da população, mesmo com tantos mecanismos de informação, destes se encontram em domínio e totalmente inconsciente).
O filme mostra, com maestria, como o pensamento psicológico — não estamos falando do pensamento técnico — é a natureza exata de todo conflito humano, seja ele, pessoal ou coletivo, multi-racial; o choque de linhas de pensamentos psicológicos. Argo retrata uma máxima, já corrente nos porões da sabedoria coletiva: um problema nunca pode ser resolvido através das ferramentas que o criaram. O conflito instalado pelo choque de linhas de pensamentos psicológicos, como bem mostra o filme, de modo algum pode ser resolvido mediante o uso das limitadas faculdades da lógica, da razão e do acúmulo de conhecimento que nos mantém num modo de pensamento cartesiano. Por maior que seja o acúmulo de conhecimento livresco, acadêmico, só através do contato com frescor de uma mente inocente (cujo arquétipo no filme Argo é expresso através da conversa entre o personagem de Bem Affleck e seu filho, através de uma linguagem impessoal, por meio de canais de comunicação de outra esfera), é que dá-se a manifestação do “absurdo e a graça”, cuja mensagem, cujo paradigma, para as mentes lógicas e cartesianas, sempre se mostra como algo “absurdo” e, fatalmente digno de se opor resistência e chacotaria. Como nas palavras de Arthur Schopenhauer, Toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é aceita como evidente por si própria. Em outras palavras, o conflito é sempre causado pela limitação de compreensão da verdade e a sustentação daquilo que é ilusório. E, aqui, creio que Argo nos apresenta, com maestria, a grande função gnóstica que a ARTE, em suas várias formas de expressão, — mesmo que através do cinema com seus pastiches —, para aqueles que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, se mostra como um inominável portal de possibilidades de retomada de consciência. O que se mostra como um absurdo para a mente lógica, racional, cartesiana, sempre presa aos seus conceitos, achismos, conhecimentos, tradições, mente esta é que sempre vitimada por medos, ansiedades, ceticismo e dúvidas, para a mente que sofre a ação direta de um poderoso insight de uma Inteligência amorosa e criativa, tudo é possível, tudo é graça, tudo é arte. Desde os primórdios da humanidade, tem sido pela arte que o homem tem tentado transmitir ao coletivo, suas percepções da realidade; no entanto, quando o pensamento psicológico condicionado entra em cena, com seu poder de corrupção, de fragmentação divisória, a mesma arte que tinha com princípio básico a elevação humana, torna-se fonte de maiores condicionamentos enclausurantes , portanto, conflitantes.
Finalizando, para mim, Argo demonstra também que, a origem da verdadeira Inteligência, se mantém sempre em anonimato, não tendo como ser organizada pela rede do pensamento condicionado.
Fraterabraços!