autoconhecimento
Há uma percepção pura eliminadora do conflito humano?
(...) Vamos descobrir juntos — não concordar, não como se fosse um conceito verbal intelectual — se há uma percepção, uma ação, que terminará com o conflito, não gradualmente, mas imediatamente. Quais são as implicações disso? O cérebro, sendo programado para o conflito, é aprisionado nesse modelo. Estamos perguntando se esse modelo pode ser rompido imediatamente, não gradualmente. Vocês podem pensar que podem rompê-lo por meio das drogas, do álcool, do sexo, das diferentes formas de disciplina, entregando-se a alguma coisa — o homem tentou mil modos diferentes de fugir deste terror do conflito. Agora, estamos perguntando: é possível para um cérebro condicionado romper esse condicionamento imediatamente?
(...) Há múltiplas formas de conflito, há milhares de opiniões, portanto milhares formas de conflito. Mas nós não estamos falando sobre as várias formas de conflito, mas sobre o próprio conflito(...) sobre o conflito do cérebro humano e sua existência. Existe uma percepção, uma percepção que não nasça da memória, do conhecimento, que veja toda a natureza e estrutura do conflito? Uma percepção desse todo? Não uma percepção analítica, não uma observação intelectual de vários tipos de conflito, não uma resposta emocional ao conflito. Existe uma percepção que não seja feita da lembrança, que é o tempo, que é o pensamento? Existe uma percepção que não pertence ao tempo ou ao pensamento, que possa ver toda a natureza do conflito e, com essa própria percepção, produzir o fim do conflito? O pensamento é tempo. O pensamento é experiência, conhecimento formado no cérebro como memória... A multiplicação do conhecimento, a expansão do conhecimento, a profundidade do conhecimento pertencem ao tempo. Assim, o pensamento é tempo — qualquer movimento psicológico é tempo... O pensamento e o tempo são indivisíveis.
E nós estamos fazendo a seguinte pergunta: existe uma percepção que não pertença ao tempo e ao pensamento? Uma percepção inteiramente fora do modelo ao qual o cérebro se acostumou? Existe isso, essa coisa que, talvez, por si irá solucionar o problema? Nós não solucionamos o problema em um milhão de anos de conflito, estamos dando continuidade ao mesmo padrão. Devemos descobrir, com inteligência, hesitantemente, com cuidado, se há um modo, se há uma percepção que rompa com este modelo.
(...) Agora, podemos observar — não importa o que — sem nomear, sem a lembrança?(...) Vocês alguma vez já tentaram fazer isso diretamente? Olhem para a pessoa sem nomeá-la, sem o tempo e a lembrança, e olhem também para vocês mesmos — para a imagem que construíram de vocês mesmos, a imagem que construíram do outro; olhem como se estivessem olhando pela primeira vez — como olhariam para uma rosa pela primeira vez. Aprendam a olhar; aprendam a observar esta qualidade que surge sem toda a operação do pensamento.
(...) Agora, podemos nós, juntos, ouvir ou observar assim, sem a palavra, sem a lembrança, sem todo o movimento do pensamento? Isto significa uma atenção completa, não a atenção de um centro, mas uma atenção que não tem nenhum centro. Se vocês possuem um centro através do qual prestam atenção, esta é apenas uma forma de concentração. Mas se vocês estão prestando atenção e não há nenhum centro, isto significa que estão dando completa atenção; nessa atenção não há nenhum tempo.
(...) Obviamente, deve-se exercer a capacidade de ser lógico, racional e, ainda assim, conhecer as suas limitações, porque o pensar racional, lógico, ainda faz parte do pensamento. Sabendo que o pensamento é limitado, estejam cônscios dessa limitação e não o empurrem adiante, porque ele ainda será limitado, por mais longe que vocês vão, enquanto que, se vocês observam uma rosa, uma flor, sem a palavra, sem nomear a cor, mas apenas olham para ela, então esse olhar produz grande sensibilidade, quebra esse sentido de densidade do cérebro e dá uma extraordinária vitalidade. Há uma espécie de energia totalmente diferente quando há a percepção pura, que não está relacionada com o pensamento e o tempo.
Jiddu Krishnamurti — A Rede do Pensamento
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