Krishnamurti - A compreensão do desejo
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Krishnamurti - A compreensão do desejo


Começamos, pois, a ver que a mente deve ser vigilante e sensível. Estou empregando a palavra "mente" para designar o "intercâmbio" entre cérebro e a coisa que controla o cérebro; pois a mente não consta apenas de nervos e células cerebrais, mas também daquilo que é ao mesmo tempo transcendente e constituído de células - a coisa total. A mente que a maioria de nós possui está sobrecarregada de problemas, aos quais todos os dias acrescentamos novos problemas. Dessa maneira, todo o nosso ser se torna embotado e perdemos toda a sensibilidade. E quando não somos sensíveis, fazemos esforço. Vede, por favor, o círculo vicioso em que estamos aprisionados.

Assim, pois, a compreensão do desejo é necessária. Tendes de compreender o desejo e não viver sem desejo. Se matais o desejo, ficais paralisado. Se olhais o por do sol à vossa frente, esse próprio ato de olhar constitui um deleite, se sois sensível. Isso também é desejo - o deleite. E não podeis ver o por do sol e com ele deleitar-vos, se não sois sensível. Se, vendo um homem rico passar em seu luxuoso carro, não podeis deleitar-vos com isso - não porque desejeis um carro igual, mas porque simplesmente vos deleita ver um homem conduzindo um belo carro; ou se, vendo um pobre ente humano, sujo, andrajoso, inculto, desesperado, não sois capaz de infinita piedade, afeição, amor - não sois sensível. Como podeis encontrar a realidade, se não tendes essa sensibilidade, esse sentimento?

Assim, para compreender o desejo, é preciso compreender, escutar cada murmúrio da mente e do coração, cada alteração do pensamento e do sentimento; é preciso observar o desejo, tornar-se sensível a ele, vivo para ele. Não podeis tornar-vos vivo para o desejo, se o condenais ou se o comparais. Deveis estar solicitamente atento ao desejo, porque ele vos dará uma compreensão imensa. E dessa compreensão provém a sensibilidade. Sois então sensível, não apenas fisicamente sensível à beleza, à sordidez, às estrelas, ao sorriso ou às lágrimas, mas sensível também à todos os murmúrios, todos os sussurros que vos povoam a mente - vossas secretas esperanças e temores.

E desse escutar, desse vigiar, vem a paixão, aquela paixão aliada do amor. Só esse estado estado é que pode cooperar. E só esse estado que é capaz de cooperar, sabe quando não se deve cooperar. Por conseguinte, em virtude dessa profunda compreensão e vigilância, a mente se torna eficiente, lúcida, cheia de vitalidade e de vigor; e só essa mente pode viajar para muito longe.

Krishnamurti - O Despertar da Sensibilidade




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