Krishnamurti - Nada novo no front da insatisfação com as teorizações
autoconhecimento

Krishnamurti - Nada novo no front da insatisfação com as teorizações



Não existe nenhum movimento de aprender quando existe aquisição de conhecimento, os dois são incompatíveis, eles são contraditórios. O movimento do aprender implica um estado em que a mente não tem nenhuma experiência prévia acumulada como conhecimento. O conhecimento é adquirido, ao passo que o aprender é um movimento constante, não é um processo aditivo, nem aquisitivo, portanto, o movimento do aprender implica um estado em que a mente não tem nenhuma autoridade. Todo conhecimento indica autoridade, e uma mente que é entrincheirada na autoridade do conhecimento não tem possibilidade de aprender. A mente só pode aprender quando o processo aditivo cessou completamente. É bastante difícil a maioria de nós diferenciarmos entre aprender e adquirir conhecimento. Com a experiência, pela leitura, pelo escutar, a mente acumula conhecimentos, é um processo aquisitivo, um processo de adicionar algo ao que já se sabe, e deste fundo acumulado de conhecimento nós funcionamos. Atualmente, o que geralmente chamamos aprender é esse processo de adquirir novas informações e adicioná-las ao acumulado de conhecimentos que já temos. Mas falo sobre algo inteiramente diferente! Por aprender que eu não quero dizer adicionar algo ao que você já conhece. Só se pode aprender quando não existe nenhum apego ao passado como conhecimento, isso é, quando se vê algo novo e não o traduz em termos do conhecido. A mente que aprende é uma mente inocente, ao passo que a mente que meramente adquire conhecimento é velha, estagnada, corrompida pelo passado. Uma mente inocente percebe instantaneamente, aprende todo o tempo sem nada acumular, e só tal mente é madura.
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Para  acontecer a completa mutação na consciência você deve negar a análise e a busca, e não ficar sob qualquer influência – que é extremamente difícil. A mente, vendo o que é falso, afasta completamente o falso, não sabendo o que é a verdade. Se você já sabe “o que é verdade”, então você está apenas trocando o que é falso para aceitar o que você imagina ser a verdade. Não existe nenhuma renúncia, se você conhece para onde você está indo, e o que vai receber em troca. Existe a renúncia apenas, quando você deixa de lado alguma coisa, não sabendo o que vai acontecer. Esse estado de negação é totalmente necessário. Por favor, siga isto cuidadosamente, porque se você tem ido tão longe você vai ver que, em estado de negação você descobre o que é a verdade, pois, a negação é o esvaziamento da consciência do conhecido. Afinal, a consciência é baseada no conhecido, na experiência, na herança racial, na memória, nas coisas que a pessoa experimentou. As experiências são sempre do passado, operam no presente, sendo modificada no presente e continuam no futuro. Tudo isso é a consciência, todo o acumulado dos séculos. Só tem a sua utilidade na vida mecânica. Seria absurdo negar a todos os conhecimentos científicos adquiridos através dos tempos passados. Mas, para acontecer uma mutação na consciência, a uma revolução em toda esta estrutura, deve haver um completo vazio. E esta vacuidade só é possível quando existe a descoberta, vendo a realidade do que é falso. Então, você vai ver, se você tem ido tão longe, que o vazio traz em si uma completa revolução na consciência: ela aconteceu.
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A maioria de nós nunca está só. Você pode se retirar nas montanhas e viver como um monge, mas enquanto fisicamente independente, você terá consigo todas as suas idéias, suas experiências, suas tradições, seu conhecimento do que foi. O monge cristão em uma cela do mosteiro não está só, ele está com o seu conceito de Jesus, com a sua teologia, com as crenças e os dogmas do seu condicionamento pessoal. Do mesmo modo, o sannyasi na Índia, que se retira do mundo e vive em isolamento, não está só, porque também ele vive com as suas memórias. Eu estou falando de uma solidão na qual a mente é totalmente livre do passado, e só tal mente é virtuosa, pois apenas na solidão existe inocência. Talvez você diga, "Isso é pedir muito, uma pessoa não pode viver assim neste mundo caótico, onde tem de ir ao escritório todo dia, ganhar o sustento, suportar as crianças, agüentar as impertinências da esposa ou do marido, e tudo o mais". Mas eu penso que o que está sendo dito está diretamente relacionado à vida diária e ação, caso contrário, não tem nenhum valor. Você vê, desta solidão surge uma virtude que é vigorosa e que traz um senso extraordinário de pureza e bondade. Não importa se a pessoa comete erros, isso é de muito pouca importância. O que importa é ter esta percepção de estar completamente só, incontaminado, pois é tão somente uma mente assim pode conhecer ou pode estar atenta ao que está além da palavra, além do nome, além de todas as projeções da imaginação.

Uma mente quieta não está buscando qualquer tipo de experiência. E se não está buscando, portanto está completamente silenciosa, sem qualquer movimento do passado e livre do conhecido, em seguida você encontrará se for profundamente que existe um movimento do desconhecido que não é reconhecido, que não é traduzível, que não pode ser colocado em palavras – então você descobrirá um movimento que é imenso. Esse movimento é atemporal porque nele não existe tempo, nem espaço, nem algo para experimentar, nem algo para ganhar, alcançar. Desta forma a mente conhece o que é criação¹ – não a criação do pintor, do poeta, do orador; mas aquela criação que não tem nenhum motivo, que não tem nenhuma expressão. Aquela criação é amor e morte². Tudo isso do começo ao  fim é meditação. O homem que quer meditar precisa se conhecer! Sem autoconhecimento não se pode ir longe. Embora você tente ir longe, só pode ir tão distante quanto a sua própria projeção³, e sua própria projeção está muito perto, muito próxima, não o conduz a nenhum lugar. Meditação é aquele processo de derrubar as bases imediatamente, instantaneamente, e criar – naturalmente, sem qualquer esforço – aquele estado de quietude. E só então existe uma mente que está além do tempo, além de experiência, e além do conhecido
Krishnamurti – O Livro da Vida




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