Meditação é um estado de atenção livre dos limites temporais
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Meditação é um estado de atenção livre dos limites temporais


O sol fora tragado pela imensas nuvens de cor detrás dos Montes Romanos; esparramadas no céu, o seu intenso fulgor embeleza aquela paisagem esplêndida que nem mesmo os postes telegráficos ou a interminável fileira de prédios conseguiam ofuscar. Anoitecia e o carro seguia seu caminho*.

A ausência do contorno das montanhas, invisíveis à noite, transfigurava aquela paisagem. Ver com o pensamento e ver sem o pensamento são duas coisas distintas. Ao contemplarmos, com o pensamento, aquelas árvores ao longo da estrada e os edifícios do lado oposto aos campos assolados pela seca, o cérebro permanecia acorrentado ao tempo, à experiência e à memória. Neste processo, a incessante atividade do pensamento embota o cérebro, tornando-o incapaz de renovar-se. Sua ação mostra-se inadequada e repetitiva por força do eterno mecanismo de reação ao desafio. O ato de ver com o pensar mantém o cérebro prisioneiro do hábito e do reconhecimento. Dominado pelo cansaço e pela apatia, ele passa a atuar nos estreitos limites de sua própria criação. O cérebro atinge a liberdade quando o pensamento está ausente, o que não significa desequilíbrio ou loucura. Ausente o pensamento, resta apenas o estado de pura observação, livre do processo mecânico de reconhecer e comparar, justificar e condenar. Esse modo de ver desconhece a fadiga, pois destrói os processos mecânicos do pensar condicionado pelo tempo. O repouso absoluto renova a mente, torna-a apta a responder ao desafio sem reagir, a viver sem deteriorar, a morrer livre da tortura dos problemas. Ver sem o pensamento é ver sem  a interferência do tempo, do conhecimento e do conflito. A liberdade de ver está fora do âmbito da reação, sempre presa a um motivo. A indiferença, o alheamento ou o desinteresse não resultam da observação livre de reação. Ver sem o mecanismo do pensamento é ver sem restrições, de maneira imparcial, livre de qualquer barreira, porém, apto a distinguir entre os diversos elementos que compõem o mundo em que vivemos. Existe uma diferença entre uma árvore e uma casa. Ver sem o pensamento não significa um cérebro adormecido. Ao contrário, é justamente quando ele está completamente despertado, atento, livre de atrito e dor. A meditação brota do estado de atenção, sem limites temporais.

30 de setembro de 1961
* A caminho de Circeo, cidade situada na costa italiana, entre Roma e Nápoles 

Krishnamurti — Diário de Krishnamurti — Cultrix

  




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