O Zen diz: se você conseguir parar de filosofar, há uma esperança para você. No momento em que você para de filosofar, você se torna inocente como uma criança. Mas lembre-se: a ênfase do Zen em não saber não significa que ele enfatiza a ignorância. Não saber não é ignorância. Não há nem conhecimento nem ignorância; ambos foram transcendidos.
Um homem ignorante é alguém que ignora, é assim que a palavra surgiu. A raiz é "ignor". A pessoa ignorante é alguém que vai ignorando alguma coisa essencial. Desse jeito a pessoa instruída é a pessoa mais ignorante, porque ela sabe sobre o céu e o inferno e não sabe nada sobre ela mesma. Ela sabe sobre Deus, mas ela não sabe nada sobre quem ela é, e o que é essa consciência interior. Ela é ignorante porque ela está ignorando a coisa mais fundamental na vida: ela está ignorando a si mesma. Ela está se mantendo ocupada com o não-essencial. Ela é ignorante — cheia de conhecimento, mas completamente ignorante.
Não saber significa simplesmente um estado de não-mente. A mente pode ser instruída, a mente pode ser ignorante. Se você tem pouca informação você vai ser considerado ignorante; se você tem mais informação, você vai ser considerado instruído. Entre ignorância e conhecimento a diferença é de quantidade, de graus.A pessoa ignorante é menos instruída, isto é tudo; a própria pessoa instruída pode aparecer ao mundo como menos ignorante, mas elas não são diferentes, suas qualidades não são diferentes.
O Zen enfatiza o estado de não-saber. Não saber significa que alguém não é nem ignorante e nem instruído. Ele não é instruído porque ele não está interessado em mera informação e ele não é ignorante porque ele não está ignorando — ele não está ignorando a questão mais essencial. Ele não está ignorando o seu próprio ser, sua própria consciência.
Não saber tem uma beleza própria, uma pureza. É justamente como um espelho puro, um lago completamente silencioso refletindo as estrelas e as árvores na margem. O estado de não-saber é o ponto mais alto na evolução humana.
O conhecimento é apresentado à mente depois do nascimento físico. A sabedoria está sempre presente, assim como o coração sabe como bater ou uma semente sabe como germinar ou uma flor sabe como crescer, ou um peixe sabe como nadar. E é muito difícil saber sobre coisas. Então por favor não faça uma distinção entre conhecimento e sabedoria.
O estado de não-saber é realmente o estado de saber, porque quando todo conhecimento e toda ignorância desaparecem você pode refletir a existência como ela é. O conhecimento é adquirido depois do seu nascimento, mas o saber vem com você. E quanto mais conhecimento você adquire, mais e mais o saber começa a desaparecer porque ele vem coberto com conhecimento. Conhecimento é exatamente como poeira e sabedoria é como um espelho.
O coração do saber é agora. Conhecimento é sempre do passado. Conhecimento significa memória. Conhecimento significa que você conheceu alguma coisa, você experimentou alguma coisa, e você acumulou sua experiência. Sabedoria é do presente. E como você pode estar no presente se você está se apegando demais ao conhecimento? É impossível, você terá que parar de se apegar ao conhecimento. E conhecimento é adquirido, sabedoria é a sua natureza. Sabedoria é sempre agora — o centro do saber é agora. E o centro do agora?
A palavra "agora" é bonita. O centro dela é a letra "o", que é também um símbolo para zero. O centro do agora é zero, nada. Quando a mente não é mais, quando você é somente um nada, simplesmente um zero — Buda chama isto exatamente assim, shunya, o zero — então tudo o que o rodeia, tudo que está dentro e fora, é conhecido, mas conhecido não como conhecimento, , conhecido de uma maneira totalmente diferente. Assim como uma flor sabe como abrir, e o peixe sabe como nadar e a criança sabe como crescer no útero da mãe, e você sabe como respirar — mesmo quando adormecido, mesmo em coma, você continua respirando — e o coração sabe como bater. Essa é uma maneira totalmente diferente de saber, tão intrínseca, tão interna. Não é adquirida, é natural.
O conhecimento é conseguido na troca pelo saber. E quando você tem conhecimento, o que acontece com a sabedoria? Você tem conhecimento e você esqueceu a sabedoria. E a sabedoria é a porta para o Divino; o conhecimento é uma barreira para o divino. O conhecimento tem utilidade no mundo. Sim, ele o tornará mais eficiente, habilidoso, um bom mecânico, isto e aquilo; você pode conseguir uma profissão melhor. Tudo isto está aí e eu não estou negando. E você pode usar o conhecimento desse jeito; mas não deixe o conhecimento se tornar uma barreira para o Divino. Quando o conhecimento não for necessário, coloque-o de lado e mergulhe num estado de não-saber — que é também um estado de saber, real saber. O conhecimento é conseguido na troca pela sabedoria e a sabedoria é esquecida. Ela só tem que ser re-lembrada — você a esqueceu.
A função do Mestre é ajudar você a re-lembrá-la. A mente tem que ser re-lembrada, pois a sabedoria não é nada a não ser re-conhecimento, re-cordação, re-lembrança. Quando você se depara com alguma verdade, quando você vê um Mestre, e você vê a verdade do ser ser, alguma coisa dentro de você imediatamente a reconhece. Nem mesmo um único momento é perdido. Você não pensa sobre isto, se é verdade ou não — para pensar precisa-se de tempo. Quando você ouve a verdade, quando você sente a presença da verdade, quando você chega a uma comunhão com a verdade, alguma coisa dentro de você imediatamente a reconhece, sem nenhum argumento. Não que você aceite, não que você acredite: você reconhece. E isto não poderia ser reconhecido se já não fosse de alguma maneira conhecido, em algum lugar, profundamente dentro de você.
Essa é a visão fundamental do Zen.
"O seu irmãozinho já aprendeu a falar?"
"Oh, claro", respondeu Joãozinho. "Agora mamãe e papai estão ensinando-o a ficar quieto".
A sociedade lhe ensina conhecimento. Tantas escolas, colégios, universidades... todos com o objetivo de criar conhecimento, mais conhecimento, implantar conhecimento nas pessoas. E a função do Mestre é justamente o oposto: o que a sociedade fez a você o Mestre tem que desfazer. Sua função é basicamente antissocial, e nada pode ser feito a respeito disso. O Mestre está destinado a ser antissocial.
Jesus, Pitágoras, Buda, Lao Tzu, todos eles são antissociais , mas no momento que eles reconhecem a beleza de não saber, a vastidão de não saber, na inocência de não saber, no momento em que o sabor do não saber acontece a eles, querem compartilhar isto com outros, eles querem dividir isto com outros. E esse próprio processo é antissocial.
As pessoas me perguntam porque a sociedade é contra mim. A sociedade não é contra mim — eu sou antissocial. Mas eu não posso evitar isto. Eu tenho que fazer meu trabalho. Eu tenho que compartilhar o que aconteceu a mim, e nesse próprio compartilhar eu vou contra a sociedade. Sua própria estrutura está enraizada em conhecimento, e a função do Mestre é destruir conhecimento, a função do Mestre é destruir conhecimento e ignorância e trazer de volta à sua infância.
Jesus diz: A menos que vocês sejam como pequenas crianças, não entrarão no reino de Deus.
A sociedade, de fato, torna você desenraizado da sua natureza. Ela leva você para fora de seu centro. Ela o torna neurótico.
(...) A sociedade vai curando as pessoas normais. Toda criança nasce normal, lembre-se, então a sociedade a cura. Ela se torna hindu, muçulmana, cristã, comunista, católica... Existem vários tipos de neuroses no mundo... Você pode escolher, você pode optar por qualquer tipo de neurose que você queira. A sociedade cria todos os tipos; todos os tamanhos e formas de neuroses são viáveis, para todos os gostos.
O Zen cura você de sua normalidade. Ele o torna normal outra vez, ele o torna ordinário de novo. Lembre-se, ele não o torna um santo. Ele não o torna uma pessoa sagrada, lembre-se. Ele simplesmente torna você uma pessoa ordinária — leva-o de volta à sua natureza, de volta à sua fonte.
OSHO