O observador difere da coisa observada?
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O observador difere da coisa observada?


Você pode olhar o medo sem ter conceitos a seu respeito? Existe o medo e o observador, não é verdade?... Existe aquilo que chamamos "medo de alguma coisa"; o medo não pode existir sozinho; existe por causa de alguma coisa. Há medo e você diz: "Estou com medo". Você é o observador daquele medo, não? Você é o observador, e a coisa observada é o medo. Há, pois, um espaço entre você e a coisa observada; quando você olha uma árvore, existe espaço, há o observador: "Eu olhando aquela árvore". Esse espaço é criado pelo pensamento, que é reação da memória. A memória é sempre velha. Não há liberdade de pensamento; você pode pensar o que quiser, mas seu pensamento vem do passado.

Assim, olhar sem conceito é estar consciente da existência do observador e da coisa observada. O observador difere da coisa observada? Isto é, quando digo "Estou com medo", o medo está fora de mim e eu sou o observador desse medo. Isso é um fato? Ou o observador é o medo?... Pelo que diz respeito à maioria de nós, há sempre o observador, o centro de onde olhamos. Esse centro é a memória, o pensamento, nosso condicionamento, nossa experiência, nosso conhecimento. Assim, quando nos vemos frente a frente com o medo, esse medo tem suas peculiares associações ou memórias; com essas memórias olhamos o fato que chamamos medo e, por conseguinte, nunca estamos em direto contato com ele. Você só pode estar diretamente com contato com alguma coisa, com seu vizinho, sua esposa, seu marido, com uma árvore, uma nuvem, quando não existe o observador; e o observador é pensamento com todas as suas ramificações. Você mesmo pode fazer essa experiência quando olhar uma árvore. Isso será muito simples, porque uma árvore é uma coisa objetiva. Nada deseja de você; só quer que você a deixe em paz. Se puder, olhe uma árvore sem nenhum conceito, sem pensamentos; isso não significa estar com a mente "em branco", vazia, porém, ao contrário, ela então se acha realmente livre para olhar e, por conseguinte, num extraordinário estado de atenção.

Da mesma maneira olhe o medo: sem o observador. É só então que o medo acaba, e não quando fugimos dele, quando o reprimimos por meio da bebida, do sexo, de divertimentos, de nossos deuses, igrejas e outras infantilidades.

Olhar é, pois, uma arte mais importante do que qualquer outra arte deste mundo; mais importante do que qualquer espécie de quadro, de música, de livro. Olhar, totalmente, quer se trate de sua esposa ou marido, quer se trate de uma árvore, de uma nuvem ou de seu deplorável condicionamento. Então, pelo direto contato com o medo, este acaba.

Jiddu Krishnamurti — A essência da maturidade — ICK





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