O pensamento como servidor de confiança sem poder de mando
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O pensamento como servidor de confiança sem poder de mando


K: (...)Pensamento acarreta irracionalidade.

DB: Sim, mas o que é pensamento? Como sabemos que estamos pensando? O que você quer dizer quando se refere a pensamento?

K: Pensamento é o movimento da memória, que é experiência e conhecimento armazenados no cérebro.

DB: Suponha que queiramos ter a racionalidade que inclui o pensamento racional. Pensamento racional é somente memória?

K: Espere um minuto. Sejamos cuidadosos. Se formos completamente racionais, existirá uma visão intuitiva total. Essa visão intuitiva usa o pensamento, e portanto ela é racional.

DB: Pensamento, então, não é apenas memória?

K: Não, não.

DB: Bem, eu quero dizer que, como ele está sendo usado pela visão intuitiva...

K: Não, a visão intuitiva é que usa o pensamento.

DB: Sim, mas o que o pensamento faz não é apenas devido à memória.

K: Espere um instante.

DB: Externamente, o pensamento corre sozinho, ele corre autonomamente como uma máquina, e não é racional.

K: Exatamente.

DB: Porém, quando o pensamento é o instrumento da visão intuitiva...

K: Então pensamento não é memória.

DB: Não está baseado na memória.

K: Não, não está baseado na memória.

DB: A memória é usada, mas ele não está baseado na memória.

K: Então o quê? O pensamento, por ser limitado, divisível, incompleto, nunca poderá ser racional...

DB: Sem a visão intuitiva.

K: Exatamente. Contudo, como vamos ter a visão intuitiva que é totalmente racional? Não estou me referindo à racionalidade do pensamento.

DB: Eu a chamaria de racionalidade da percepção.

K: Sim, a racionalidade da percepção.

DB: O pensamento torna-se então o instrumento disso, de modo que ele tem a mesma ordem.

K: Como, porém, posso ter essa visão intuitiva? Essa é a próxima pergunta, não é? O que devo fazer, ou não fazer, para ter essa visão intuitiva instantânea, que não pertence ao tempo, que não pertence à memória, que não possui nenhuma causa, que não está baseada na recompensa ou no castigo? Ela é livre com relação a isso tudo. Portanto, como a mente tem essa visão intuitiva? Quando eu digo, eu possuo a visão intuitiva, isso está errado. Obviamente. Então como é possível que uma mente, que tenha sido irracional, e que tenha se tornado um pouco racional, tenha essa visão intuitiva? Essa visão intuitiva toma-se possível se a sua mente estiver liberta do tempo.

Krishnamurti em, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO





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