autoconhecimento
O Ser e o reflexo...
Pergunta: O verdadeiro Ser tem que ter mente e corpo para poder estar consciente de si mesmo?
Inayat: O verdadeiro Ser não precisa ter mente e corpo para sua existência. Ele não depende da mente e do corpo para sua existência, para sua vida, assim como os olhos não precisam do espelho para existir. Eles apenas dependem do espelho para verem seu reflexo. Sem ele os olhos verão todas as coisas, mas nunca verão a si mesmos.
Outro exemplo é a inteligência. A inteligência não pode conhecer a si mesma a menos que ela tenha algo inteligível para segurar; então a inteligência realiza a si mesma. Uma pessoa com um dom poético que nasceu um poeta, jamais realiza a si mesmo como sendo um poeta até que coloque sua ideia no papel, e que seu verso faça ressoar um acorde em seu próprio coração. Quando ele está apto a apreciar sua poesia, que então ele pensa: "eu sou um poeta". Até então, havia um dom da poesia nele, mas ele não o conhecia.
Os olhos não se tornam mais poderosos ao olhar no espelho. Apenas os olhos sabem como eles são quando vêem seu reflexo. O prazer está em realizar nossos méritos, nossos dons, realizar o que possuímos. É em realizar que está o mérito. Sem dúvida seria uma grande pena se os olhos pensassem: "Estamos tão mortos quanto este espelho", ou se ao olhar no espelho eles pensassem: "nós não existimos exceto no espelho". Portanto, o falso ser é a maior limitação.
Pergunta: Nosso Murshid (mestre) não é nosso espelho?
Inayat: Não. O Murshid fica no lugar do leão da fábula, aquele que aponta a verdade, que manifesta em si a verdade. Mas o espelho d'água ainda é necessário.
Pergunta: Embora a alma sinta-se ser diferente dos outros corpos, ela não se sente uma com Deus?
Inayat: Nem mesmo com Deus. Como poderia? Como pode uma alma que está presa na falsa concepção, que não pode ver uma barreira levantada entre ela mesma e seu próximo, levantar a barreira para Deus, o qual ela ainda não conheceu? Pois toda a crença da alma em Deus, afinal é uma concepção - porque foi ensinada, porque está escrito numa escritura, porque os pais disseram que existe um Deus, mas ela está sempre sujeita a mudar sua crença, e infelizmente quanto mais ela avança intelectualmente, mais distante ela fica daquela crença. Uma crença que uma inteligência pura não pode sempre manter não irá longe com a pessoa. É através da compreensão dessa crença que o propósito da vida é cumprido. É dito no Gayan: "O descobrimento da alma é o descobrimento de Deus".
Pergunta: Como o ser real recusa o corpo e a mente na morte?
Inayat: Não é fácil para o ser real recusar a mente e o corpo, quando uma pessoa não pode recusar durante a vida seus pensamentos de depressão, tristeza e desapontamento. As impressões das felicidades e das tristezas no passado que a pessoa mantém em seu coração: preconceito e ódio, amor e devoção, tudo o que tenha ido fundo nela mesma. Se esse é o caso, nem mesmo a morte pode levá-las embora. Se o ego mantém sua prisão em torno de si, ele leva essa prisão com ele, e existe apenas uma maneira dele ser livrado disso, e é através do autoconhecimento.
Pergunta: A pessoa identifica-se com seu corpo mental imediatamente após a morte, ou ainda identifica-se com o corpo morto?
Inayat: O corpo mental é assim como o corpo morto. Não há diferença, pois um é construído no reflexo do outro. Por exemplo, a pessoa não se vê diferente no sonho quando a mente está numa condição normal. Se a mente está anormal a pessoa pode ver-se como uma vaca, ou um cavalo, ou qualquer coisa. Mas se a mente está normal a pessoa não pode se ver diferente daquilo que ela conhece como sendo ela. Portanto o ser mental é aquele mesmo que a pessoa se vê no sonho. No sonho a pessoa não vê a perda do corpo físico. Ela está correndo, comendo ou apreciando no sonho; não percebe a ausência do corpo físico. É a mesma coisa após a morte. A outra vida não depende de um corpo físico para ser experimentada totalmente. A esfera em si é perfeita, e a vida é experimentada perfeitamente.
Pergunta: O ego é destruído completamente pela aniquilação?
Inayat: O ego em si nunca é destruído. Ele é a única coisa que vive, e esse é o sinal da vida eterna. No conhecimento do ego está o segredo da imortalidade. Quando é dito no Gayan: "A morte morre, e a vida vive", é o ego que é a vida, e é a sua falsa concepção que é a morte. O falso deve se esvair algum dia; o real deve ser sempre. Assim é com a vida: o verdadeiro ser vivo é o ego, ele vive. Todo o resto que ele emprestou para seu uso dos diferentes planos e esferas, dentro dos quais ele se perdeu, tudo isso é colocado de lado. Não vemos isso com nosso próprio corpo? Coisas que não pertencem ao corpo não permanecem nele, no sangue, nas veias, em qualquer parte. O corpo não irá mantê-las, irá repeli-las. Da mesma forma acontece em toda esfera. Ela não pega o que não pertence a ela. Tudo o que é de fora ela mantém fora. O que pertence a terra é mantido na terra, a alma repele isso. A destruição do ego é uma maneira de por em palavras; na verdade não é destruir, é descobrir.
Frequentemente as pessoas ficam assustadas ao lerem livros Budistas, quando a interpretação do Nirvana é dada como aniquilação. Ninguém quer ser aniquilado, e as pessoas ficam muito assustadas quando lêem "aniquilação". Mas é só uma questão de palavras. A mesma palavra em Sânscrito é uma linda palavra: mukti. Os Sufis chamam-na de fana. Se traduzirmos para o Inglês é aniquilação, mas quando entendemos seu significado real, quer dizer "passar" ou "atravessar". Atravessar o que? Atravessar a falsa concepção de uma entidade separada, que é uma primeira necessidade, e chegar na verdadeira realização.
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