autoconhecimento
O Vazio e a Totalidade...
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Gautama Buda disse: " Não existe um eu. És um vazio, completo silencio, um não-ser"
Sua mensagem encontrou uma forte oposição em todas as tradições porque todas dependiam de uma ou de outra forma da ideia de um "eu". Podem ter diferenças a respeito de um ou de outro ponto, mas havia um ponto em que todas estavam de acorde; e esse ponto era a existência de um "eu". (...)
Buda não faz nenhuma diferença entre o eu e o ego; e não tem mesmo. Fazer alguma distinção só é sofisticado, ginástica linguística;(...) Mas o eu é simplesmente outro nome para o ego. Só está mudando de nome, não está acontecendo nenhuma transformação no ser.
A mensagem de Buda é tremendamente significativa: és um vazio; não há nenhum ponto nele em que possas dizer: "eu".
Se olha desta visão, quando digo: " Dissolvam-se na existência", simplesmente estou dizendo o mesmo com termos mais positivos. Buda dizia de tal forma que muita gente parava, porque naturalmente surgia a seguinte pergunte: " Se não há um eu, porque preocupar-se? O que é necessário alcançar? Se se trata somente se saber que não se é.
Toda uma vida de disciplina, um grande esforço de meditação, e o resultado é que não és? Esse resultado não vale a pena! Ao menos sem meditação, sem disciplina tens a sensação de ser. Pode estar equivocada, mas ao menos não te sentes oco, vazio. Como vai viver sabendo que não és.
Do nada não pode vir o amor, a compaixão, não há possibilidade de nenhuma coisa. Do nada só provém o nada.
Por isso, os oponentes de Buda, descrevem seu método como um tipo de suicídio espiritual; muito mais perigoso que o suicídio comum, porque no suicídio comum você sobreviverá, tomará uma nova forma, um novo nascimento. Mas com Buda, cometerás o suicídio total, a aniquilação. Já não sobrará nada de ti, e nunca mais voltará a se ouvir falar de ti, nunca mais voltará a te encontrar.
Em primeiro lugar, você nunca foi.
O budismo morreu na Índia e uma das principais razões foi a formulação que Buda fez da sua filosofia. Posso entender porque insistia tanto nas negações, porque todas as demais filosofias eram positivas e seu positivo fortalecia os egos cada vez mais. Vendo que o positivismo vai te dando idéias egoístas e que são um obstáculo entre você e a existência; Buda então foi ao outro extremo; Para impedir isto, se foi ao outro extremo. Para impedir esta possibilidade, se fez completamente negativo.
Não pode se queixar dele, porque as ideologias positivistas te colocam em uma situação estranha: tens que deixar o ego para encontrar a Deus, tens que deixar o ego para converter-se em Deus, tens que deixar o ego para a libertação última; Libertação de quem? A libertação de ti mesmo.
Portanto, se tratava de alcançar algo e as realizações sempre são do ego. Existe um objetivo e o objetivo sempre é do ego. Vendo isto, Buda disse: "Não existe o eu. Não existe nada ao alcançar e não há objetivo a se conseguir. Nunca existiu, não existe e não existirá; Só podes imaginar, só pode sonhar que és". (...)
Muitos vieram até Buda e foram embora, porque não podiam fazer do nada o objetivo da sua vida, para que? Tanta disciplina e tantos problemas para entrar em meditação só para descobrir que não és...um tipo estranho este Gautama Buda. Somos bons tal como somos, para que cavar tão fundo para descobrir que não há nada? Mesmo que estejamos sonhando, ao menos existe algo.
Minha aproximação é a mesma, mas por um angulo diferente. Eu os digo que não tens um eu, porque são parte do Universo. Não são nada. Só o Universo pode ter um eu, só o Universo pode ter um centro, só o Universo pode ter uma alma. Minha mão não pode ter uma alma, meus dedos não podem ter uma alma; só a unidade orgânica pode ter uma alma. E nós só somos partes. Somos, mas só somos partes. por isso não podemos pretender ter um eu.
Por isso Buda tinha razão - não existe um eu - mas assim não ajudava as pessoas, porque não podiam decifrar as implicações desta afirmação.
Eu os digo: Não tens um eu, porque são parte de um grande eu, e da totalidade; Não podem ter um eu próprio e separado. Isto afasta a negatividade e não te dá o desejo de ser cada vez mais egoísta. Assim, se evitam ambos extremos e se encontra uma nova aproximação: O Universo é, e eu não sou. Qualquer coisa que se passe e se pareça estar em mim, ser eu, no fundo é universal.
Chama-la de eu, é fazê-la demasiado pequena. Isto é que a torna falsa; não corresponde a realidade. Chama-se de "eu" a torna irreal, porque o eu só é possível si és totalmente independente; e você não é. Não és independente nem durante uma só respiração. Não és independente nem por um momento do sol, da lua, das estrelas. A totalidade está contribuindo a todo momento. Por isso você existe!
Reconhecer isto não é uma perda, é um ganho; e sem dúvida não é uma ganancia egoísta. Se podes ver o sutil que és... é uma tremenda realização entender que és parte da totalidade, que a totalidade te pertence e você a ela. E sem dúvida, apesar de tudo não há nenhum rastro de um "eu"!
Esta é uma das compreensões mais belas, que não estamos separados; não estamos separados das montanhas, nem das árvores, nem do oceano, nem de nada. Todos estamos conectados, entrelaçados em uma unidade. Em relação a estes aspectos, há um completo silencio e vacuidade. Mas esta vacuidade não está vazia. Podemos esvaziar esta casa, podemos tirar todos os móveis, tudo que há na casa, e qualquer um que entre dirá: A casa está vazia. Isto é uma forma de ver, mas não é a forma correta.
A forma correta é ver que agora a casa está plena de vacuidade. Antes existiam impedimentos à vacuidade, estava cortada em pedaços porque havia tantos móveis e tantas coisas que não permitiam ser una; agora é una. A vacuidade também é. É existencial; isto não significa que não seja.
Alguém vazio de ciúmes, está pleno de amor; alguém vazio de estupidez está pleno de inteligência; Cada vacuidade tem sua própria plenitude; e se não chegas a ver a plenitude que vem com a vacuidade de maneira certa e absoluta, então estás cego.
Não existe um eu.
E isto é um grande alívio.
Não tens que amá-lo, não tens que detestá-lo, não tens que aceitá-lo, nem rechaçá-lo; não tens que fazer nada, simplesmente não está ali. Pode relaxar e nesse relaxamento reside o fundir-se no Universo.
Então o nada se converte na Totalidade. (...)
Osho, em Além da Psicologia 2
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