Os problemas da Emergência espiritual no meio ambiente
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Os problemas da Emergência espiritual no meio ambiente


Algumas pessoas ficam deprimidas depois de entrar em contato com as áreas transcendentais, porque sua vida diária parece árida e desinteressante, em comparação com a radiação e a liberação que experimentaram. Um terapeuta escreveu sobre às limitações do corpo físico depois de uma experiência mística: 

"Naquele estado iluminado eu me senti completamente sem limites e livre, rodeado e repleto de uma luz brilhante, banhado por uma enorme sensação de paz. Quando comecei a voltar ao mundo cotidiano, senti que meu novo 'Eu' abrangente estava se afunilando, voltando a ser uma unidade retraída: o meu 'Eu' físico cotidiano. Meu corpo se sentia como uma armadilha de aço que prendia e dominava todas as minhas possibilidades. Senti a dor e o drama da vida diária começando a me pressionar, e chorei quando ansiei por voltar para a liberdade que havia descoberto."

Algumas pessoas nessa situação podem realmente querer permanecer num estado prazeroso, excluindo suas responsabilidades diárias. Ou podem preferir repetir a experiência pela qual estão passando, em vez de aproveitar a possibilidade de vivenciar outros estágios de sua jornada espiritual que, mesmo não sendo tão belos e extraordinários, são igualmente importantes. Como resultado, podem abster-se de colaborar para seu maior desenvolvimento pessoal, resistindo e até mesmo censurando tudo o que seja inferior ao estado místico positivo. 

Em geral, as pessoas se beneficiam de seus encontros com o Divino, mas têm problemas com o seu meio ambiente. Em alguns casos, falam a quem estiver próximo a elas sobre um estado místico poderoso. Se a família, seus amigos ou seus terapeutas não entenderem o potencial de cura dessas dimensões, talvez não as considerem válidas ou ficarão automaticamente preocupados com a sanidade mental da pessoa querida ou do cliente. Se a pessoa que passa pela experiência estiver totalmente hesitante a respeito de sua validade ou inquieta quanto ao seu estado mental, a preocupação dos outros pode ampliar essas dúvidas, comprometendo, encobrindo ou obscurecendo a riqueza dos sentimentos e das sensações originais. 

As dificuldades também surgem quando os encontros transcendentais ocorrem em situações em que possam ser mal-interpretados. As pessoas geralmente acham menos problemático serem dominadas por um estado místico de ruptura dentro dos limites de uma sala de meditação ou de seu quarto do que no meio de um corredor de shopping ou num terminal de aeroporto. Se uma pessoa não estiver numa situação estável durante a dissolução das fronteiras pessoais, é provável que tenha dificuldade para atuar no mundo externo. Por exemplo, quem se sentir inseguro de seu movimento ou da sua coordenação física pode parecer desajeitado e desorientado. Se, ao mesmo tempo, tiver que se comunicar com um garçom de restaurante ou com um guarda de segurança do aeroporto, esse comportamento poderá ser facilmente mal-interpretado. 

Outros chegarão a ter medo de que, se permitirem que essas experiências entrem em suas vidas, sua nova consciência trará consigo obrigações adicionais e indesejáveis para as pessoas à sua volta ou para o mundo em geral. Pode-se perguntar: "Essa revelação significa que eu tenho que realizar algo a respeito? Presumir-se-ia que eu ajudaria as outras pessoas a compreenderem o que descobri? Isso me daria uma função especial no mundo?"

Ou talvez tenham uma reação contrária: podem sentir que são abençoados pela Providência Divina e que por isso merecem um reconhecimento especial e um STATUS elevado que os colocarão acima das relações comuns. Podem ter descoberto, inesperadamente, que sua vida faz parte de uma ordem cósmica complexa e interligada; como resultado, podem sentir que Deus tomará conta de tudo e que estão, portanto, isentos de muitas responsabilidades na vida. 

Estreitamente relacionado com isso está o modo como as pessoas demonstram essas descobertas. Se t~em ligação com o que sentem ser Deus ou um Poder Superior, ou com um ser celestial como Jesus ou Buda, podem permitir que esse estado distorça o seu ego ou seu senso de identidade pessoal. Em vez de compreenderem que se aproximaram de uma realidade que é potencialmente acessível a qualquer um, sentem que essa realidade é exclusivamente delas mesmas. Em vez de emergir da experiência com o conhecimento da própria divindade e da divindade de tudo e de todos, sentem-se como Deus e têm uma mensagem para o mundo. Essas pessoas podem desenvolver tendências messiânicas que, quando expressas, chegam a afastá-las dos demais.

(...) Considerando a natureza e o potencial positivos das experiências de pico, pode parecer confuso que elas se tornem uma fonte de crise espiritual. A principal razão para essas complicações é a falta de conhecimento sobre os estados incomuns de consciência na cultura ocidental. Como resultado, somos incapazes de reconhecer o valor desses experiências, de as aceitar e de as apoiar. A opinião que prevalece na psiquiatria tradicional e entre o público geral é a de que quaisquer desvios da percepção e do conhecimento da realidade comum são patológicos, Nessas circunstâncias, um ocidental comum, ao passar por um estado místico, tenderá a questionar sua sanidade mental e a resistir à experiência. Os parentes e os amigos apoiarão, muito provavelmente, essa atitude e irão sugerir ajuda psiquiátrica. Muitas pessoas, durante uma experiência de pico, foram mandadas a psiquiatras que lhes deram rótulos patológicos, interrompendo suas experiências com medicação tranquilizante e atribuindo-lhes o pale de pacientes psiquiátricos por toda a vida.

Christina Grof - A tempestuosa busca do ser
Foto: Filme Lucy




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