Porque escolheram assim. Era a hora deles. Um humano não é como peru de Natal que morre na véspera. Uma parte nossa decide o bom momento de ir embora, apesar dos que ficam vivos não entenderem nem se conformarem.
Tenho acompanhado as notícias e os mais diversos comentários sobre a catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro e observado o emocionalismo suscitado.
Existe a mania de sempre achar um bode expiatório quando acontece esse tipo de desastres.
Vi comentários acusando as autoridades governamentais e a especulação imobiliária. Ok, talvez, e friso o talvez, o número de mortes teria sido menor se houvesse mais responsabilidade e interesse pelo povo por parte dos governantes, mas o que aconteceu na região foi além das áreas consideradas de risco. Alcançou proporções catastróficas, atingindo áreas habitadas por pessoas de classes econômicas mais altas. Ah, disseram, aí foi culpa da especulação imobiliária, como se fosse possível prever que um belo dia iria cair tanta água da montanha a ponto de invadir os vales. Quantos vales por esse Brasil a fora são habitados?
Há também um detalhe que não está sendo levado em conta: devido à ignorância das pessoas elas só vêem o risco quando o teto já está desabando, portanto eu não acredito muito que medidas de prevenção funcionem adequadamente, não para todos os envolvidos. As pessoas têm muito medo de deixar seus pertences.
Segundo uma declaração que ouvi de um especialista em Gerenciamento de Risco, Nova Friburgo inteira teria de ser realocada. E aí? Como?
Se quiserem botar a culpa em alguém que seja então no serviço de meteorologia, pois também disseram que na Austrália, onde a enchente foi maior, somente 20 pessoas morreram. Lá houve um alerta prévio aos moradores emitido pela meteorologia.
Estão comparando os dois desastres naturais, mas aí também está havendo carência de bom senso, pois as condições topográficas são completamente diferentes.
O ponto em questão é: a dificuldade humana em lidar com perdas massivas de vidas sentindo-se, portanto, impotente. É a ingênua pretensão humana de ter controle sobre tudo.
Não temos. Nesses momentos isso fica muito claro afetando então o raciocínio lógico das pessoas.
Como a consciência humana sempre foi limitada, nunca conseguimos ver o panorama total dos acontecimentos no planeta.
Por exemplo: numa sociedade cada vez mais individualista e autocentrada é exatamente esses desastres naturais que trazem à tona e à ação o inerente sentimento humano de solidariedade.
Nós estamos precisando disso, resgatar nosso humanitarismo, lembrar que é mais importante ser do que ter.
A futilidade chegou a um nível colossal como o demonstra a reportagem que a Folha de São Paulo de 09/01/11 publicou sobre os ricos e super ricos no balneário Jurerê Internacional de Florianópolis, onde: “Com amigos, ele pagou, em um dia, R$ 20 mil de consumação para ficar na piscina do Cafe de la Musique.”
Desastres grandiosos como esse da serra do Rio podem ser chamadas para o despertar humano da consciência. Servem para lembrar o que é mais importante: a vida!
Que tal levar isso em consideração e não só maldizer as autoridades ou qualquer outro bode expiatório?
Imagem: http://g1.globo.com/
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