Por que somos desatentos?
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Por que somos desatentos?



Pergunta: Não ter senso de condenação, justificação ou comparação, significa achar-se num estado de consciência superior. Eu não me acho nesse estado e, assim, como poderei alcança-lo?

KRISHNAMURTI: Vede, senhores, a própria pergunta “como poderei alcança-lo?” é de natureza invejosa. (Risos). Não riais, senhores, prestai atenção, por favor. Vós desejais ganhar alguma coisa, e por isso tendes métodos, disciplinas, religiões, igrejas, toda esta superestrutura edificada sobre a inveja, a comparação, a justificação, a condenação. Nossa civilização está baseada nesta divisão de hierárquica entre os que têm mais e os que têm menos, os que sabem e o que não sabem, os que são ignorantes e os que estão cheios de sapiência e, por isso, a maneira de encararmos o problema está completamente errada. O interrogante diz: “Não ter sensod e condenação, justificação ou comparação, é achar-se num estado superior de consciência”. É exato? Ou acontece simplesmente que não estamos cônscios de estar condenando, comparando? Por que afirmamos logo que aquele estado é um superior de consciência e, em seguida, em consequência dessa afirmativa, criamos o problema de “como” alcançar tal estado e saber “quem” nos ajudará alcança-lo? A coisa não é muito mais simples?

Isto é, não estamos cônscios de nós mesmos, em absoluto, não percebemos que estamos condenando, comparando. Se pudermos observar-nos todos os dias, sem condenarmos, nem justificarmos coisa alguma, se pudermos estar simplesmente cônscios de que nunca pensamos sem julgar, comparar, avaliar, então, esse próprio percebimento será suficiente. Estamos sempre a dizer: “este livro não é tão como o outro”, ou “Este homem é melhor do que aquele”, etc.; está sempre em vigor este constante processo de comparação, e pensamos que pela comparação compreendemos alguma coisa. Mas, compreendemos? Ou só vem a compreensão quando não estamos comparando, mas prestando atenção? Há comparação ao observardes uma coisa com toda a atenção? Quando estais totalmente atento, não tendes tempo para comparar, tendes? No momento em que comparais, vossa atenção fugiu para outra coisa. Quando dizeis “O pôr do sol, hoje, não está tão bonito como esteve ontem” — não estais realmente olhando o pôr do sol, pois a vossa mente fugiu para a lembrança de ontem. Mas, se puderdes observar o pôr do sol de maneira completa, total, com toda a vossa atenção, então, decerto, não existirá mais comparação.  

O problema, pois, não é de como alcançar alguma coisa, mas sim: Por que não somos atentos? Não somos atentos porque, evidentemente, não temos interesse. Não digais: “mas como posso ter interesse?” Esta pergunta não cabe aqui, pois não estamos tratando disso agora. Por que deveis ter interesse? Se não tendes interesse em escutar o que se está dizendo, por que vos incomodardes? Mas vós estais incomodado, porque vossa vida é cheia de inveja, de sofrimentos e por isso desejais uma resposta, um significado. Se desejais um significado, então prestai toda atenção. A dificuldade está em que não temos interesse sério em coisa alguma — “sério”, no correto sentido da palavra. Quando dais atenção completa a uma coisa, não estais procurando obter nada dessa coisa, estais? Nesse momento de atenção total, não existe inveja, não existe nenhuma entidade que esteja procurando mudar, modificar-se tornar-se algo, não existe “eu”. No momento da atenção, o “eu” está ausente, e é este momento de atenção que é bom, que é amor.

Krishnamurti – A realização sem esforço – Ojai, Califórnia, USA – 13 de agosto de 1955




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