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QUANDO CIÊNCIA E FÉ DIALOGAM
Recomendamos a Leitura:
Livro: Conversa Sobre Fé e Ciência
Autores: Frei Betto, Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão
Editora: Agir
Assim que o homem começou a reflexão sobre a sua existência, uma questão milenar e sem resposta definitiva surgiu: quem tem a resposta sobre o início da vida e o seu sentido, a fé ou a ciência? Dois dos maiores pensadores brasileiros se debruçam sobre essa pergunta e suas questões decorrentes num diálogo envolvente e fraterno que nos prova que a razão está em manter a razão.
Ao ouvir falar de uma conversa sobre a fé e a ciência, muitos esperariam desentendimentos. Mas nesta troca de ideias entre Frei Betto — frade dominicano — e Marcelo Gleiser — físico brasileiro radicado nos Estados Unidos —, ao contrário, os leitores poderão desfrutar de um diálogo franco e transparente, permeado pela simplicidade dos dois autores e de tudo que existe em comum entre eles.
A difícil interação entre ciência e fé, suas relações com o poder e com o fundamentalismo, o respeito aos espaços de cada saber, tudo isso foi abordado com muita clareza e, quando necessário, com as devidas críticas, sem nenhum constrangimento.
Ainda que não estivessem presentes para interagir com os autores, todos os leitores se beneficiarão desta enriquecedora conversa sobre a fé e a ciência.
QUANDO CIÊNCIA E FÉ DIALOGAM
O tema é antigo, mas a abordagem surpreende. O teólogo Frei Betto e o astrofísico Marcelo Gleiser mais concordam do que discordam em novo livro que traz um diálogo sobre questões científicas e religiosas.
Discussões sobre ciência e fé não costumam acabar bem. Muitas vezes a dicotomia esconde outra polaridade: o ateu versus o religioso.
Mas esse não é o caso do diálogo travado entre o astrofísico Marcelo Gleiser e o teólogo Frei Betto, mediado por Waldemar Falcão no livro Conversa sobre a fé e a ciência.
Gleiser, físico brasileiro radicado nos Estados Unidos, se considera judeu agnóstico; Frei Betto, frade católico, escritor e jornalista nascido e residente no Brasil, vê Deus e espiritualidade como amor e doação. Ambos fazem da meditação uma prática diária.
No livro, trazem reflexões consoantes acerca do lugar que esses temas ocupam na sociedade. Muitas vezes, não se sabe quem está em defesa de qual.
A narrativa começa com Gleiser e Frei Betto contando suas trajetórias de vida e como, por linhas tortas, receberam os rótulos de homem de ciência e homem de fé.
Gleiser relata que seu primeiro desejo era ser músico, mas, aos 14 e 15 anos, os livros do físico alemão Albert Einstein (1879-1955) o consumiram. O menino desejava experimentar, assim como o cientista, o mistério e o desconhecido.
Enquanto Gleiser lia os físicos, Frei Betto, com a mesma idade, se engajava politicamente em encontros periódicos mediados por frades dominicanos e nos quais discutiam teologia, filosofia e temáticas sociais.
O livro, escrito na forma de diálogos, mantém uma linguagem leve e coloquial e nos aproxima dos interlocutores, como se estivéssemos com eles nos jardins do Hotel Santa Teresa, no Rio de Janeiro. A obra foi consumada lá, ao longo de quatro dias, e o fluxo de assuntos ocorre como na troca de ideias cotidiana.
A conversa se encaminha para as supostas divergências e as aproximações entre as ciências – com ênfase para a pluralidade, destacada pelos dois – e a fé. Ao contrário do esperado, é difícil encontrar um ponto de discordância ao longo do diálogo; os argumentos são em geral complementares.
Gleiser tenta desmistificar o estereótipo do cientista como ser mais racional que os demais e vê, em sua atividade, uma relação espiritual com a natureza. “Não existe uma incompatibilidade entre espiritualidade e ciência”, afirma.
E explica: “Muito pelo contrário, o cientista é uma pessoa que dedica toda uma vida ao estudo da natureza, justamente porque é apaixonado por ela. Senão qual seria a graça?”
Conversas sobre a fé e a ciência nada mais é do que uma deliciosa partida de frescobol entre três amigos: Waldemar Falcão (músico, astrólogo e escritor), Frei Betto (frade dominicano, teólogo e escritor) e Marcelo Gleiser (físico teórico e escritor).
As 334 páginas desta publicação registram um clima de profundo respeito, abertura, cordialidade e dialogicidade entre três figuras pertencentes a tradições culturais bastante distintas. Em um tempo em que as intolerâncias, de todos os tipos, vão ficando cada vez mais na moda, Conversas sobre a fé e a ciência acaba se tornando um testemunho fantástico da necessidade da difícil tarefa de dialogar com os diferentes.
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