Relato sobre o estado de consciência elevado e ampliado
autoconhecimento

Relato sobre o estado de consciência elevado e ampliado


Como a transformação de meu estado de consciência é a particularidade mais importante de minha experiência, aquela sobre a qual desejaria chamar a atenção, devido à extensão incalculável de seus resultados, é necessário que eu me estenda um pouco mais sobre esta modificação extraordinária, que durante muito tempo considerei como uma anomalia ou uma ilusão.

O estado de consciência elevado e ampliado, permeado por uma indizível felicidade de ordem supraterrestre, o qual experimentei quando da primeira manifestação da serpente de fogo em mim, era um fenômeno interior, de natureza subjetiva, indicando uma expansão do campo de consciência, ou do eu conhecedor, sem forma, Invisível e infinitamente sutil. Em o observador dentro do corpo, sempre além de qualquer exame, impossível de definir ou descrever. A partir da unidade de consciência que eu era originalmente, dominada pelo ego, e à qual eu estava habituado desde a infância, eu me expandia repentinamente em um círculo de consciência resplandecente, que se alargava cada vez mais, até que um máximo fosse atingido: o “eu” continuava a ser o que sempre fora, mas em lugar de uma unidade constrangedora, limitadora, ele próprio estava agora cercado de uma esfera de consciência luminosa de grandes dimensões. À falta de melhor comparação, eu diria que de minúsculo clarão que era, a consciência em mim se tornara um vasto lago de luz irradiante; o “eu”, completamente imerso nesse lago, tinha ao mesmo tempo pleno conhecimento do volume beatificamente resplandecente da consciência ao redor, tanto próxima quanto longínqua. Para ser mais preciso, havia a consciência do "eu" ao mesmo tempo que um campo de consciência de vasta expansão, existindo simultaneamente, distintos e, no entanto, sendo apenas um.

Este fenômeno notável, indelevelmente impresso em minha memória, tão real que dele me recordo da mesma maneira que quando ele se produziu, não tornou a se repetir em todo o seu esplendor original senão muito tempo depois. Durante as semanas e os meses penosos que se seguiram, não houve nenhuma semelhança entre minha experiência inicial e as condições mentais extremamente perturbadas que vivi, com exceção do fato de que eu estava dolorosamente consciente de que ocorrera uma expansão, de uma maneira ou de outra, produzida naquilo que constitua a área de minha consciência, e que ela estava sujeita com freqüência a contrações parciais.

Quando de minha vinda para Jammu, eu havia recobrado meu equilíbrio mental e, ao cabo de pouco tempo, fui plenamente restituído a mim mesmo, com todos os meus traços individuais e as minhas particularidades. Mas a incontestável modificação em minha faculdade cognitiva – que eu havia notado depois de certo tempo e que me era constantemente lembrada quando contemplava um objeto exterior ou uma imagem mental interior – não sofreu nenhuma mudança. O único fato novo é que, à medida que o tempo passava, o círculo luminoso em minha cabeça se tornava cada vez maior, em graus imperceptíveis, com um aumento correspondente à expansão da consciência. Não havia dúvida alguma de que agora olhava o universo com a ajuda de uma superfície mental notavelmente ampliada, e que, por conseguinte, a imagem do mundo que eu percebia era refletida por uma superfície maior que aquela que provem meu espírito durante todos os anos desde minha infância até o momento de minha visão extática. A capacidade da esfera de minha consciência, sem dúvida alguma, havia aumentado, pois eu não podia me equivocar a respeito de um fato que eu constatava continuamente durante o estado desperto.

O fenômeno era tão estranho e tão fora do comum que estava convencido de que seria inútil buscar o exemplo de um caso análogo, mesmo se a insólita transformação fosse devida à ação do despertar da kundatini e não a uma singular anomalia que afetasse apenas a mim. Compreendendo também a futilidade de querer revelar a outrem essa evolução inteiramente fora do comum e mau dita, eu a conservava estritamente em segredo, e não disse nada, mesmo àqueles que me eram intimamente próximos. Como meu estado físico e mental não me causava mais nenhum mal estar, com exceção do fato de que apresentava essa inexplicável particularidade, deixei pouco a pouco de me preocupar com ele.

Conforme já expliquei ... nos estados iniciais de minha experiência dir-se-ia que observava o mundo através de uma bruma mental, ou, para ser mais claro, como se uma fina camada de poeira, extremamente fina, estivesse suspensa entre mim e os objetos percebidos. Não era um defeito ótico, pois minha visão estava mais penetrante do que nunca e a bruma parecia envolver não os objetos sensoriais, mas os órgãos perceptivos. A poeira estava sobre o espelho consciente que refletia a imagem dos objetos. Dir-se-ia que os objetos percebidos eram vistos através de um meio esbranquiçado, que os fazia parecer como se uma película uniforme e muito fina de pó de giz os cobrisse, sem baralhar nem de leve seu contorno, nem velar a cor normal própria de cada um. Essa película estava suspensa entre mim e o céu, os galhos e as folhas das árvores, a grama verde, as casas, as ruas pavimentadas, as roupas e os rostos das pessoas, emprestando a todos uma aparência esbranquiçada; era exatamente como se o centro de consciência em mim – que interpretava as impressões sensoriais – operasse agora através de um meio branco, que necessitava ser ainda mais refinado e purificado para se tornar de todo transparente.

Tal como no fenômeno de ampliação das imagens visuais, eu estava totalmente desorientado e não encontrava uma explicação satisfatória para a aparência esbranquiçada dos objetos percebidos. Nenhuma mudança de tempo, lugar ou condições atmosférica exercia qualquer efeito sobre casa transformação. Ela era tão evidente à luz das lâmpadas quanto ao sol, tão sensível sob a clara luz da manhã quanto sob o crepúsculo. De fato, a mudança era interior e não era afetada pelas variações de influências externas. Perplexo e permanecendo calado, continuei passando os dias e as noites em Jammu a ocupar-me de meus deveres e a aplicar-me às minhas tarefas como faziam todos os outros. A única razão plausível que eu podia entrever naquela mudança em minha faculdade cognitiva era esta: o princípio que anima o corpo e reside nele, agora fazia funcionar esse mecanismo através de um meio vital modificado; este conduzia a uma modificação na qualidade e no comportamento das correntes nervosas que comandam as funções dos órgãos, assim como na qualidade das impressões sensoriais e de sua interpretação pelo espírito observador. Mas tudo o que acontecera e que ainda acontecia era de tal forma despido de precedentes e inacreditável, que eu me sentia mais à vontade em mim mesmo, tratando tudo aquilo como uma anomalia, do que considerando o como um crescimento natural governado por leis biológicas – o que ao final viria a se confirmar.

Desta maneira, preso de dúvidas e inquietude, eu continuava a passar meu tempo em diversas atividades, até certo dia ensolarado em que estava a caminho de meu escritório: eu olhava ao acaso a fachada do Palácio Rajgarh, no qual estão instaladas as repartições do governo, e passeava o olhar pelo céu, pelo telhado e pela parte superior dos edifícios. A princípio olhava de relance, displicentemente; depois, tocado por alguma coisa estranha em sua aparência, com maior atenção, incapaz de desviar meu olhar; por último cravado no lugar, eu fixava com espanto aquele espetáculo, incapaz de acreditar no que meus olhos testemunhavam. Olhava uma cena que me era familiar antes de minha experiência maior e durante os últimos meses, mas o que eu via agora era tão extraordinário que fiquei completamente paralisado pela surpresa. Contemplava uma cena que não pertencia a este mundo mas a algum reino feérico: a fachada do edifício, antiga, degradada pelo tempo, sem ornamentação e banal, e a abóbada do céu acima dela, banhada pela viva luz do sol, estavam ambas iluminadas por um brilhante clarão prateado que lhes conferia uma beleza e um fausto gloriosos, e criava um efeito maravilhoso de sombras e claridade, impossível de se descrever. Ofuscado, encantado, voltei meus olhos para outras direções, para ser de novo fascinado pelo reflexo prateado que transfigurava todas as coisas. Certamente, eu era a testemunha de uma nova fase de minha transformação. O resplendor que percebia de todos os lados e em todos os objetos não emanava deles mas devia ser, sem nenhuma dúvida, a projeção de minha própria luminosidade interior.

Pandit Gopi Krishna. Koundalini, L’Enegie évolutrice en l’homme, Courrier du Livre, Paris, 1978. 





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