O ser humano, — que longe se encontra de “ser” humano — encontra-se de tal forma sabotado psiquicamente, que não consegue perceber as próprias limitações e os consequentes sofrimentos resultantes de tal sabotamento psíquico. Assim sendo, desperdiça sua energia vital para se mostrar como parte integrante e funcional da imensa massa que faz o “jogo dos contentes”.
Sinto que, diante de tal sabotagem, o ego humano desenvolveu uma capa protetora contra toda informação que aponte para a deformação psíquica resultante de tal herança sabotadora. Por melhor que sejam os argumentos, por melhor que sejam as oratórias, por melhor que seja o “estado de Presença” daqueles que tentam elucidar tamanha ausência de lucidez gerada por tal sabotamento hereditário, aqueles que se encontram inconscientes e, portanto, prisioneiros desse processo de sabotagem psíquica, não apresentam o menor sinal de interesse, não apresentam sinais de “sede de plenitude”, não apresentam aquela “vontade de quero mais” diante do novo paradigma que lhe é apresentado. Infelizmente, a constatação é a de que somente através de um poderoso “choque psíquico” apresentado pela vida, “choque psíquico” pela qual o caos possa se manifestar, trazendo consigo o necessário “ponto de saturação” — o qual gera o “ponto de mutação” — é que pode se dar a ocorrência do necessário estado de abertura que traz consigo a arte da “escuta iniciática”. A vivência tem demonstrado que, qualquer tentativa de transmissão da mensagem de um novo paradigma psíquico antes da ocorrência desse “choque psíquico”, desse “ponto de saturação”, mostra-se como puro desperdício de energia vital, como nas palavras de um grande místico, “é jogar pérola aos porcos”. Não se pode fazer um cavalo sedento beber água, enquanto ele insiste em ruminar capim seco. O falr dos outros, os comentários sobre a externa superficialidade transitória, supera em muito o tão necessário interesse pela busca de interioridade.
Outsider