Sobre o necessário processo de ego-esvaziamento
autoconhecimento

Sobre o necessário processo de ego-esvaziamento



A verdadeira meditação, ou sintonização cósmica, exige, como prelúdio, um total esvaziamento de todos os conteúdos do nosso ego humano. Esse ego-esvaziamento é chamado "egocídio" pelos grandes iniciados. Paulo de Tarso escreve: "Eu morro todos os dias". O próprio Cristo diz aos seus discípulos: "Se o grão de trigo (ego) não morrer, ficará estéril".

Quando alguém pratica esse esvaziamento da ego-consciência, esse egocídio voluntário, ele, durante esse período, não faz nada, não quer nada; reduz a zero, temporariamente, toda e qualquer atividade do ego, pondo-se em disponibilidade para a invasão da consciência cósmica.

Para o principiante e inexperiente existe o grande perigo de que essa total passividade do ego-consciente o faça cair do transe, em auto-hipnose, estado esse que não resolve nada. Para que não aconteça isto, deve o homem, totalmente ego-esvaziado, permanecer na plenitude do EU consciente, deve ficar 100%, apesar de 0% pensante.

O inexperiente acha que isto — 100% consciente e 0% pensante — seja um círculo quadrado, algo impossível, porque confunde pensamento com consciência. O experiente, porém, sabe que o pensamento é um processo analítico do ego humano, ao passo que a consciência é um estado intuitivo do EU Cósmico. Depois de muitas tentativas infrutíferas, consegue o homem manter-se plenamente consciente, sem pensar nada, sem querer nada.

E nesse estado de total vacuidade do ego-consciente, é ele invadido pelo cosmo-consciente, que resolve os dolorosos problemas da existência humana.

Todos os nossos problemas são produtos do ego humano — ao passo que a solução desses problemas vem da consciência cósmica. A invasão da consciência cósmica não anula a ego-consciência, mas integra-a. O ego humano não é aniquilado pelo Eu Cósmico, mas integrado nele.

Quando uma semente se transforma em planta, ela não morre, mas vive de outro modo, melhor e maior. O que morre é a casca que envolvia e protegia o germe vivo. Para que o germe possa passar da vida potencial da semente para a vida atual da planta, deve a casca morrer ou dissolver-se. A integração da vida da semente na vida da planta supõe a desintegração do invólucro do germe.

É o que se entende por egocídio. A casca da semente, que foi um auxílio, se tornaria um empecilho, se não se desintegrasse.

Assim, o ego humano se torna um impedimento para o Eu Divino, se não se desintegrar, a fim de se integrar.

Neste sentido, disse Jesus: "Quem quiser salvar a sua vida (ego), perde-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho (EU), este a salvará". O Ego não pode salvar-se pelo ego, mas pode ser salvo pelo EU. A ego-integração no EU.

Quem não morrer voluntariamente, antes de ser morto compulsoriamente, não pode viver gloriosamente.

Neste sentido, escreve Paulo de Tarso: "Eu morro todos os dias, e é por isso que eu vivo; o Cristo é quem vive em mim". Eu já não sou ego-vivente, eu sou Cristo-vivido.

E Jesus diz: "Se o grão de trigo (ego) não morrer, ficará estéril mas, se morrer, produzirá muito fruto (Eu)".

A verdadeira meditação é, pois, um MORRER e um NASCER. É uma desintegração a fim de promover uma integração.

Onde há uma vacuidade, acontece uma plenitude. O ego-esvaziamento é uma disponibilidade para a cosmo-plenificação.

Quando dizemos "cosmos", não nos referimos ao mundo material, mas à alma do Universo, que as religiões chamam Brahman, Tao, Yahveh, Deus. O grande filósofo monista Spinoza, escreveu: "Deus é a alma do Universo e o Universo é o corpo de Deus".

Quando o homem se esvazia de todos os conteúdos do seu ego humano, então ele é plenificado pela Alma do Universo, pela Divindade. A Ego-vacuidade produz Teo-plenitude.

Para o principiante, esse ego-esvaziamento é um tenebroso problema, , porque ele se identifica tradicionalmente com o seu ego humano, e o egocídio lhe parece ser a extinção de sua própria individualidade, do seu verdadeiro ser. Só aos poucos, através de muita experiência, descobre o homem que ele não é o seu ego, mas o seu EU, que se identificou com este. Quando o homem descobre o seu verdadeiro Eu centtral, cerifica ele a sua ilusão, e, daí por diante, considera o seu ego como algo que ele TEM, mas não o que ele É.

E então compreende ele as palavras do Cristo: "Eu e o Pai somos um; o Pai está em mim, e eu estou no Pai".

Huberto Rohden - Rumo à Consciência Cósmica






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