Uma mente que é produto do temor, jamais encontrará o amor
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Uma mente que é produto do temor, jamais encontrará o amor


[...] Vocês só podem ter inteligência apenas quando há liberdade, e não, temor. E uma mente disciplinada nunca pode descobrir o que é a Verdade — isto é, uma mente que é produto do temor, jamais encontrará o amor. 

[...] Não digam: "o que me acontecerá, se eu não me disciplinar?" — O que lhes aconteceu, até agora? — pois suponho que tenham se disciplinado, até agora; pelo menos dizem que estão se disciplinando. Qual é a situação de vocês? Vivem lutando incessantemente, entre aquilo que desejam ser e aquilo que são realmente. 

Por que não se livram da teoria ideológica relativa ao que deveriam ser, que não contém nenhuma verdade? O fato é: o que são atualmente? Por que não procuram compreender este fato? A compreensão do que são não exige disciplina; ao contrário, podem examiná-lo livremente, livremente lhe investigar a verdade. Em geral, porém, não queremos compreender o que somos, sempre em demanda do que deveríamos ser, esperando assim fugir ao que somos. A compreensão do que somos é o único fato, a única realidade; e nessa compreensão haverão de encontrar a verdade infinita de que "o que é" é, e de que "o que é" nunca é estático. Mas isso requer uma mente não carregada de temor, não tolhida por uma ideia de disciplina ou daquilo que meu pai, minha mãe, meu guru, minha sociedade possam dizer de mim. 

A disciplina impede a inteligência. A inteligência é o resultado da libertação do temor. Mas vocês acham que não devem ficar livre do temor. Pensam que o temor conserva o homem no caminho reto e que, por conseguinte, devem disciplinar o seu filho para que ele não se rebele contra vocês, e lhe ensinar o que acreditam ser a Verdade. Começam, pois, a condicioná-lo, por meio do temor; querem que se ajuste ao padrão da sociedade de vocês. Instalam, assim, gradualmente, no seu espírito, o temor e lhe destroem a inteligência. É isso o que está sucedendo à maioria de nós, não é exato? Talento, erudição, capacidade de argumentar, de citar outros — nada disso significa inteligência. O homem inteligente é sem temor. Não se pode dissipar o temor por meio de compulsão ou ajustamento. O temor é um veneno que atua lentamente no ser total de vocês, destruindo-lhes toda a lucidez. 

Assim, pois, considerando devidamente o problema da disciplina, verão não ser a disciplina coisa importante; que o que tem importância é a compreensão do "processo da mente", o "processo" de conduta, tanto em si mesmos como em tudo o que os cerca. A compreensão de si mesmo é essencial. A compreensão de si mesmo não exige que se retirem da vida, que se tornem eremita ou monge. Não podem se compreender no isolamento; só podem se compreender quando em relação com outro, pois viver é estar em relação; e para compreenderem a si mesmo, precisam se servir do espelho das relações, o que requer uma capacidade extraordinária, e não temor ou uma mente que diga "isso é errado", ou "isto é correto"; essa é uma mentalidade de colegial. Só o pensamento não amadurecido está sempre condenando ou justificando. 

[...] Uma mente inteligente não precisa de disciplina; ela se disciplina continuamente — isto é, está sempre a observar, a adaptar-se e nunca se acha dentro do rígido molde chamado "disciplina". Senhor, uma mente criadora é a mais disciplinada das mentes; entretanto, sua disciplina não é a que resulta do temor e, sim, a disciplina própria da mente que compreende, que está sempre cônscia das suas ações e dos movimentos dos seus próprios desejos. Esse percebimento não exige disciplina. Apenas a mente preguiçosa, inutilizada, "desintegrada", só essa mente tem medo de amadurecer e por isso diz: "preciso disciplinar, controlar; preciso ser isso, ser aquilo" ou "não devo ser isso". Essa mente jamais descobrirá o que é a Verdade. 

A mente disciplinada não pode, nunca, descobrir o que é a Verdade. A mente disciplinada não pode saber o que é o amor. Por isso, nunca conhecemos o amor. Conhecemos, tão somente, a sensação do sexo, ou essa vaidade de sermos amados ou de amarmos. Não sabemos o que é o amor. O amor não é coisa da mente. O amor não é nenhum artifício da mente que crê, que se limita a si mesma, e que teme. O amor nasce apenas quando a mente compreende a natureza da inveja. Quando a mente compreender as próprias tendências de preenchimento, seu desejo e seu medo à frustração, só então poderá surgir aquela coisa que não é mera sensação, mas a "qualidade amor", a qual nos resolverá todos os problemas. 

Jiddu Krishnamurti em, Autoconhecimento — Base da Sabedoria




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