autoconhecimento
Quem têm medo não pode ser inteligente
A inteligência, para mim, é verdade, beleza e amor.
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O que eu chamo inteligência é o estado de plena consciência da fonte de suas ações e, para descobrir essa fonte, devem estar libertos da limitação da individualidade.
Busquem a fonte da ação de vocês pela constante vigilância da mente, pela compreensão do transitório, pelo significado pleno de uma experiência que encerra o eterno.
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A inteligência, liberta do eu-consciência, torna a mente perfeita.
Inteligência é a harmonia da mente e do coração e, por isso, ela é suprema, em si mesma divina.
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A sabedoria é como as águas que correm; não pode ser capturada nem adquirida. A sabedoria é verdadeira inteligência, e a verdadeira inteligência é o discernimento do reto valor. Vocês só podem descobrir o reto valor, quando a mente não mais procurar aquisições nem conformidades.
Deixem que eu tome um exemplo e saberão o que tenho em mente dizer. Suponham que estão sofrendo intensamente, por causa da morte de alguém, ou porque alguém não lhes ama. Nesse sofrimento buscam felicidade, consolação. Por isso, prontamente aceitam qualquer consolo que outrem tenha para lhes oferecer. Se, entretanto, não estiverem buscando a felicidade como uma coisa oposta ao sofrimento de vocês, então examinarão impessoal e criticamente o que quer que lhes sobrevenha e, por essa maneira, descobrirão o verdadeiro valor de cada experiência, de cada dádiva da vida. No assim experimentar cada incidente da vida, com todo o ser de vocês, não buscando satisfação ou consolo próprio, nasce a inteligência.
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A harmonia da mente e do coração é a verdadeira inteligência, não a inteligência proveniente do muito aprender, do muito conhecimento armazenado, porém a inteligência de uma mente que continuamente está se libertando de suas próprias ações, mente que, pelo fato de viver completamente no presente, não cria memória, mente que, pela sua própria ação, não cria uma resistência que desperdiça a concentração no presente.
Vocês necessitam da harmonia da mente e do coração para realizar a verdade, sendo que a maioria das pessoas evitam ser inteligentes, porque isto lhes exige ação. Para ser inteligente, vocês necessitam de se libertarem do fingimento da sociedade, da consciência de classe, do egoísmo. As pessoas que se interessam pelo movimento da realidade, podem ser inteligentes. A inteligência não é somente o dom do gênio. É na verdade muito simples; tão simples é, que lhes evita; ou melhor, é tão delicada que vocês a evitam, porque querem algo de concreto em que se agarrar. O que é que torna uma pessoa obtusa, estúpida, lenta? A falta de adaptabilidade, de plasticidade. É escrava de ideias particulares, que são ela própria, ao passo que, se sempre estiver alerta, vigilante, abrindo seu caminho sem finalidade fixa, sem uma ideia concreta de consecução, então será inteligente.
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É o medo que conduz à ação não inteligente, portanto, ao sofrimento, e como os indivíduos estão cativos desse medo, eu procuro despertar neles a percepção da barreira por si mesma criada de ignorância e preconceito. Pelo fato de cada indivíduo buscar a própria segurança sob múltiplas formas, não pode haver cooperação inteligente com seu ambiente, e seguem-se daí muitos problemas, que não podem ser superficialmente resolvidos. Se cada um de vocês fosse corajoso, não ansiando por segurança, sob qualquer forma que fosse, neste mundo ou no além, então, neste estado de valentia, a inteligência poderia funcionar e produzir ordem e felicidade.
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A inteligência desperta-se por meio do próprio percebimento de vocês, de um modo novo de viver, espontaneamente, sem esforço para se ajustarem. Nisto existe um êxtase que é verdadeira beleza.
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O homem que têm medo não pode ser inteligente — pois o medo impede o puro discernimento.
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Onde houver a imitação, não poderá haver o rico preenchimento da vida.
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O desejo do oposto cria o temor e deste temor surge a imitação.
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Onde há imitação, deve haver também medo, e a ação imitativa é desprovida da inteligência.
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O indivíduo é o universo inteiro, o mundo inteiro, e não somente uma parte separada do mundo. O indivíduo é o todo-inclusive, não o todo-exclusivo. Ele está continuamente fazendo esforços, experimentando, em diferentes direções; porém o "eu" em vocês, em mim e em todos, é igual, embora suas expressões possam e devam variar. Quando compreenderem este fato e dele forem plenamente conhecedores, já não procurarão salvação no exterior. Não necessitarão de agente exterior e assim ficará abolida a causa fundamental do medo. Desembaraçar-se do medo é compreender que em vocês está o centro focal da expressão da vida. Quando tiverem tal visão, serão os criadores das oportunidades, já não evitareis as tentações, as transcenderão; já não desejarão imitar e se tornar uma máquina, em um tipo que é apenas o desejo de se conformar com uma base. Utilizarão a tradição para avaliar e por esse meio transcender toda a tradição.
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A conduta nascida da compulsão, seja da recompensa ou da punição, a do temor ou do amor, não é reta conduta. É mera imitação forçar e drenar a mente, de acordo com certas ideias, a fim de evitar o conflito. Esta espécie de disciplina, imposta ou voluntária, não conduz à conduta reta.
A conduta reta só é possível, quando vocês compreenderem o pleno significado do processo auto-ativo da ignorância e o reformar da limitação pela ação do desejo. No discernimento profundo do processo do medo, dá-se o despertar daquela inteligência que produz a reta conduta. Pode a inteligência ser despertada pela disciplina, imposta ou voluntária?
Será isso questão de drenar o pensamento de acordo com um molde particular? A inteligência pode ser despertada, pelo medo que lhe impede de se subjugarem a um padrão moral? A compulsão, de qualquer espécie que seja, externa ou voluntariamente imposta, não pode despertar a inteligência, porque a imposição é resultante do temor. Onde há medo não pode haver inteligência. Onde funciona a inteligência, há ajuste espontâneo, sem o processo da disciplina.
Portanto, a questão não é se a disciplina é certa ou errada, ou se é necessária, mas como pode a mente libertar-se do temor por si próprio criado. Pois, quando há libertação do medo, não existe o sentimento da disciplina, mas sim a plenitude da vida.
O pensamento deve ser vital, dinâmico, não mecânico ou imitativo.
Considera-se pensar positivo um sistema de disciplinar a mente de acordo com uma modalidade particular. Primeiramente, vocês criam ou aceitam uma imagem intelectual, um ideal e, de acordo com este, torcem o pensamento de vocês.
Esta conformidade, esta imitação é tomada erroneamente por compreensão; porém, de fato, é apenas ânsia de segurança, nascida do medo. O incitamento do medo conduz apenas à conformidade, e a disciplina nascida do medo não é o reto pensar.
Krishnamurti — O medo — 1946
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