autoconhecimento
Uma revolução fora dos padrões sociais - Parte II
As revoluções fundamentais são produzidas pela massa, ou são elas iniciadas por uns poucos indivíduos de visão que, pelo seu verbo e sua energia, influenciam grande número de pessoas? É assim que nascem as revoluções. Não é um erro julgar que nós, como indivíduos, nada podemos fazer? Não é um engano supor que todas as revoluções fundamentais são produzidas pela massa? Porque supomos que os indivíduos não têm importância como indivíduos? Com esse modo de ver, nunca pensaremos por nós mesmos, e reagiremos sempre automaticamente. A ação é sempre da massa? Ela não brota essencialmente do indivíduo, comunicando-se, depois, de indivíduo a indivíduo? Não existe realmente essa coisa chamada massa. Afinal de contas, a massa é uma entidade constituída de pessoas que estão enredadas, hipnotizadas por palavras, por certas idéias. Quando não estamos hipnotizados por palavras, estamos à margem da corrente — coisa de que nenhum político haveria de gostar. Não deveríamos manter-nos à margem da corrente e tirar dela outros indivíduos, em número crescente, para, dessa maneira, influir na corrente? Não importaria muito que, em primeiro lugar, se realizasse uma transformação fundamental no indivíduo, que antes de tudo vós e eu nos transformássemos radicalmente, em vez de esperarmos que todo o mundo se transforme? Não é uma concepção "escapista", uma forma de indolência, uma maneira de fugir ao problema, supor que vós e eu somos incapazes de influir, por pouco que seja, na sociedade como um todo?
(1)
Parece-me de grande importância compreender o "processo" total da individualidade. Porque, só quando o indivíduo se transforma radicalmente, pode haver uma revolução fundamental na sociedade. É sempre o indivíduo e nunca a coletividade, que pode produzir uma mudança radical no mundo — e isto é um fato histórico.(2)
Ao que parece, achamos que podemos fazer muito pouco neste mundo, e que só os grandes políticos, os escritores famosos, os grandes líderes religiosos são capazes de ação extraordinária. Na verdade, você e eu somos infinitamente mais capazes de produzir uma transformação radical do que os políticos e economistas profissionais. Se estivermos preocupados com a nossa vida, se compreendermos o nosso relacionamento com os outros, teremos criado uma nova sociedade; de outra forma, estaremos apenas perpetuando a atual confusão e emaranhado caótico.(3)
Uma mudança na sociedade é de importância secundária; ela virá, natural e inevitavelmente, quando, como ente humano, tiverdes operado a mudança em vós mesmo.(4)
Existe uma única revolução fundamental. E essa revolução só se materializa quando cessa a necessidade de usar o outro. Essa transformação não é uma abstração mas uma realidade que pode ser vivenciada à medida que começamos a compreender o mecanismo do nosso relacionamento. A essa revolução fundamental pode se dar o nome de amor; esse é o único fator criativo capaz de produzir mudanças em nós mesmos e na sociedade.(5)
A neurose oferece uma extraordinária impressão de segurança. O homem que crê é neurótico, e neurótico é também o que adora uma imagem. Nestas neuroses encontra-se muita segurança. E a segurança não faz operar-se uma radical revolução em nós mesmos. Para realizá-la, cumpre observar sem escolha, sem nenhuma deformação causada pelo desejo, pelo prazer ou pelo medo. Temos de observar o que realmente somos, sem nenhuma espécie de fuga. E não dê nome ao que vê: Observe-o, apenas! Você terá então a paixão, a energia necessária ao observar, e nesse observar verifica-se uma extraordinária transformação.(6)
O homem ambicioso é um homem político, e o mundo político jamais resolverá o problema da existência humana. Nenhum parlamento, nenhum líder político é capaz de compreensão e de produzir uma revolução interior, no mundo.(7)
Estamos todos à beira de um precipício. Toda esta civilização em que o homem tinha tanta fé, está ameaçada de destruição; as coisas que temos criado e cultivado com tanto carinho, todas estão em jogo atualmente. Para que o homem se salve do precipício, torna-se necessária uma verdadeira revolução – não uma revolução sangrenta, mas uma revolução de regeneração interior. Não é possível regeneração sem autoconhecimento. Sem você conhecer a si mesmo, nada pode fazer. Temos que pensar em cada problema profundamente e de maneira nova; e para o fazer, precisamos libertar-nos do passado, o que significa que o “processo” de pensamento deve findar. Nosso problema consiste em compreender o presente, na sua enormidade, com suas inevitáveis catástrofes e desgraças – precisamos encarar tudo isso de maneira nova. Não pode haver nada novo se transportamos sempre conosco o passado, se analisamos o presente por meio do “processo” do pensamento. Eis porque, para se compreender um problema, necessita-se o findar do pensamento. Quando a mente está tranqüila, quieta, serena, só então está resolvido o problema. Por conseguinte, é importante a compreensão de si mesmo. Você e eu temos que ser o sal da terra, professando um novo pensamento, uma nova felicidade.(8)
É absoluta e urgentemente necessário alterar todo o curso do pensamento humano, da existência humana que está ficando, cada vez mais, mecanizada. E não vejo como pode ocorrer essa revolução total a não ser no indivíduo. O coletivo não pode ser revolucionário; o coletivo só pode seguir, ajustar-se, imitar, submeter-se. Só o indivíduo, essa entidade, só ele pode ir adiante, destruir todos esses condicionamentos e ser criativo. É essa crise na consciência que exige essa mente, essa mente nova. E, aparentemente, do ponto de vista do qual observamos, nunca se pensa nessa direção; pensamos sempre que é o aperfeiçoamento técnico e mecânico que, de algum modo milagroso, dará origem à mente criativa, à mente livre do medo.(9)
A crise atual é a maior de nossa vida, apesar das enormes mudanças que se estão verificando no mundo da ciência, da matemática, etc. Tecnicamente observa-se uma extraordinária mudança, ao passo que na psique do ente humano tem havido muito pouca alteração. A crise não é conseqüência do progresso técnico, porém, antes, de nossa maneira de pensar, de viver, de sentir. Aí que é se faz necessária a revolução. Essa revolução não pode realizar-se de acordo com um dado padrão, porque, psicologicamente, nenhuma revolução é possível pela mera imitação de uma dada ideologia. Para mim, todas as ideologias são absurdas sem nenhuma significação. O que tem significação é o que é, e não o que deveria ser.(10)
O homem está sendo moldado, condicionado para pensar segundo um certo padrão, dentro de uma certa esfera e, consequentemente, evitando a revolução religiosa. E pode-se ver que é necessária uma revolução dessa natureza, revolução não baseada em convulsão econômica ou social, porém revolução total, revolução verdadeiramente religiosa. Não me refiro à religião do hinduísta, do budista ou do cristão. Isto não é religião, em absoluto, porém mero dogma, sistema de crenças oriundas do medo, do desejo de segurança, de sentar-se "à direita de Deus-Pai", o que quer que seja. Religião é uma coisa bem diversa, e para se achar a vida religiosa necessita-se de revolução total de nosso pensar. Para criar um mundo diferente, uma civilização inteiramente nova, deve cada um de nós começar da base correta, e essa base correta se lança com o autoconhecimento. Você deve começar a conhecer a si mesmo, e não simplesmente a parte superficial de sua consciência.(11)
Necessitamos de uma revolução completa, uma completa mutação - não mediante idéias, ou uma fórmula, ainda que muito inteligente, muito engenhosa, muito erudita. Necessitamos de uma revolução completa, completa transformação, mutação da mente. Só assim pode a mente deter a desintegração, dar novo sentido ao viver e possibilitar a criação.(12)
Os reformadores políticos, sociais, e religiosos, só causarão mais sofrimentos para homem a menos que ele compreenda os mecanismos da sua própria mente. Na compreensão do processo total da mente, acontece uma revolução radical interior, e surge a ação da verdadeira cooperação, que não é a cooperação de acordo com um padrão, com uma autoridade, com alguém que "sabe". Você sabe como cooperar quando existe esta revolução interior, então você também saberá quando não-cooperar, que é realmente muito importante, talvez mais importante ainda. Nós agora cooperamos com qualquer pessoa que oferece uma reforma, uma mudança, o que só perpetua o conflito e o miséria, mas se podemos conhecer o que é ter o espírito de cooperação que vem com a compreensão do processo total da mente onde existe liberdade do “eu”, então há uma possibilidade de se criar uma nova civilização, um mundo totalmente diferente no qual não existe nenhuma possessividade, nenhuma inveja, nenhuma comparação. Isto não é uma utopia teórica, mas o estado real da mente que constantemente perguntando e procurando que é verdadeiro e bendito.(13)
Por estarmos, na maioria, condicionados por influências sociais, econômicas, religiosas, etc., somos copistas, imitadores, e por isso não ligamos importância ao que é novo, chamamo-lo revolucionário (…) Mas se pudermos examiná-lo, se o observarmos com inteira isenção de preconceitos, de limitações, então talvez seja possível compreender-nos mutuamente e comungar uns com os outros. Só há comunhão quando não existe barreira alguma; (14)
Qual é então, o meio de vida correto? Essa pergunta só poderá ser respondida quando houver completa revolução na atual estrutura social, não uma revolução segundo a fórmula da direita ou da esquerda, mas completa revolução de valores não baseados nos sentidos. (15)
Temos crescente desemprego, exércitos cada vez maiores, os grandes negócios (…) formando vastas empresas. (…) Dada essa situação (…) como você irá encontrar um meio de vida correto? (…) Ou você tem de retirar-se para formar com uns poucos uma comunidade autárquica, cooperativa, ou você sucumbe (…) Mas, como sabe, a maioria de nós não tem verdadeiro empenho em encontrar o meio de vida correto, cada um está interessado em obter um emprego e nele se manter (…)Assim, o meio de vida justo, em vasta escala, deve começar com aqueles que compreendem o que é falso. Quando você batalha contra o falso, está criando o meio de vida justo. Quando batalha contra toda a estrutura da dissenção, da exploração por parte da esquerda ou da direita, ou contra a autoridade da religião (…) — essa é a profissão correta, no momento atual. Porque os que assim procedem criarão uma nova sociedade, uma nova civilização. (16)
A ocupação justa não se inspira na tradição, nem na ganância, nem na ambição. Quando cada um estiver verdadeiramente interessado em estabelecer a verdadeira vida de relação, não só com um, mas com todos, achar-se-á, então, a ocupação justa. Esta resulta da regeneração, da transformação do coração, e não apenas da determinação intelectual de encontrá-la.(17)
É muito importante que cada um de nós descubra qual é a sua relação com a sociedade, se ela está baseada na ganância — que significa auto-expansão, preenchimento do “eu”, que supõe poder, posição, autoridade — ou se simplesmente aceitamos da sociedade as coisas essenciais, tais como alimento, roupa e moradia.(18)
Você me pergunta qual a profissão que lhe aconselho (…) O que está acontecendo neste mundo? Há possibilidade de se escolher profissão? Cada um segura aquilo que pode. Já nos consideramos felizes se achamos trabalho. Assim é em todas as partes do mundo. Porque temos um único alvo: ganhar dinheiro, seja como for, para viver. O pensar correto gera a profissão correta e a ação correta. Você não pode pensar corretamente, sem autoconhecimento. (…) É extremamente difícil escolher uma profissão num mundo civilizado desta espécie, em que toda ação conduz à destruição e à exploração.
(19)A maioria das pessoas são forçadas a entregar-se a trabalhos, atividades, profissões, para as quais de forma alguma estão talhadas. Passam o resto da existência batalhando contra essas circunstâncias, disparando assim todas as energias em lutas, dores, sofrimentos (…) Outros homens rompem as limitações do ambiente, depois de compreenderem o seu verdadeiro significado, passando a viver inteligentemente, em atividades criadoras, seja no mundo da arte, da ciência, seja nas profissões.
(20)Eis porque é importantíssimo achar a vocação justa. Sabeis o que significa “vocação”? É a ocupação que desempenhamos com agrado, com naturalidade. Afinal, tal é a função da educação (…) de uma escola como esta, a saber, ajudar-vos a crescer com independência, para que não sejais ambiciosos e possais achar a vossa verdadeira vocação.
(21)(…) Pois bem, a maioria de nós se embota nisso que se chama trabalho, emprego, rotina, (…) Tão identificado (…) que não pode vê-lo objetivamente; (…) Vive numa gaiola (…) isolado (…) O seu trabalho, por conseguinte, é uma forma de fuga da vida: da sua esposa, de seus deveres sociais.
(22) (1) Krishnamurti - O que estamos buscando?(2) Krishnamurti - Da solidão à Plenitude Humana(3) Krishnamurti - Sobre Relacionamentos (4) Krishnamurti - Fora da Violência(5) Krishnamurti - Sobre Relacionamentos(6) Krishnamurti - Fora da Violência(7) Krishnamurti - Fora da Violência(8) Krishnamurti - A arte da libertação(9) Krishnamurti - Sobre A Liberdade(10) Krishnamurti - A importância da Transformação(11) Krishnamurti - O Homem Livre (12) Krishnamurti - Uma Nova Maneira de Agir
(13) Krishnamurti - Uma Nova Maneira de Agir
(14) Krishnamurti - Que Estamos Buscando?
(15) Krishnamurti - Novo Acesso à Vida
(16) Krishnamurti - Novo Acesso à Vida
(17) Krishnamurti - O Egoísmo e o Problema da Paz
(18) Krishnamurti - A Arte da Libertação
(19) Krishnamurti - Uma nova maneira de viver
(20) Krishnamurti - A Luta do Homem
(21) Krishnamurti - Novos Roteiros em Educação(22) Krishnamurti - Novo Acesso à Vida
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