A mente religiosa e a mente científica
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A mente religiosa e a mente científica


A mente científica é objetiva. Sua missão é descobrir, perceber. Vê as coisas através de um microscópio, de um telescópio; tudo tem de ser visto exatamente como é; dessa percepção, a ciência tira conclusões, constrói teorias. Essa mente move-se de um fato para outro fato. O espírito científico nada tem que ver com condições individuais: nacionalismo, raça, preconceito. Os cientistas existem para explorar a matéria, investigar a estrutura da terra, das estrelas e planetas, descobrir meios para curar os males do homem, propagar-lhe a vida, explicar o tempo, tanto o passado como o futuro. Porém, a mente cientifica e suas descobertas são usadas e exploradas pela mente nacionalista, quer seja da Índia, quer seja da Rússia, da América, etc. De seu turno, os estados e continentes soberanos utilizam e exploram as descobertas dos cientistas.

Há, também, a verdadeira mente religiosa, que não pertence a nenhum culto, nenhum grupo, nenhum religião, a nenhuma igreja instituída. A mentalidade religiosa não é a mentalidade hindu, a mentalidade cristã, a mentalidade budista, a muçulmana. A pessoa religiosa não pertence a nenhum grupo que se intitule religioso. Ela não frequenta igrejas, templos, mesquitas, nem se apega a determinadas crenças e dogmas. A mente religiosa é completamente só. Ela já compreendeu a falsidade das igrejas, dogmas, crenças, tradições. Não sendo nacionalista nem condicionada pelo ambiente, não tem horizonte nem limites. É explosiva, nova, fresca, são. A mente são, jovem, é extraordinariamente maleável, sutil, não tem âncora. Somente ela pode descobrir o que se chama "deus", o que é imensurável.

Só é verdadeiro o ser humano quando alia o espírito científico ao autêntico espírito religioso. Então, os homens criarão um mundo justo — não o mundo dos comunistas ou dos capitalistas, dos brâmanes ou dos católicos romanos. De fato, o verdadeiro brâmane é aquele que não pertence a nenhum credo religioso, nem tampouco a nenhuma classe, não é detentor de autoridade, e não mantém posição social. O genuíno brâmane é o novo ente humano, que tem simultaneamente a mentalidade científica e a mentalidade religiosa, sendo, portanto, harmônico, sem qualquer contradição interior. Para mim, o objetivo da educação é criar esta nova mentalidade, que é explosiva e não se adapta a nenhum padrão estabelecido pela sociedade.

A mente religiosa é criativa. Não lhe basta acabar com o passado, tem também de explodir no presente. Ela, diferentemente da que só interpreta os livros sagrados e a Bíblia, é capaz de investigar, bem como criar uma realidade explosiva. Ai não há interpretação nem dogma.

É sobremodo difícil alguém ser religioso e ter uma mente lúcida, objetiva, científica, intrépida, alheia à própria segurança, aos próprios temores. Não podemos ter uma mente religiosa sem a compreensão total de nós mesmos  nosso corpo, nosso espírito, nossas emoções; ignorando como trabalha, e também como o pensamento funciona. Para descobrir e superar tudo isso, torna-se indispensável encarar o problema com uma mente cientifica, que é objetiva, clara, sem preconceitos, que não condena, que observa, que vê. Com essa mentalidade, somos efetivamente um ser humano culto, um ser humano que conhece a compaixão. Tal ente humano sabe o que é estar vivo.

Como conseguir tudo isto? Pois urge ajudar o estudante a ter um espírito científico, a pensar com clareza, precisão, argúcia, assim como auxiliá-lo a descobrir as profundezas de sua mente, a ir além das palavras, dos diferentes rótulos de hindu, muçulmano, cristão. Será possível ensinar o estudante a ultrapassar os rótulos, a descobrir por si, a examinar aquela coisa imensurável, que nenhum livro contém, à qual nenhum guru tem acesso? Se um colégio como este propiciar essa educação, constituirá isso um feito grandioso. Vocês todos devem sentir como será importante criar-se tal escola. É sobre isto que os professores e eu vimos há dias debatendo. Temos conversado acerca de várias coisas — autoridade, disciplina, métodos de ensino, o que ensinar, o que é ouvir, o que significa educação, cultura, etc. Apenas prestar atenção à dança, ao canto, à aritmética, às aulas, não constitui o todo da vida. Também faz parte da vida a pessoa sentar-se tranquilamente e olhar para seu interior, ter clara percepção, ver. Cumpre também saber pensar, o que pensar e porque estamos pensando. Faz parte igualmente da vida olhar os pássaros, observar os aldeões, sua miséria — qual a contribuição de cada um de nós para essa situação, criada pela sociedade. Tudo isso concerne à educação.

Krishnamurti — Ensinar e aprender — ICK




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