A Vida sem Enredo
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A Vida sem Enredo




A propensão a sentirmos pena de nós mesmos, termos inveja, termos raiva – nossas reações emocionais tão familiares são como sementes que simplesmente continuamos a regar e nutrir. 

No entanto, cada vez que fazemos uma pausa e mantemos contato com a energia subjacente, paramos de reforçar essas propensões e começamos a nos abrir para possibilidades novas e refrescantes.

À medida que você for reagindo de modo diferente a um velho hábito, perceberá as mudanças. 


No passado, quando ficava irritado, você podia levar até três dias para se acalmar, mas, se continuar interrompendo os pensamentos raivosos, poderá chegar ao ponto em que levará apenas um dia para abandonar aquela raiva. 

Finalmente, apenas horas ou até um minuto e meio. Você está começando a se libertar do sofrimento.

É importante notar que interromper os pensamentos não é o mesmo que os reprimir. 


A repressão é uma negação do que está acontecendo e isso só enterra os pensamentos onde eles podem apodrecer. 

Ao mesmo tempo, não queremos ficar perseguindo os pensamentos e ser fisgados por eles. Interromper os pensamentos fica num ponto entre segurar-se neles e afastá-los. 

É um modo de permitir o ir e vir dos pensamentos, que surjam e passem, para não serem vistos como grande coisa.

Todo seu ser desejará fazer a coisa habitual, desejará seguir o enredo. 


O enredo está associado à certeza e ao conforto. Sustenta seu sentido muito limitado e estático de ser, além de oferecer a promessa de segurança e felicidade. 

Só que a promessa é falsa e qualquer felicidade que ele traga é apenas temporária. 

Quanto mais você praticar para não fugir para o mundo da fantasia de seus pensamentos e, ao invés, entrar em contato com a sensação de desenraizamento que tem, mais acostumado ficará a experimentar as emoções como simples sensações – livre de conceitos, livre do enredo, livre das ideias fixas de bom e mau.

Em vez de levar uma vida de resistência e tentando refutar nossa situação básica de impermanência e mudança, poderíamos entrar em contato com a essencial ambiguidade e acolhê-la. 


Não gostamos de pensar em nós mesmos como fixos e imutáveis, mas emocionalmente investimos nisso. 

Nós simplesmente não queremos o desconforto assustador, inquietante de nos sentirmos sem base, desenraizados. No entanto, não é necessário encerrar as atividades quando sentimos o desenraizamento em qualquer forma.

Em vez disso, podemos nos voltar para ela e dizer: “ É assim que a libertação da mente fixa se sente. Esta é a sensação da libertação do coração fechado. Esta é a sensação da bondade imparcial, irrestrita. Talvez eu fique curioso e veja se posso ir além da minha resistência e experimentar a bondade. ”


A jornada do despertar requer disciplina e coragem. 



A princípio, abandonar nossos pensamentos e emoções tipo nuvens é uma questão de hábito. Pensamentos e emoções podem nos dificultar o contato com a abertura de nossa mente, mas são como velhos amigos que nos acompanham desde quando nossa lembrança alcança e ficamos muito resistentes a nos despedir. 

Mas, cada vez que você começa a meditar, pode decidir que vai tentar abandonar os pensamentos e ficar bem ali com a instantaneidade de sua experiência. Talvez consiga ficar bem ali por apenas cinco segundos hoje, mas qualquer progresso em direção à não distração é positiva.


Acreditar no enredo – é algo profundamente arraigado em nós. Declaramos nossas opiniões como se fossem indiscutíveis.

O modo de enfraquecer o hábito de se agarrar as ideias fixas é mudar o foco para uma perspectiva mais ampla. Em vez de ficar preso ao drama, veja se consegue sentir a energia dinâmica dos pensamentos e emoções. 

Veja se consegue experimentar o espaço ao redor dos pensamentos: experimente o modo como eles surgem no espaço, permanecem por um tempinho e depois retornam ao espaço. 

Se você não reprime os pensamentos e emoções e não corre com eles, estará numa posição interessante. A posição de não rejeitar nem justificar fica bem no meio de lugar nenhum. 



É lá que você poderá finalmente abraçar o que está sentindo. É lá que você poderá ver o céu.

*A Vida sem enredo – Trecho do livro “A beleza da vida – a incerteza, a mudança, a felicidade” de Pema Chodron. 






Fonte:http://www.budavirtual.com.br/a-vida-sem-enredo-vivendo-plenamente-com-a-mudanca-e-a-incerteza-pema-chodron/




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