autoconhecimento
Diálogo sobre a inteligência criadora
Todos nós, de algum modo, estamos cativos do sofrimento, seja ele econômico, físico, psíquico ou espiritual. Compreender a causa do sofrimento e libertar-se dela é o nosso constante problema.
Para compreender a causa fundamental do sofrimento, não podemos dividir o homem em diferentes partes. O homem é indivisível, embora se manifeste sob muitos aspetos e tome múltiplas formas expressão, o que lhe dá grande complexidade. Há especialistas que estudam estas várias divisões e aspectos do homem e tentam descobrir, seguindo suas linhas especiais, a causa do sofrimento, porém não podemos deixar a compreensão de nós próprios a cargo de outrem. Precisamos entender-nos a nós mesmos como um todo e examinar nossos próprios desejos e atividades. Precisamos discernir o processo do “eu” que busca sempre perpetuar-se e manter-se separado mediante suas próprias atividades. Ao compreendermos profundamente esse processo, dar-se-á o despertar daquela inteligência que é a única que nos pode libertar da tristeza.
Esse processo do “eu” é a consciência, que é individualidade, a causa do sofrimento é a ignorância deste processo auto-ativo. Se não compreendermos esse processo que gera a tristeza, não pode haver inteligência. A inteligência não é um dom, mas pôde ser cultivada desperta por meio da vigilância da mente e da vida sem escolha. Portanto a ação pôde criar a tristeza ou destruir a ignorância com suas tendências e anseios, e a acabar com a tristeza.
Podeis verificar por vós mesmos, em vossa vida, como esse processo com seus temores, ilusões e fugas, diminui a inteligência criadora que é a única que pode, produzir o bem estar dos homens. A compreensão da realidade, da verdade, vem com a cessação da tristeza. Nossa consideração sobre o além, sobre a imortalidade, é uma persecução vã, pois á beatitude da realidade só pode ter lugar com a cessação da tristeza.
Para compreender o sofrimento, precisamos começar por nós mesmos e não pela “idéia” do sofrimento, que é apenas árida vacuidade do intelecto. Precisamos começar por nós mesmos, pelas angústias, misérias e conflitos que parecem não ter fim. A felicidade não é coisa que deva ser procurada, mas com a cessação da tristeza manifesta-se a inteligência, a beatitude da realidade.
Qual a fonte de onde derivam as nossas atividades diárias? Qual é a base de nosso pensamento moral e religioso? Se nos examinarmos profundamente, compreensivamente, veremos que muitas das nossas atividades e relações tem sua origem no medo e na ilusão. São resultado do anseio, da busca incessante de segurança e de conforto quer externos quer internos. Esta busca produziu uma civilização na qual cada individuo, sutil ou rudemente, luta para si mesmo, gerando por essa forma o ódio, a crueldade e a opressão. Este processo fomentou uma civilização de exploração, de guerras e de superstição religiosa organizada, resultados de uma falsa concepção de individualidade e do preenchimento. O conflito externo de raças e religiões, a divisão dos povos, as lutas econômicas, tem as suas raízes nas falsas idéias de cultura. Nossas vidas estão em contínuo conflito por causa do medo, da crença, da escolha e da submissão. Nosso ambiente estimula o processo de ignorância; e as nossas memórias e carências renovam e dão continuidade e individualidade à consciência.
Ao examinardes esse processo discernireis que o “eu” se está reformando por si mesmo a cada momento, pelas suas atividades volitivas baseadas na ignorância, na carência e no medo. Quando começardes a verificar que o “eu”, portanto, não é permanente, haverá mudança vital em nossa conduta e moral. Então não poderá haver subserviência, aquiescência, mas somente a ação da inteligência desperta que cria sempre novas condições sem ser por estas escravizada. Só esta inteligência pode produzir verdadeira cooperação sem frustração.
Cada um de vós deve tornar-se apercebido do processo da ignorância. Este percebimento não é o poder de uma compreensão superior dirigindo outra inferior, pois isto não passa de hábil artifício da mente, porém é aquela compreensão sem escolha, resultante da ação persistente, sem temor, nem carência. Desta percepção isenta de escolha, surge a verdadeira moral, as relações e a ação verdadeiras . A conduta então não é uma mera imitação de um modelo, de um ideal ou de uma disciplina, mas sim a resultante da verdadeira compreensão do processo do “eu. Este discernimento é inteligência desperta que, não sendo hierárquica ou pessoal, ajuda a criar uma nova cultura de preenchimento e cooperação.
Krishnamurti – 2ª palestra em Ommen, em 27 de julho de 1936
Do livro: Palestras em Ommen, Holanda, 1936 - ICK
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