Examinemos este ponto. Existe pensar pessoal e pensar coletivo? Ou tudo é pensamento coletivo, mas acontece que o “personalizamos”? Vós sois ingleses: isto é pensamento coletivo. Todos sois cristãos: isto é pensamento coletivo. Só há pensar individual quando um homem se liberta do “coletivo”, quando já não está confinado, limitado, condicionado. Assim, por certo, nós só somos indivíduos no sentido de haver um organismo separado de outro organismo, no sentido de haver um espaço, uma distância entre nós. Todo o nosso pensar não é coletivo? É uma ideia aterradora, esta, mas não é exato isto?
(…) Mas a questão é: existe pensar individual separado do coletivo? O que estou tentando dizer é isto: Sou educado como hinduísta, como cristão, como budista ou seja o que for, e creio em tudo o que a sociedade crê, sendo eu uma parte dela. Existe pensamento separado desse todo? Todo pensamento separado só pode ser uma reação, não é verdade? Posso libertar-me da estrutura do “coletivo” e me declarar separado, mas isso, em verdade, é apenas uma reação dentro daquela estrutura, não achais? Eu estou falando a respeito da rejeição total da estrutura. É isso possível? Se é possível, há então pensamento individual que não é mera reação ao “coletivo”.
Afinal, a morte é a libertação do “coletivo”. A morte é um libertar-se da estrutura em que existe pensar coletivo e reação a esse pensar coletivo, a qual chamamos “pensar individual”, mas que continua parte do “coletivo”. Morrer para tudo isso pode e deve ser algo completamente diferente, algo que se não pode medir em termos de “coletivo” ou em termos de “individual”, algo incognoscível, desconhecido. E eu digo que, se o conhecido não existe dentro do “desconhecido”, somos então meros escravos do conhecido e daí não há saída. O incognoscível só se torna possível quando morremos para o conhecido.
Krishnamurti — 21 de maio de 1961