Krishnamurti - Não há religar por meio da crença e conceitos - só acréscimo de conflitos.
autoconhecimento

Krishnamurti - Não há religar por meio da crença e conceitos - só acréscimo de conflitos.


As idéias puseram os homens uns contra os outros. A expansão do dogma não nos liberta do dogma. A crença está dividindo os homens. A divisão é a ênfase da crença, e constitui um bom meio de explorar os crédulos. Na crença vocês acham conforto, segurança — que são só ilusões. Sempre que há tendência para a separação, há de haver desintegração. Onde há a força aprisionante da crença, é inevitavelmente a desintegração. Vocês se chamam de hinduístas, muçulmanos, cristãos, teosofistas, e o que mais que seja, e com isso vocês se fecham. Suas idéias geram oposição, inimizade, antagonismo; do mesmo modo, as suas filosofias, por mais geniais, por mais idealistas ou divertidas que sejam. Assim como um homem tem paixão pela bebida, assim também vocês têm a paixão das suas crenças. Eis porque as religiões organizadas falharam no mundo inteiro. 
A verdadeira religião é o "experimentar", que nada tem a ver com a crença. É aquele estado mental que, no processo do autoconhecimento, descobre a verdade instante por instante. A verdade nunca é contínua, nunca é a mesma, é incomparável. A verdade é o singular; não é o símbolo de coisa alguma. A adoração de qualquer símbolo provoca desastres, e uma mente entregue à crença, qualquer que seja ela, nunca será uma mente religiosa. E só a mente religiosa, e não a mente ideológica, é capaz de resolver o problema. Citar palavras de outras pessoas não tem valor algum. A mente que cita, seja Platão, seja Buda, é incapaz de "sentir", a realidade. Para experimentar, sentir a realidade, a mente deve estar de todo desnuda; e a mente assim não é uma mente que busca.
Religião, pois, não é crença; religião não são cerimônias; religião não é uma idéia, nem várias idéias combinadas em ideologia. Religião é o "experimentar" a verdade do que é, momento por momento. A verdade não é um fim supremo — não há fim supremo para a verdade. A verdade se encontra no que é; está no presente, nunca é estática. A mente nublada pelo passado não pode em absoluto compreender a verdade. Todas as religiões, tal como são atualmente, dividem os homens. As crenças dessas religiões não são a verdade. A verdade não pode ser encontrada em nenhuma crença de reencarnação; a verdade só pode ser conhecida, quando há um findar, o findar que está implicado na morte. Suas crença em Deus não é religião, não é a verdade. Pouca diferença existe entre o crente e o descrente; tanto um como o outro estão condicionados pelo seu ambiente; eles produzem divisões no mundo, por meio de idéias, por meio de crenças. Por conseguinte, nem o crente nem o descrente podem experimentar a realidade.
Quando vocês vêem as coisas como são, sem preconceitos, sem louvor nem condenação, em relação direta com o que é, há ação. A mente, que é a estrutura de idéias e resíduo de todas as lembranças e pensamentos, nunca pode achar a realidade. A realidade tem de vir por si. Vocês só podem procurar uma cosia que conhecem; não podem procurar a realidade. Vejam a verdade que há nesta questão, vejam a beleza da mente que experimenta diretamente e que age, portanto, sem recompensa, nem punição. Mas a experiência não é a medida da verdade. O "eu" de vocês é pensamento, e pensamento é memória; experiência é memória transmudada em pensamento. Por conseguinte, a mente, em tais condições, pode "organizar" a palavra "verdade" e explorar os outros; mas é incapaz de experimentar a realidade. Só a mente que nenhuma idéia possui é incapaz de experimentar a realidade.
Um homem religioso é o verdadeiro revolucionário. O homem que age em conformidade com idéias, pode matar os outros. Na relação direta com o que é, há o experimentar, e a mente que se acha nesse estado não fabrica idéias. A mente que não tem nenhuma idéia, é sensível, capaz de ver o que é, de maneira direta, e capaz, portanto, de ação. Só essa ação é revolucionária.

Krishnamurti - Que estamos buscando - ICK
Conferência em Madrasta, 18 de dezembro de 1949   




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