Nascido em 1949 em Portsmouth (Reino Unido), Christopher Hitchens foi um jornalista, escritor e crítico literário britânico e americano.
Despontou para a mídia como um esquerdista ferrenho. De personalidade controversa, no começo dos anos 90, acabou por romper com suas convicções políticas, sendo taxado de neoconservador.
No entanto, Christopher Hitchens formava suas opiniões de acordo com sua própria consciência, e não para agradar à manada.
Manteve-se suficientemente fiel à própria consciência para abandonar a "consensão" da esquerda sem, no entanto, aderir a "consensão" da direita.
Ao mesmo tempo em que era capaz de defender o uso do poderio militar americano para derrubar ditaduras e de dizer que a independência dos EUA tinha sido a única revolução legítima da modernidade, ele também condenava os "métodos avançados de interrogatório" da CIA como tortura, elogiava o romance socialista de Upton Sinclair, The Jungle, e, claro, condenava de modo veemente a interferência da religião na vida pública.
Jornalista, correspondente de guerra e crítico literário, Hitchens ganhou reputação por suas respostas engenhosas, críticas mordazes a personalidades públicas e uma inteligência aguçada.
Colaborou em diversos periódicos de destaque mundial e escreveu quase duas dezenas de livros, dentre eles, Deus não é grande.
Em "Deus não é grande", fez uma crítica às principais religiões com seu ateísmo afiado. Ele argumentou que a religião era a fonte de toda a tirania e que muitas das perversidades no mundo haviam sido cometidas em nome da religião.
Ele escreveu ainda obras sobre Thomas Paine e George Orwell - e inúmeros artigos e colunas, sem nunca perder seu humor aguçado. Os alvos preferidos iam de Deus e Madre Teresa até Henry Kissinger.
Considerado um dos intelectuais mais polêmicos e influentes do cenário internacional nos últimos 30 anos, Hitchens se mudou para os Estados Unidos em 1981 e colaborou com as publicações mais prestigiadas nos dois lados do Atlântico: "Vanity Fair", "Slate", "The Nation", "The New York Review of Books", "The Times" e "National Geographic", entre outras.
Além de "Deus não é grande", Hitchens escreveu "Cartas a um jovem contestador", "A vitória de Orwell", "O julgamento de Kissinger" e "Amor, pobreza e guerra".
Era definido como : Inteligente sem ser pernóstico; bocudo e preciso; engraçado e encrenqueiro; impiedoso com os poderosos; impaciente com a burrice; destemido ao defender posições impopulares. Mais importante que tudo: escrevia bem pra "diabo".
O principal legado de Christopher Hitchens é, obviamente, sua obra. A prosa ao mesmo tempo elegante e contundente, a descocertante combinação do eufemismo irônico com a honestidade bruta, um equilíbrio que Hitchens sabia manter como ninguém, manobrando com eficiência entre os abismos da afetação irritante, de um lado, e o da mera grosseria, do outro.
Hitchens se definia como "antiteísta". Sua virulência contra todas as religiões, revelava um profundo respeito, não pelas ideias religiosas que ele tanto desprezava, mas pelas pessoas que mantinham (e mantêm) essas ideias. Ao atacá-las abertamente, ele se recusava a tratar os religiosos como crianças que precisam ser mimadas, ou como idiotas que requerem condescendência.
"O que pode ser afirmado sem provas também pode ser rejeitado sem provas." - Christopher Hitchens
Nascido na Inglaterra, vivia em Washington nos Estados Unidos. Uma parte dos antepassados de Christopher Hitchens são judeus, o que teria sido suficiente, segundo disse certa vez, para que o tivessem deportado para um campo de extermínio, caso as leis raciais de Nuremberga ainda vigorassem.
Filho de um oficial da Marinha britânica, Hitchens estudou na Universidade de Oxford e trabalhou como crítico literário para a revista New Statesman, em Londres, antes de se mudar para Nova York para trabalhar como jornalista em 1981.
Como comentarista político, Hitchens tornou-se conhecido escrevendo para publicações, tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos, ideologicamente vinculado à esquerda política.
A sua mudança de posicionamento começou em 1989 após o que ele chamou de "reação tépida" da esquerda política europeia em relação ao fatwa emitido por Ayatollah Khomeini que pedia o assassinato do escritor Salman Rushdie.
Os Ataques de 11 de Setembro de 2001 fortaleceram a sua adoção de uma posição favorável a política externa intervencionista, baseado nas suas fortes críticas do que ele chama de "fascismo com uma face Islâmica" ("fascism with an Islamic face").
A adoção de Hitchens de uma posição política favorável à política externa intervencionista, o emprego do termo "islamofascista" ("Islamofascist") e seu notável apoio à Guerra do Iraque fizeram com que seus críticos o rotulassem de "neoconservador".
Hitchens é frequentemente considerado um dos mais proeminentes expoentes do moderno ateísmo e é descrito como parte do movimento do "novo ateísmo".
Hitchens, juntamente com os ateístas Richard Dawkins, Sam Harris e Daniel Dennett, é frequentemente referido como um dos quatro "Cavaleiros do Ateísmo".
Ele é humanista e antiteísta, e descreve-se como um crente nos valores filosóficos do Iluminismo. Seu principal argumento é o de que o conceito de Deus ou de um ser Supremo é uma crença totalitária que destrói a liberdade individual, acreditando que a liberdade de expressão e a investigação científica deveriam substituir a religião como um meio de ensinar ética e definir a civilização humana.
O San Francisco Chronicle referiu-se a Hitchens como um crítico "persistentemente irritante com gosto" ("gadfly with gusto"). Em 2009 Hitchens foi listado pela Forbes como um dos 25 liberais mais influentes da mídia americana. O mesmo artigo disse que ele provavelmente ficaria horrorizado com a sua inclusão em tal lista, pois o seu estilo não combina com um mero rótulo de liberal.
“O cristianismo é um sistema totalitário. Se houvesse um deus, que pudesse fazer essas coisas, e exigir essas coisas, e que fosse eterno e imutável, nós estaríamos vivendo sob uma ditadura, sem direito de apelação.” – Christopher Hitchens
As últimas provocações de Christopher Hitchens
O que o último livro de Christopher Hitchens tem de breve tem também de intenso. São de fato suas últimas linhas, reunidas em menos de cem páginas.
Últimas Palavras é o relato que o jornalista, crítico literário e sobretudo polemista de talento britânico fez de sua trajetória por aquilo que chamou de “Tumorlândia”. Um espaço (ou não espaço) que ele habitou nos 18 meses entre a descoberta de um câncer no esôfago e a morte que dele resultaria, em dezembro de 2011. Durante esse tempo, Hitchens fez anotações sobre o progresso da doença, a quimioterapia, os aspectos políticos e científicos dos tratamentos pelos quais passava, como aqueles que envolvem embriões humanos combatidos pelos “maníacos religiosos”, como os chamava Hitchens. Últimas Palavras é, portanto, o retrato de um tempo vivido intensamente – porque com a plena consciência da finitude da vida.
Hitchens transformou suas impressões em sete textos, enviados à revista Vanity Fair. São esses textos, acompanhados de um último capítulo de anotações esparsas e interrompidas pela morte do autor, que formam sua obra de despedida. O estilo muito direto de Hitchens – frequentemente sarcástico e ácido – contrasta com o apelo dramático, por vezes trágico, da situação. Ele procura de todas as maneiras fugir ao sentimentalismo e à autocomiseração, falando de seu sofrimento sem transformá-lo em centro da sua argumentação.
Vê-se um homem que, mesmo diante da morte, se mantém lúcido, capaz de comentários de incrível sutileza e inteligência e de reflexões maduras sobre o mundo e o papel que desempenha nele. É impossível ler Últimas Palavras e não admirar esse derradeiro gesto de coragem intelectual.
No segundo capítulo, Hitchens volta a marcar posição num debate central em sua carreira de polemista: o ateísmo. Diante da morte, que parece ser a esfera de atuação por excelência da religião, ele reitera suas opiniões sobre o absurdo e a vacuidade de toda postura religiosa, vista por ele como uma desculpa para a omissão frente aos verdadeiros problemas da vida. Para os familiarizados com livros como Deus Não É Grande (Ediouro, 2007) ou Cartas a um Jovem Contestador (Companhia das Letras, 2006), essas frases não vão surpreender. O que é digno de nota, em Últimas Palavras, é justamente a firmeza de Hitchens, sua capacidade de sintetizar toda a sua trajetória nessas linhas finais: “A religião que trata seu rebanho como um brinquedinho crédulo oferece um dos espetáculos mais cruéis que podem ser imaginados: um ser humano com medo e dúvida que é explicitamente explorado para acreditar no impossível”.
Últimas Palavras, por outro lado, também permite conhecer um Hitchens oposto àquele das opiniões polêmicas e dos juízos combativos. Das páginas deste livro póstumo, emerge o lado terno do intelectual, que não poupa elogios à amizade, ao sentimento de camaradagem e, principalmente, àquilo que nomeia como um forte senso de responsabilidade com relação à família e às pessoas próximas. “O meu maior consolo neste ano vivendo moribundo tem sido a presença de amigos”, escreve.
A consciência do fim, em Últimas Palavras, se confunde com a própria consciência de si. “Eu não tenho um corpo, eu sou um corpo”, escreve Hitchens, resumindo em um poderoso aforismo toda a urgência que a doença, paradoxalmente, confere à materialidade de sua vida.
Por conta da especificidade de seu câncer, localizado no esôfago, um dos primeiros sinais de desenvolvimento da doença foi a perda da voz. E isso atinge Hitchens de forma bastante dura. Ele relembra, nos textos de Últimas Palavras, as posições que defendeu, os debates de que participou com sua voz grave, evocando também a “arte da conversação” que cultivou ao longo da vida. A voz, portanto, faz parte tanto da luta quanto do prazer – foi com ela que Hitchens fez seus amigos e seus inimigos, e é essa voz que segue ecoando em suas últimas palavras, que agora temos a chance de compartilhar e celebrar.
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