LUZES DO MUNDO - ÂNGELA DAVIS
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LUZES DO MUNDO - ÂNGELA DAVIS





ÂNGELA DAVIS - Símbolo da luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos oprimidos. 


Ângela Davis  foi uma das mais obstinadas combatentes em favor dos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos, durante a década de 70. 

Começou a sua militância política em 1969, quando era estudante universitária. Em 1970, Davis passou a fazer parte dos Panteras Negras, grupo político e social de combate ao racismo. Atualmente, ela é professora do Departamento de História da Universidade da Califórnia.




Angela Yvonne Davis filha de um mecânico e de uma professora de Artes, nasceu no dia 26 de janeiro de 1944, em Birmingham, no estado do Alabama, um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. 

A cidade de Birmingham, a maior do Alabama, onde Angela nasceu, era uma das  mais racistas da federação e foi palco de inúmeros conflitos raciais e ataques da Ku Klux Klan contra negros e negras. Foram tantos os atentados a bomba que a cidade passou a ser conhecida como “Bombingham”. O mais famoso foi contra uma igreja batista frequentada por afro-americanos, em 15 de setembro de 1963, que resultou na morte de quatro meninas, com idades entres 11 e 14 anos, e ferimentos em outras 20 pessoas. 

Desde pequena Ângela revelou um alto grau de inteligência. Mesmo em meio a essa realidade repleta de humilhações e perigos, aos 14 anos participou de um intercâmbio colegial que oferecia bolsas de estudo para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do país, que a levou para Nova Iorque, onde foi viver entre artistas e intelectuais do Greennwich Village. Ali, fascinou-se pelo comunismo e o socialismo teóricosendo recrutada para uma organização socialista de jovens estudantes.


Em 1960, foi até Frankfurt, Alemanha, onde ficou dois anos, sendo aluna dos reconhecidos professores Theodor Adoro e Oscar Negt. Depois, entre 1963 a 1964, ela foi privilegiada com aulas em Paris, na escola de Sorbonne, onde curso Literatura.

No retorno aos Estados Unidos, Davis ainda continuou estudando, entrando na conceituada Universidade Brandeis, estado de Massachusetts, para fazer Filosofia. Terminado o curso ela retornou a Alemanha para fazer pesquisa de mestrado que fazia na Universidade de Califórnia, em San Diego, conseguindo o feito em 1968.

Por influencia de um professor, Herbert Marcuse, Ângela filiou-se ao Partido Comunista dos Estados Unidos. Nessa época ainda existia a legenda, entretanto seus militantes eram perseguidos, devido ao clima da Guerra Fria com a União Soviética. 

O ano era 1969, e ela acabou sendo discriminada na universidade, que era controlada por anti-comunistas, sendo arbitrariamente proibida de ministrar aulas.

Foi nessa ocasião que revoltada, Angela tornou-se militante e participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade americana da época. Primeiro como filiada da SNCC (Comitê Conjunto de Não Violência dos Estudantes) de Stokely Carmichael.




Depois se tornou simpatizante do grupo político e social de combate ao racismo, Panteras Negras. O grupo foi uma opção atraente para ela, pois não tinha uma abordagem machista junto as militantes, diferente de outras organizações afro-americanas. Além disso, os Blacks Panthers, tinha uma ideologia de esquerda, a mesma que a dela.


"De vários modos, continuamos a experimentar, no século 21, um racismo muito mais perigoso do que o racismo institucional do passado. Trata-se de um racismo que está arraigado nas estruturas."  - Ângela Davis 


Na década de 70 os Panteras Negras estavam se tornando um grupo muito forte e ramificado nos Estados Unidos. Principalmente na sua postura contra a violência policial, defendendo pessoas negras de policiais racistas e outros grupos armados. 

Pressionados por setores conversadores e pelo então governador Ronald Reagan, a Assembléia Legislativa da Califórnia, discutia em agosto de 1970 a aprovação da lei Mulford – – que proibia o porte de armas dos cidadãos nas ruas. O projeto era direcionado sob medida para desarmar os Panteras Negras.



Foi nessa ocasião, que o nome de Angela foi vinculado a um dos episódio mais sangrentos da luta contra o racismo: a invasão de três Panteras Negras ao Palácio da Justiça do Condado de Marin, em São Francisco, quando fizeram reféns um juiz, um promotor e alguns jurados. 

Jonathan Jackson  invadiu a sala do tribunal e tentou libertar réus que estavam sendo julgados para transformá-los em reféns, na esperança de poder trocá-los por seu irmão George, um militante radical negro preso na prisão de San Quentin.

No tiroteio que se seguiu, já com a participação da polícia, Jackson foi morto, assim como o juiz da Corte Superior Harold Haley e mais dois réus.


Davis, líder da causa dos prisioneiros negros e amiga de George Jackson, foi indiciada pelo crime, mas permaneceu escondida. 

Foragida da Justiça, na qual evidentemente não confiava, Angela Davis chegou a integrar, aos 24 anos, a lista dos 10 foragidos mais procurados do FBI, sendo alvo de uma das mais intensas caçadas humanas.  

Em outubro de 1970, ela foi presa por dez agentes de FBI quando entrava num hotel de Manhattan, usando peruca e sem portar armas, depois de dois meses de perseguição.



Aproximadamente 30 minutos após sua prisão em Nova Iorque, uma multidão de 300 pessoas, já se aglomerava diante da Casa de Detenção Feminina, pressionando as autoridades por sua liberdade. Dentro da cela, as outras mulheres lá detidas, também se manifestaram em apoio a ela, numa atitude que assustou inclusive o FBI, devido a popularidade.

"Eu fui pega pelo FBI, levada para uma prisão em Nova Iorque, fiquei incomunicável, eu não podia falar com ninguém. Eles me deixaram numa parte da prisão reservada para os presos com problemas psiquatricos. E eu me deitei lá e me senti totalmente sozinha. E, de repente, eu ouvi vozes distantes, eu tentei ouvir o que diziam e eu percebi que eles diziam "Free Angela Davis" ("libertem Angela Davis"). Eram as pessoas que estavam lá fora da cadeia, tarde da noite, que estavam mesmo antes da campanha pela minha libertação ser organizada, que vieram e me fizeram sentir que eu não estava só".



Não lhe faltou apoio em todos os setores sociais, em especial no mundo artístico. No banco dos réus estava uma jovem negra, linda, culta, de discurso brilhante. Imediatamente foi criado um Movimento Internacional pela Libertação de Ângela Davis e outros líderes dos Black Panthers. 

A campanha contou com o apoio de várias personalidades e intelectuais como Jean Paul Sartre e Jean Genet e inclusive o famoso maestro Leonard Bernstein, que fazia apresentações com a finalidade de arrecadar fundos para financiar o pagamento dos advogados dos acusados. 

John Lennon e Yoko Ono a homenagearam com a canção intitulada “Angela”, e os Rolling Stones cantaram sua história e exigiram sua libertação, com o rock’n’roll Sweet Black Angel”. Os crimes dos quais foi acusada ficaram em segundo plano, ante os debates sobre as questões raciais naquele país. 

“Todas as vitórias que obtivemos nos convidam para repensar e reconsiderar as possíveis vitórias futuras. Nada está escrito na pedra. O que é progressivo em determinado momento, pode ser extremamente retrógrado em outro momento da história” - Ângela Davis.



O julgamento atraiu atenção internacional em virtude da debilidade das acusações contra Davis e pela evidente natureza política do processo.  Foi o centro dos noticiários da mídia norte-americana por 18 meses.

Seu julgamento foi um dos maiores emocionantes dos Estados Unidos,  mas Ângela acabou por ser absolvida (mesmo com um júri composto inteiramente por brancos, sendo sete homens e apenas duas mulheres),  diante da falta de provas do FBI, em junho de 1972. Apesar da pressão que fez contra ela o então governador da Califórnia, Ronald Reagan, o qual, em 1969, conseguira expulsá-la da Universidade da Califórnia (UCLA). 

A professora passou a atuar, entre 1975 a 1977, como conferencista de estudos Afro-americanos no Colégio de Claremont, especializando-se em Gênero e Etnia na Universidade de San Francisco. 




Em 1979, visitou a União Soviética onde recebeu o Premio Lênin da Paz e títulos da Universidade Estatal de Moscou. No período de 1980 a 1984, Davis candidatou-se a vice-presidência do Partido Comunista. Sua figura transformou-se em símbolo de justiça.

Atualmente, Ângela é professora do Departamento de História da Universidade da Califórnia, a mesma que a lhe negara a chance no passado. Continua sua militância política de combate ao racismo e na defesa dos direitos das mulheres. Já este no Brasil por diversas vezes, convidada por organizações-não-governamentais de mulheres negras.



“Não posso falar com autoridade no Brasil, mas às vezes não é preciso ser especialista para perceber que alguma coisa está errada em um país cuja maioria é negra e a representação é majoritariamente branca”. Ângela Davis

Além disso, a filosofa Davi, é escritora dos livros: Women, Race and Class (Mulheres, Classe e Raça) – sobre o movimento feminista; If They Come in The Morning: Voice Of Resistence (Quando Vier o Amanhecer: Vozes da Resistência) – que traz uma análise marxista da opressão racial dos Estados Unidos e o ultimo é Blues Legacies And Black Feminism (O legado do Blues e o Feminismo Negro) – que retrata a contribuição das mulheres negras do inicio do século 20 para o feminismo, principalmente através de cantoras como Billie Holiday e Bessie Smith.

Embora não seja mais membro do Partido Comunista, Davis segue sendo uma ativista política de esquerda, manifestando-se, particularmente, em palestras e debates contra a pena de morte.  



Nos últimos tempos, tem se dedicado ao estudo dos problemas ligados aos sistemas prisionais. Também aí, propõe uma revolução. Sem nunca perder o viés racial, já que a esmagadora maioria dos prisioneiros americanos é negra, se refere ao sistema carcerário como uma "indústria".

Ainda hoje, Ângela é um símbolo da luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos oprimidos. 





Vídeo: Angela Davis debate questões raciais



Vídeo: Angela Davis - Abertura do Fórum Internacional 20 de novembro 2012







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