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LUZES DO MUNDO - IVAN ILLICH
Ivan Illich - Por uma Sociedade sem Escolas
Ivan Illich foi um pensador e polímata austríaco. Foi autor de uma série de críticas às instituições da cultura moderna. Pensador da ecologia política foi também uma figura importante da crítica da sociedade industrial.
Ivan Illich como um um ex-padre que tinha umas idéias bem interessantes (e radicais) sobre diversas áreas como educação, desenvolvimento tecnológico e econômico, fontes de energia, transportes, ecologia, medicina, trabalho...
Ele era, antes de tudo, um pensador que se situava em um contexto histórico particular, o dos anos 60 do século XX – período caracterizado por uma crítica radical da ordem capitalista e de suas instituições sociais, notadamente da escola.
Era, também, uma personalidade complexa. Dizia-se, à época, que Ivan Illich era um homem inteligente, que gostava de se cercar de gente inteligente e que lhe era difícil dissimular seu desprezo pelas pessoas que considerava estúpidas.
Ele podia tanto se mostrar extremamente cordial, quanto levar ao ridículo, brutalmente, aqueles que o interpelavam. Trabalhador incansável, poliglota, cosmopolita, professava ideias, fosse sobre a Igreja e sua evolução, sobre a cultura e a educação, sobre a medicina ou sobre os transportes nas sociedades modernas, que suscitavam controvérsias, que acabavam por fazer dele uma das figuras mais emblemáticas da época.
Seus escritos explosivos foram atacados tanto pela esquerda quanto pela direita. Criticava abertamente os malefícios da institucionalização, monopólios, commoditização e profissionalização de áreas chaves da sobrevivência humana. Desdobrou também a idéia da contraprodutividade - na qual uma instituição estimula o oposto do seu propósito.
Entretanto, era o próprio Illich que provocava, em parte, a polêmica, por sua personalidade, seu Estilo, seus métodos de trabalho, ou pelo radicalismo de suas ideias.
Para os especialistas da educação, Ivan Illich é o pai da educação sem escola, o autor que condena, imperdoavelmente, o sistema escolar, considerado, por ele, como uma das múltiplas instituições públicas que exercem funções anacrônicas, que não se adaptam à celeridade das transformações e que não servem senão à estabilização e à proteção da estrutura social que as produz.
Ivan Illich nasceu em Viena no ano de 1926.Filho de pai jugoslavo e mãe com ascendência judia, teve de abandonar a Áustria quando tinha cinco anos. A família mudou-se para Roma, onde Illich completou os seus estudos: física (Florença), filosofia e teologia (Roma) e doutoramento em História (Salzburgo).
Entre 1936 e 1941 viveu a maior parte do tempo com seu avô materno em Viena. Estudou histologia e cristalografia na universidade de Florença.
Entre 1932 e 1946 estudou teologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana do Vaticano, e trabalhou como padre em Nova Iorque.
Durante a infância e juventude conviveu com o círculo de nobres russos que se refugiaram na capital italiana depois de terem saído do seu país aquando da revolução comunista de 1917.
Foi também em Roma que Illich entrou para o seminário (1951), onde teve como colegas muitos dos futuros diplomatas do Vaticano e onde se ordenou sacerdote.
O Cardeal Spellman, arcebispo de Nova Iorque, convidou-o para seu auxiliar. Por ser fluente em dez línguas, Illich tornou-se intérprete do Cardeal e teve como função preparar sacerdotes e religiosas para a comunidade hispano-americana.
Nos anos 60 mudou-se para o México onde criou o Centro Intercultural de Formação (CIF), com o objectivo de sensibilizar missionários para trabalhar na América Latina.
Na década de 70 foi co-fundador do Centro de Informação e Documentação (CIDOC), espécie de universidade aberta, especialmente voltada para os problemas da educação e independência cultural do Terceiro Mundo, sobretudo da América Latina.
Depois de 10 anos, as posturas do CIDOC entraram em conflito com o Vaticano, e em 1976 o centro foi fechado com o consentimento daqueles que dele faziam parte.
A notoriedade de Illich, que remonta a esse período, está ligada, de início, à crítica que ele fazia à Igreja institucional, definida por ele como uma grande empresa que forma e emprega profissionais da fé para assegurar sua própria reprodução.
Ele extrapolou, em seguida, essa visão, aplicando-a à instituição escolar e desenvolveu a crítica que devia conduzi-lo, durante alguns anos, a trabalhar sobre a proposição da sociedade sem escolas. Suas opiniões sobre a desburocratização da Igreja no futuro e sobre a desescolarização da sociedade fizeram do Cidoc, rapidamente, um lugar de controvérsias religiosas, o que explica porque Illich secularizou o centro, em 1968, e abandonou o sacerdócio, em 1969.
A partir de 1980, dividiu o seu tempo entre o México, os Estados Unidos e a Alemanha. Nos últimos anos de sua vida, Illich foi professor convidado de filosofia, de ciência, tecnologia e sociedade no estado da Pensilvânia, sendo também docente na Universidade de Bremen.
Seus últimos anos foram marcados pela luta contra um câncer na face que o levou à morte em 2002. Seguindo sua crítica à medicina tradicional utilizou tratamentos alternativos para enfrentar o câncer, que batizou de "Minha mortalidade".
Seu livro mais famoso é Sociedade sem Escolas (1971), uma crítica à institucionalização da educação nas sociedades contemporâneas. Através de exemplos sobre a natureza ineficaz da educação institucionalizada, Illich se mostrava favorável à auto-aprendizagem, apoiada em relações sociais intencionais, e numa intencionalidade fluida e informal:
"A educação universal por meio da escolaridade não é possível. Nem seria mais exequível se se tentasse mediante instituições alternativas criadas segundo o estilo das escolas atuais.
Nem novas atitudes dos professores para com os seus alunos, nem a proliferação de novas ferramentas e métodos físicos ou mentais (nas salas de aula ou nos dormitórios), nem mesmo a intenção de aumentar a responsabilidade dos pedagogos até ao ponto de incluir a vida completa dos seus alunos, teria como resultado a educação universal.
A busca atual de novos canais educativos deverá ser transformada na procura do seu oposto institucional: redes educativas que aumentem a oportunidade de cada um transformar cada momento da sua vida num outro de aprendizagem, de partilha e de interesse. Acreditamos estar a contribuir trazendo os conceitos necessários a quem realiza tais investigações sobre as grandes linhas na educação – e também para quem procura alternativas para outros tipos estabelecidos de serviços."
As últimas frases deixam claro o que o título do livro sugere, que a institucionalização da educação marca uma tendência de institucionalização da sociedade, e as idéias de desinstituicionalização da educação poderiam ser um ponto de partida para a desinstitucionalização da sociedade.
Como pensador holístico, de inteligência formidável e erudição católica ampla, Illich sempre propôs as suas análises nos termos mais amplos possíveis.
Em Educação sem Escola, Ivan Illich faz uma análise crítica das instituições educativas atuais e das suas características e propõe a criação de um sistema alternativo que rebata a figura da escola na de uma aprendizagem não enquadrada institucionalmente.
Segundo Illich, o atual sistema educativo converteu-se num sistema burocrático, hierarquizado e manipulador, tendo como função primordial a reprodução e o controle das relações econômicas.
“Por toda a parte, o aluno é levado a acreditar que só um aumento de produção é capaz de conduzir a uma vida melhor. Deste modo se instala o hábito do consumo dos bens e dos serviços, que nega a expressão individual, que aliena, que leva a reconhecer as classes e as hierarquias impostas pelas instituições”
"Os alunos estão sujeitos a currículos extensos e repetitivos, dados de forma demasiado rápida e superficial. Os professores, já habituados a esta rotina, não dão a possibilidade de aprofundar um ou outro tema que mais interesse os alunos, nem são capazes de atender às necessidades específicas de cada aluno. A escola passa assim a ser um local de desigualdades e de conflitos, uma vez que alguns se adaptarão melhor do que outros."
Segundo Illich, o fato de a escolaridade ser obrigatória só agrava a situação. Aqueles que não conseguem se adaptar aos temas curriculares obrigatórios e aos métodos de ensino vigentes, arrastam-se durante anos na escola, nada aprendem de válido, perdem a sua auto-estima.
Quando finalmente deixam a escola, os alunos não estão preparados para ingressar no mundo do trabalho. Assim, deparamo-nos com jovens desanimados e desapontados, sem grandes perspectivas de futuro. Caso os alunos decidam abandonar a escola antes de terminarem a escolaridade obrigatória, deparam-se com problemas ainda mais graves, porque se, com a escolaridade mínima ainda têm a possibilidade de arranjar emprego mesmo sem formação específica, sem certificação escolar, ainda que mínima, o emprego torna-se quase impossível, ou então, sujeitam-se a empregos menos bons e mal remunerados.
Illich defende que, apesar de muitas pessoas terem já consciência da ineficácia e da injustiça patentes no sistema educativo moderno, não são ainda capazes de imaginar alternativas nem de conceber uma sociedade descolarizada.
Daí que se torna necessário "criar entre o homem e aquilo que o rodeia, novas relações que sejam fontes de educação, modificando simultaneamente as nossas reações, a ideia que fazemos do desenvolvimento, os utensílios necessários para a educação e o estilo da vida quotidiana"
O livro é mais do que apenas uma crítica, contém propostas para reinventar toda a aprendizagem em várias instâncias da sociedade e também na esfera individual.
Possui destaque a sua proposta, feita em 1971, de criar as "redes de aprendizagem" apoiadas em tecnologias avançadas. Muitas das características das "redes de aprendizagem" recordam o uso da internet em geral e em particular o trabalho e idéias da própria Wikipedia.
Ivan Illich é um crítico feroz das instituições existentes. Se é certo que o aparecimento das instituições se deve às necessidades da própria sociedade, a verdade é que a sua criação origina problemas e novas necessidades a que a sociedade responde com a criação de mais instituições.
A solução que Ivan Illich propõe passa pala inversão das instituições. Assim, as atuais instituições deveriam desaparecer e, em seu lugar, ser criados órgãos que estivessem radicalmente à serviço de cada indivíduo. Illich exemplifica detalhadamente este processo no que diz respeito à escolaridade onde propõe uma verdadeira revolução. Na verdade, ao propor a criação de novas instituições que permitam a qualquer pessoa adquirir os conhecimentos desejados, ao seu próprio ritmo, ao considerar que qualquer pessoa pode aprender e ensinar, que a aprendizagem pode ser efetuada em qualquer local e incluir todos os tipos de competências profissionais, preconiza uma transformação absoluta, ou mesmo extinção, da Escola tal como ela se tem configurado.
O que é curioso é que, apesar de as teses de Illich relativamente ao sistema educativo poderem ser consideradas radicais ou pouco realistas, muitas delas encontram-se hoje parcialmente concretizadas, pelo que é de reconhecer neste autor um certo carácter visionário.
Com efeito, a internet, de uso cada vez mais frequente e tida como indispensável nos dias de hoje, assemelha-se em muitos aspectos às redes de informação e comunicação propostas por Illich, já que permite ao indivíduo o livre acesso a toda a informação que pretenda adquirir sobre os mais variados assuntos, bem como o contacto entre pessoas de diferentes pontos geográficos que partilhem determinado interesse.
De igual modo, o recente reconhecimento da importância das escolas profissionais e politécnicas e a valorização dos cursos profissionalizantes, vêm de encontro ao ensino de carácter mais prático e profissionalizante defendido por Illich.
Não obstante, a nossa sociedade continua, de uma forma geral, assente na instituição Escola que, de algum modo, alicerça a estrutura e a estabilidade econômica e social do mundo atual. Esta escolarização profunda situa-nos longe do grito de libertação preconizado por Illich.
A obra de Ivan Illich compreende numerosos temas da relação entre o indivíduo, a sociedade com a ciência e a técnica.
Uma boa amostra são as citações:
"Não há movimento de verdadeira libertação que não reconheça a necessidade de adotar uma tecnologia de baixo consumo energético."
"Diga-me a que velocidade se move e te direi quem és? Se não pode contar com seus próprios pés para se locomover, é um marginal, porque o veículo se converteu em símbolo da segmentação social e em condição para a participação da vida social. Ao conseguir propiciar aos motoristas a quebra de uma nova barreira de velocidade a indústria do transporte está patrocinando, inevitavelmente, novos privilégios para uma minoria e agonia para a maioria."
"Chegou a hora de tirar das mãos do médico a seringa, como se tirou a pena das dos escritores durante a Reforma. A maioria das doenças que temos hoje em dia podem ser diagnosticadas e tratadas por pessoas comuns. Para a maioria essa declaração é muito difícil de ser aceita, porque a complexidade do ritual médico lhes ocultou a simplicidade de seus próprios instrumentos básicos..."
"A escola parece estar destinada a ser a igreja universal de nossa cultura em decadência..."
"A escola é um rito iniciático que introduz o neófito à carreira sagrada do consumo progressivo..."
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ivan_Illich
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/illich/
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