LUZES DO MUNDO - LEYMAH GBOWEE
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LUZES DO MUNDO - LEYMAH GBOWEE





Leymah Gbowee é uma militante pacifista que juntamente com as mulheres da Libéria, organizou um movimento pacífico que conseguiu pôr fim a uma guerra civil que matou mais de 250 mil pessoas em 14 anos. 


Leymah Gbowee nasceu na zona central da Libéria. Aos 17 anos mudou-se para Monróvia, a capital, quando a Segunda Guerra Civil rebentou. 

Formou-se como terapeuta durante a guerra civil e trabalhou com crianças que foram meninos-soldados do exército de Charles Taylor.


Durante a guerra e como assistente social, Leymah Gbowee conviveu diariamente com as crianças soldados e percebeu que "a única maneira de mudar as coisas, do mal para o bem, era que nós, mulheres e mães dessas crianças, nos levantássemos e avançássemos pelo bom caminho", declarou esta mulher, hoje mãe de seis filhos, instalada desde 2005 em Gana.


Contra os demônios da guerra, Leymah Gbowee chamou as mulheres a orar pela paz, sem distinção de religião e frequentemente vestidas de branco. O movimento foi crescendo durante o conflito, até culminar em uma greve de sexo, obrigando o regime de Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz.


Charles Taylor protagonizou alguns dos episódios mais conturbados da história do país. Em dezembro de 1989, depois de iniciar uma rebelião contra o então presidente liberiano Samuel Doe, ele tomou o controle de quase todo o território em poucos meses. Tornou-se presidente em 1997. 



Em dezembro de 1989, depois de iniciar uma rebelião contra o presidente liberiano Samuel Doe, Charles Taylor se apoderou em poucos meses da quase totalidade do país e tornou-se presidente em 1997. 

O presidente Charles Taylor chegou ao poder após uma revolução sangrenta que ocorreu no período de 1980 até 1995. Logo após sua eleição, Taylor começou a apoiar matanças étnicas e peculato. 

Isso levou a um novo conflito no país, a Segunda Guerra Civil da Libéria, que começou em 1999 e foi caracterizada por sua brutalidade e o uso de crianças como soldados.

Nascida na região central da Libéria em 1972, Leymah rapidamente se tornou envolvida na violência que se alastrou e destruiu o país, quando grupos armados tomaram o poder e nele permaneceram até 2003, deixando um saldo de 250 mil mortos e 50% da população feminina vítima de estupro.

Gbowee e sua família foram forçadas a percorrer o país, testemunhando o que ela chama de ponto de virada. "Passei de criança a adulta em poucas horas". 




No final dos anos 1990, matriculada na faculdade de assistência social, Gbowee iniciou um trabalhado voluntário focado na reabilitação de crianças-soldado, que seria embrião do seu ativismo. 

"Uma noite sonhei com uma voz que me dizia para reunir mulheres, pois, juntas, iríamos acabar com a guerra. Acordei, corri para a igreja e contei ao pastor. Ele disse: 'O sonho é seu, você deve honrá-lo'".

Ela recebeu treinamento para ser conselheira de trauma para meninas e mulheres estupradas por milícias, também trabalhando na conturbada República Democrática do Congo. 

Ela conheceu um grupo de mulheres que haviam sofrido diversos tipos de abusos. “Comecei a perceber que que há uma sensação boa toda vez que eu me comprometia com pessoas em situações parecidas com a minha”

Foi então que surgiu o sentimento de que precisava “fazer algo significativo”. Ao conhecer as mulheres que, apesar de terem sofrido todos os tipos de violência, ainda acreditavam que eram a esperança do país, Leymah percebeu: “Se aquelas mulheres que haviam sido tão abusadas pensavam que nós poderíamos mudar o país, quem era eu para pensar que não?”


Ela então começou o que chama de “processo de cura pessoal”. Contou às suas companheiras sua própria trajetória de sofrimentos, violência doméstica e dificuldades financeiras. 

“E então eu percebi que estava em uma jornada de cura pessoal. Eu precisava completar aquela cura. Eu precisava encontrar meu ex-marido abusivo, e dizer a ele ‘eu te perdoo. Porque eu vi a luz e eu sei o que a raiva faz. Você pode ir em paz e eu irei em paz’. Eu precisava fazer as pazes comigo mesma. Quando isso estava completo, eu pude trabalhar com minhas irmãs para mudar a minha nação”, descreve.

Foi então que elas começaram o movimento pacífico de protestar em um local central da capital Monróvia, por onde o presidente Charles Taylor passava duas vezes ao dia. 



Em 2002, Leymah organizou o movimento Women of Liberia Mass Action for Peace. Embora o conflito na Libéria não tivesse causas diretamente ligadas à religião, Gbowee percebeu que havia tensões entre cristãos e muçulmanos, e trabalhou com mulheres de várias religiões para buscar entendimentos. 

Gbowee mobilizou centenas de liberianas para pôr fim ao conflito. Vestidas de branco, rezaram, fizeram greve de fome e sexo, ocuparam as ruas e arriscaram suas vidas em protestos na capital, para apressar a saída do ditador Charles Taylor. 

A ação de Leymah ficou mundialmente famosa por  conta da "greve de sexo" que liderou.

Lançada em 2002, essa iniciativa original levou as liberianas de todas as confissões religiosas a negar sexo aos homens até que cessassem os combates, o que obrigou Charles Taylor, ex-chefe de guerra convertido em presidente, a associá-las às negociações de paz.



“Nós fizemos isso por 3 anos e meio. Nós conseguimos conquistar a paz”, afirma. Para ela, a violência e o ódio nunca são as formas de conseguir o que se deseja. “Não há como criar mudanças se você tem ódio em seu coração. Todos os dias eu lembro a mim mesma de não odiar. Se você me ofendeu, e eu estou magoada, eu vou até você e dizer ‘mesmo que você tenha me machucado, eu vou deixar para lá. Para isso é necessário muita força e muita coragem. Odiar é fácil. Eu não odiarei ninguém”.

Depois da pressão feminina e condenação internacional, o presidente brutal finalmente voou para a região neutra de Gana para as negociações de paz. As mulheres o seguiram até lá para continuar os seus esforços. 

A violência terminou em 2003; enfrentando uma revolta armada, Taylor viu-se obrigado a deixar o poder , sob a pressão da rebelião e da comunidade internacional.  Taylor foi forçado a renunciar e preso por Haia por crimes contra a humanidade.

A mobilização foi importante em forçar o regime de Charles Taylor a negociar a paz com rebeldes, nos esforços subsequentes de desmilitarização do país e na própria eleição de Sirleaf. Leymah Gbowee se tornou depois a cabeça da Comissão da Verdade e Reconciliação da Libéria.

Eleições democráticas em 2005 levaram ao poder Ellen Johnson Sirleaf, eleita pelo povo como a primeira mulher chefe de Estado em um país africano.



Leymah narra sua história numa autobiografia. No livro, ela diz que sua luta foi uma guerra diferente. "Trata-se de um exército de mulheres vestidas de branco, que se ergueram quando ninguém queria fazê-lo, sem medo, porque as piores coisas imagináveis já haviam ocorrido conosco", escreveu.

Leymah diz que "A força moral, a perseverança e a valentia" das mulheres liberianas conseguiram "levantar as vozes do país contra a guerra e restabelecer o sentido comum na Libéria". 

"Nada deveria levar as pessoas a fazerem o que fizeram com as crianças da Libéria, drogadas, armadas, convertidas em máquinas de morte", explicou em um documentário - "Pray the Devil back to Hell" (Reze para o Diabo voltar ao inferno) - sobre a luta das liberianas pela paz.



Leymah Gbowee, que fundou e dirige várias organizações de mulheres, participou da Comissão Verdade e Reconciliação. Um percurso inesperado para quem reconhece ter sido uma criança doente - rubéola, malária, cólera - que "frequentemente desejou estar saudável".

Autora de Guerreiras da Paz, editado pela Companhia das letras em 2012 é, também, a personagem principal do documentário Pray the Devil Back to Hell, que retrata sua vida e luta contra as milícias na África.

Ativista com diversos prêmios recebidos por trabalhos humanitários, sobretudo em relação aos direitos das mulheres, Gbowee é desde 2006 a diretora-executiva da Rede Paz e Segurança - África, uma organização que trabalha com mulheres na Libéria, Costa do Marfim, Nigéria e Serra Leoa para gerar transformações positivas através do ativismo pela paz, educação e política eleitoral.




Em 2011, ganhou o Nobel da Paz, prêmio que dividiu com a atual presidenta da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e com a iemenita Tawakkul Karman. 

Em 2012, ela fundou a Gbowee Peace Foundation Africa, organização filantrópica criada para conceder bolsas de estudo internacionais para estudantes liberianos. Tudo isso, segundo ela, sem desligar-se da vigília pela paz.


“Embora a Libéria tenha feito muitos progressos e não tenha havido guerras na última década, os mesmos fatores que levaram à violência estão presentes”, afirma. “Temos agora uma geração de jovens que não conhece o horror da guerra. Eles estão esperançosos em relação às promessas do governo, mas o otimismo tímido da juventude pode rapidamente azedar.”

Leymah Gbowee sobre o Ebola na Libéria:



"O Ebola ameaça destruir uma década de paz. 

A propagação do vírus na Libéria irá desfazer o nosso progresso no pós-guerra, a menos que encontremos os fundos para combatê-la.

No ano passado, a Libéria celebrou o 10º aniversário do fim de uma guerra civil longa e sangrenta. Diante deste marco, nós estávamos orgulhosos e otimistas sobre o futuro. Metade de uma geração de crianças não têm memória da guerra. As empresas têm crescido, os alunos frequentam as escolas, e muitos compatriotas voltaram para casa.

Mas agora estamos diante de um novo inimigo. A Libéria está lutando contra uma epidemia que ameaça destruir todo o nosso progresso. O surto de Ebola fechou todas as escolas. Hospitais estão sobrecarregados, e duas companhias aéreas pararam de voos para o país. 



Quando a guerra estava aqui, você podia ver os soldados chegando, você podia ver as balas voando. Você podia correr e se proteger. Mas agora, não há nenhuma maneira de saber onde o Ebola está ou quem ele vai atingir.

Ebola está ressuscitando velhos traumas para os liberianos que sobreviveram à guerra. Aqueles com os passaportes corretos são capazes de sair. Aqueles com recursos podem comprar sabão e equipamentos de proteção para manter a segurança. 

Mas as pessoas não podem conduzir seus negócios como de costume. As crianças já não frequentam as aulas, e muitos estão fechadas dentro de suas casas. Minhas irmãs corajosas, que protestaram junto comigo contra a guerra civil, estão de volta. Vestidas com camisetas brancas, elas se reúnem para rezar por um indulto e oferecer água aos transeuntes, para simplesmente lavar as mãos.

Nossos profissionais de saúde não possuem os materiais necessários, como luvas, máscaras e água sanitária para manter as normas básicas de higiene. 

As pessoas precisam de fundos diretos para cuidar de suas famílias, enquanto o governo luta para criar uma rede de saúde coesa onde não existia antes. 

O surto vai acabar quando as pessoas entenderem a doença e adotarem práticas sanitárias e de segurança, para alimentar e cuidar uns dos outros. 

Minha fundação organizou duas sessões de informação, junto com um funcionário do Ministério da Saúde, para grupos comunitários de toda a Libéria, para distribuir cartazes com instrução de prevenção e doação de fundos. Alguns grupos dirigiram até oito horas para receber  o material. 


Esta epidemia está reescrevendo como cuidamos de um outro. Mas também temos de dotar as comunidades com os recursos de que necessitam. 

A lenta resposta de nosso governo ajudou a propagação do Ebola. O objetivo da Cúpula de Líderes EUA-África é garantir recursos de desenvolvimento para os governos. Vamos também fornecer recursos para as pessoas que são mais vulneráveis ​​ao Ebola. A Libéria tem muito mais para dar ao mundo."









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